sábado, 3 de maio de 2008

Mãe

Mãe!
Vem ouvir a minha cabeça a contar histórias ricas que ainda não viajei! Traz tinta encarnada para escrever estas coisas! Tinta cor de sangue verdadeiro, encarnado! Eu ainda não fiz viagens E a minha cabeça não se lembra senão de viagens! Eu vou viajar. Tenho sede! Eu prometo saber viajar. Quando voltar é para subir os degraus da tua casa, um por um. Eu vou aprender de cor os degraus da nossa casa. Depois venho sentar-me a teu lado. Tu a coseres e eu a contar-te as minhas viagens, aquelas que eu viajei, tão parecidas com as que não viajei, escritas ambas com as mesmas palavras.
Mãe!
Ata as tuas mãos às minhas e dá um nó-cego muito apertado! Eu quero ser qualquer coisa da nossa casa. Eu também quero ter um feitio, um feitio que sirva exatamente para a nossa casa, como a mesa. Como a mesa.
Mãe!
Passa a tua mão pela minha cabeça! Quando passas a tua mão na minha cabeça é tudo tão verdade!

2 comentários:

Bandida disse...

..."Tu a coseres e eu a contar-te as minhas viagens, aquelas que eu viajei, tão parecidas com as que não viajei, escritas ambas com as mesmas palavras.".

este nosso Almada!!

gaivota disse...

é fantástico, minha amiga! há uns quantos meses fiz um post assim... à minha Mãe... com estes mesmos poemas!
fiquei com um nó na garganta, a recordar a minha Mãe, e o que ela sofreu para partir...
beijinho