terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Gosto muito de Adília Lopes

A Bela Acordada

Era uma vez uma mulher que tão depressa era feia era bonita, as pessoas diziam-lhe:
- Eu amo-te.
E iam com ela para a cama e para a mesa.
Quando era feia, as mesmas pessoas diziam-lhe:
- Não gosto de ti.
E atiravam-lhe com caroços de azeitona à cabeça.
A mulher pediu a Deus:
- Faz-me bonita ou feia de uma vez por todas e para
sempre.
Então Deus fê-la feia.
A mulher chorou muito porque estava sempre a apanhar
com caroços de azeitona e a ouvir coisas feias. Só os animais
gostavam sempre dela, tanto quando era bonita como quando
era feia como agora que era sempre feia. Mas o amor dos animais
não lhe chegava. Por isso deitou-se a um poço. No poço,
estava um peixe que comeu a mulher de um trago só, sem a
mastigar.
Logo a seguir, passou pelo poço o criado do rei, que
pescou o peixe.
Na cozinha do palácio, as criadas, a arranjarem o peixe,
descobriram a mulher dentro do peixe. Como o peixe comeu a
mulher mal a mulher se matou e o criado pescou o peixe mal o
peixe comeu a mulher e as criadas abriram o peixe mal o peixe
foi pescado pelo criado, a mulher não morreu e o peixe
morreu.
As criadas e o rei eram muito bonitos. E a mulher ali era
tão feia que não era feia. Por isso, quando as criadas foram
chamar o rei e o rei entrou na cozinha e viu a mulher, o rei
apaixonou-se pela mulher.
- Será uma sereia ? – perguntaram em coro as criadas ao
rei.
- Não, não é uma sereia porque tem duas pernas, muito
tortas, uma mais curta do que a outra – respondeu o rei às
criadas.
E o rei convidou a mulher para jantar.
Ao jantar, o rei e a mulher comeram o peixe. O rei disse à
mulher quando as criadas se foram embora:
- Eu amo-te.
Quando o rei disse isto, sorriu à mulher e atirou-lhe com
uma azeitona inteira à cabeça. A mulher apanhou a azeitona e
comeu-a. Mas, antes de comer a azeitona, a mulher disse ao rei:
- Eu amo-te.
Depois comeu a azeitona. E casaram-se logo a seguir no
tapete de Arraiolos da casa de jantar.


In Adília Lopes – OBRA – A Bela Acordada, pag 300, Ed. Mariposa Azul, Lisboa 2001

2 comentários:

smurf disse...

Querida mãe,querida sogrinha!
Não podias ter escolhido melhor fotografia para dar imagem ao teu perfil. Os teus olhos estão longe de ser azuis mas perto de toda a tua imensa criatividade, humor, energia e, claro, muito amor!
Vamos atrasados nas leituras do blog, mas vamos ficar mais atentos a partir de agora! Para já, adoramos o "rap" da sexagenária, mas por favor muda a fotografia do filhoco mais novo...
És uma mulher que nunca deixou de expressar o que sente, o que quis, o que pensa e o que ama. Para além da família e amigos, porque não expressar tudo isso também quando estamos sozinhos frente ao monitor do computador! Bem haja, anokas!
Felicidades e esperança pois azul é a cor do horizonte!
Beijokas grandes
Sol & Fer

Cristina Gonçalves disse...

Olá Aninhas!

Gosto muito do teu blog e adorei ler o poema de Adília Lopes (nunca tinha lido nada dela!)
Na verdade, o meu gatinho Félix gosta de mim tal como eu sou... :-)

Beijinhos da Amiga Cris