sábado, 26 de janeiro de 2008

Hoje nada é como foi , só a memória permanece.


Hoje nada é como foi , só a memória permanece.

Quando eu, a Isabel Victor e o Fernando António criámos o Museu do Trabalho foi uma época luminosa para todos. Pusemos muito de nós nesse projecto e a Museologia Social existiu nessa criação. Hoje tenho muitas dúvidas se as pessoas querem ver pasmado o seu passado cheio de dores, infortúnios e dificuldades naquilo que diz respeito aos museus de etnografia, etnologia e arqueologia industrial, quando as suas musealizações assentam só nas memórias e nos estafados conceitos de dominado e dominador .
Eu defendo que as pessoas querem sonhar, descansar, ver coisas bonitas, diferentes daquelas que nunca tiveram acesso e digo isto pelo êxito que tem tido o Museu de Arte Contemporânea Berardo, aberto gratuitamente e ao qual as pessoas ocorrem em massa, pessoas simples, pessoas desligadas da arte e da cultura, aquelas que pensam que o museu não é para elas. Mas poderão dizer-me «ah é gratuito». E os museus de autarquia não são gratuitos? E estão assim cheios de gente? Mas para darmos outro exemplo, olhemos a exposição do Hermitage, com entradas pagas, e neste momento 80.000 pessoas de todas as condições sociais já a visitaram. E estas exposições têm actividades que não fazem nada de muito especial do que visitas guiadas que contam «histórias». Não há asssociações e grupos organizados a levarem os «não públicos» ao museu Berardo e à Exposição do Hermitage. Não há actividades especiais, que podiam existir num salão de uma colectividade ou noutro local qualquer, a pensar nesse público alvo. São as pessoas que QUEREM IR, de livre vontade. Vamos reflectir....
A programação museológica e a museografia têm prazos de validade, tal como a informática e a moda, etc. Temos que ser cidadãos e cidadãs do nosso tempo.
Uma coisa é um museu e uma exposição EFECTIVAMENTE FEITOS PELA COMUNIDADE, outra coisa é os museólogos a simplificarem a museografia das suas exposições, não no sentido de fornecerem dados para a compreensão de públicos com vários níveis de ileteracia, mas sim porque os tratam a nível inconsciente, com menoridade. Nós temos que elevar a fasquia, temos que escolher muito bem os temas e a museografia, tal como a arte e a tecnologia, a museografia e os conteúdos têm que acompanhar os tempos sendo ao mesmo tempo criativos, didácticos e acessíveis, mas sem baixar os níveis de qualidade que todo o cidadão e cidadã merecem.

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Gosto muito de Adília Lopes

A Bela Acordada

Era uma vez uma mulher que tão depressa era feia era bonita, as pessoas diziam-lhe:
- Eu amo-te.
E iam com ela para a cama e para a mesa.
Quando era feia, as mesmas pessoas diziam-lhe:
- Não gosto de ti.
E atiravam-lhe com caroços de azeitona à cabeça.
A mulher pediu a Deus:
- Faz-me bonita ou feia de uma vez por todas e para
sempre.
Então Deus fê-la feia.
A mulher chorou muito porque estava sempre a apanhar
com caroços de azeitona e a ouvir coisas feias. Só os animais
gostavam sempre dela, tanto quando era bonita como quando
era feia como agora que era sempre feia. Mas o amor dos animais
não lhe chegava. Por isso deitou-se a um poço. No poço,
estava um peixe que comeu a mulher de um trago só, sem a
mastigar.
Logo a seguir, passou pelo poço o criado do rei, que
pescou o peixe.
Na cozinha do palácio, as criadas, a arranjarem o peixe,
descobriram a mulher dentro do peixe. Como o peixe comeu a
mulher mal a mulher se matou e o criado pescou o peixe mal o
peixe comeu a mulher e as criadas abriram o peixe mal o peixe
foi pescado pelo criado, a mulher não morreu e o peixe
morreu.
As criadas e o rei eram muito bonitos. E a mulher ali era
tão feia que não era feia. Por isso, quando as criadas foram
chamar o rei e o rei entrou na cozinha e viu a mulher, o rei
apaixonou-se pela mulher.
- Será uma sereia ? – perguntaram em coro as criadas ao
rei.
- Não, não é uma sereia porque tem duas pernas, muito
tortas, uma mais curta do que a outra – respondeu o rei às
criadas.
E o rei convidou a mulher para jantar.
Ao jantar, o rei e a mulher comeram o peixe. O rei disse à
mulher quando as criadas se foram embora:
- Eu amo-te.
Quando o rei disse isto, sorriu à mulher e atirou-lhe com
uma azeitona inteira à cabeça. A mulher apanhou a azeitona e
comeu-a. Mas, antes de comer a azeitona, a mulher disse ao rei:
- Eu amo-te.
Depois comeu a azeitona. E casaram-se logo a seguir no
tapete de Arraiolos da casa de jantar.


In Adília Lopes – OBRA – A Bela Acordada, pag 300, Ed. Mariposa Azul, Lisboa 2001

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

EXPIAÇÃO - Um Filme a ver com urgência....

Realização: Joe Wright
Com: Keira Knightley, James McAvoy, Saoirse Ronan, Romola Garai, Vanessa Redgrave, Brenda Blethyn
Site oficial: Atonement
Género: Drama/Romance
Distribuição: Lusomundo
Classificação: M/12-Q
Reino Unido/França, 2007
Expiação. Juntos pelo amor. Separados pelo medo. Redimidos pela esperança.
No dia mais quente do Verão de 1935, Briony Tallis, uma jovem de 13 anos, vê a sua irmã mais velha, Cecilia (Keira Knightley), despir as suas roupas e mergulhar na fonte do jardim da sua casa de campo.Junto a Cecilia, está o filho do caseiro, Robbie Turner (James McAvoy), um amigo de infância que, tal como com a irmã de Briony, se diplomou recentemente em Cambridge.
No final desse dia, a vida dos três personagens terá mudado para sempre. Robbie e Cecilia terão ultrapassado uma fronteira, da qual nunca antes tinham ousado sequer aproximar-se, e ter-se-ão tornado vítimas da imaginação vívida da jovem. Briony, por seu lado, terá cometido um terrível crime, que procurará expiar toda a sua vida…
Da equipa responsável pelo sucesso mundial «Orgulho e Preconceito», o aclamado realizador Joe Wright e o produtor Paul Webster reúnem-se para esta adaptação do best-seller de Ian McEwan.

SAPO - LUSOMUNDO


Produzido por PT.com © 2006 Todos os direitos reservados.




Este filme impressionou-me muito. Como é que um gesto, um acto, uma palavra, mesmo que sejam feitos por uma pré-adolescente num momento de imaginação delirante ou vingança, pode mudar a vida de alguém para sempre.


Como é que os nossos actos, palavras, gestos e interpretação das atitudes do outro pode transformar a nossa vida e a de terceiros para sempre...


Um filme a não perder.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008


O Luíz Pacheco morreu no sábado.

Recordo Luíz Pacheco no início da década de 70, um dia fomos os dois ao Instituto Alemão. Ele queria receber um dinheiro de uma publicação qualquer e eu fiz de secretária. Disse-lhes que ele estava com um problema grave de saúde e não podia falar, ia ser internado de urgência e precisava do dinheiro naquele momento. Ele torcia-se com dores e assim lá nos fizeram o pagamento. Quando saímos ele disse «agora vamos comprar frutas cristalizadas». Para uma jovem que adorava literatura e vivia num país tão cinzento, o Luíz Pacheco era um herói.