sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Mais um Natal que passou e que fica na nossa memória











Hoje foi um dia de brincadeiras com o neto que está lindo e muito simpático. É uma criança muito feliz. Estive com ele ao colo a matar saudades. Adorou os brinquedos e já brinca com eles sozinho durante um periodo de tempo razoável. Ai os doces outra vez meu Deus.
Depois ao fim da tarde fui ver as duas velhotas e falar com as técnicas que tratam delas. A Windy já ficou no hotel dos cães e só volta para casa quando viermos de Paris, dia 1. Bom Ano amigos e amigas, deixo-vos com Carlos Drummond de Andrade


Para você ganhar belíssimo Ano Novo cor de arco-íris, ou da cor da sua paz, Ano Novo sem comparação como todo o tempo já vivido (mal vivido ou talvez sem sentido) para você ganhar um ano não apenas pintado de novo, remendado às carreiras, mas novo nas sementinhas do vir-a-ser, novo até no coração das coisas menos percebidas (a começar pelo seu interior) novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota, mas com ele se come, se passeia, se ama, se compreende, se trabalha, você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita, não precisa expedir nem receber mensagens (planta recebe mensagens? passa telegramas?). Não precisa fazer lista de boas intenções para arquivá-las na gaveta. Não precisa chorar de arrependido pelas besteiras consumadas nem parvamente acreditar que por decreto da esperança a partir de janeiro as coisas mudem e seja tudo claridade, recompensa, justiça entre os homens e as nações, liberdade com cheiro e gosto de pão matinal, direitos respeitados, começando pelo direito augusto de viver. Para ganhar um ano-novo que mereça este nome, você, meu caro, tem de merecê-lo, tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil, mas tente, experimente, consciente. É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Estou cansada mas feliz






















Hoje foi uma noite muito bem passada, vivi momentos de grande emoção com os filhos e netas à volta da mesa, o meu ex também lá estava e foi tudo muito simpático, concentrámos a festa nas crianças e alegria da Francisca com os presentes recebidos foi contagiante. Não houve consumos exagerados de maneira nenhuma e as crianças foram as rainhas da noite, Entre as prendas que eu, o meu marido e a minha filha mais velha oferecemos à Quica, a nova edição do Princepezinho atingiu um ponto alto. É um livro que viverá para sempre e todas as crianças o deviam ler. Eu sei que ela ainda é muito nova para tal leitura, mas este livro é um livro para se ler durante a vida inteira. É uma história de amizade e de paz e como diz o autor na introdução é um livro para crianças mas é dedicado a um amigo adulto para ele se lembrar da memória do menino que existe nele. A Margarida só com 5 meses teve menos prendas, mas estava encantada com as cores. Amanhã vou para casa do outro filho e o meu filho mais velho parte para o Porto para casa dos pais da companheira. É assim a vida de partilha e relação próxima, quando a comunidade é a família. Por causa das constipações tivemos que fazer a festa em dias diferentes e casas diferentes, à noite ainda vou ver as velhotas, não contando com os inúmeros e-mails enviados e recebidos e telefonemas feitos. É uma época especial. Deixo-vos com a minha neta e eu no chão do quarto dela a pintar-lhe os lábios, ela a tirar fotografias e a capa do meu livro de infância mais querido o «Principezinho». Ah reparem no presépio é da Rita Matias, é uma ceramista de estalo, recomendo http://www.minhaterra.pt/spip.php?article65. Uma das prendas foi comprada na loja da Rosa Pomar e é o máximo, tirei a foto do blogue dela para verem http://aervilhacorderosa.com/. E os doces, ai os doces....

Ao mesmo tempo que preparo a partida para outras terras, preparo também os presentes para os netos logo à noite e amanhã.






























Logo à noite e amanhã os presentes vão fazer a felicidade das crianças. A Francisca será a que mais interesse vai dar ao acto, mas os outros vão-se habituando. Como não passo o Natal em minha casa desta vez, preparo mesmo assim as prendas junto da árvore que fiz para eles, como faço todos os anos e o presépio. As mantas que fizemos o ano passado eu e a M. têm feito um jeitão este ano, e os móveis vão-se acumulando de recordações das viagens. Cada casa é um pequeno mundo de cada um à sua medida. Sempre que vou fazer uma viagem fico eléctrica nos dias que a antecedem, mas até lá lá muita coisa há a fazer e organizar nestes dois dias.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

E mesmo assim ainda vou adormecer com...

A Letra Q

Estou sempre muito longe.
Dizem qualquer coisa e eu pergunto:
- Quê?
Pergunto sempre:
- Quê?
Não sei porquê.
O meu amigo V
Zanga-se e diz:
És surdo ou quê?
E eu respondo sinceramente:
- Sou quê.

Mário Castrim, Estas são as Letras

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Adeus, vou sete dias para Paris a partir de 26 e só volto em 2010. Darei notícias.

NATAL CHIQUE

Percorro o dia, que esmorece
Nas ruas cheias de rumor;
Minha alma vã desaparece
Na muita pressa e pouco amor.
Hoje é Natal.
Comprei um anjo,
Dos que anunciam no jornal;
Mas houve um etéreo desarranjo
E o efeito em casa saiu mal.
Valeu-me um príncipe esfarrapado
A quem dão coroas no meio disto,
Um moço doente, desanimado…
Só esse pobre me pareceu Cristo.

Vitorino Nemésio

Afinal mais uma vez desejo:

Um Natal e um 2010 cheio de:

Mais Fraternidade
Mais Solidariedade
Mais Protecção ao planeta terra
Mais árvores
Mais águas não poluídas
Mais parques infantis para as crianças brincarem
Mais Emprego
Mais Habitação a preços comportáveis
Menos impostos
Mais democracia
Mais igualdade de oportunidades
Mais protecção à infância e Juventude
Mais protecção às mulheres grávidas
Mais ecologia
Mais energias renováveis
Menos carros nas ruas, passeios e sei lá o quê
Mais protecção aos emigrantes e imigrantes
Mais ciência - mais protecção às pesquisas científicas
Mais hospitais, médicos e enfermeiros
Mais justiça para com as vítimas de qualquer crime a que foram sujeitas
Mais transparência no Estado da Nação
Mais políticos sem telhados de vidro
Menos corrupção
Mais escolas e jardins de infância
Mais protecção a toda a espécie animal
Fim ao tráfico humano, à droga e ao tráfico de armas
Fim às guerras inúteis e sanguinárias
Mais sistema de saúde grátis compatível com as necessidades dos cidadãos e cidadãs
Mais reciclagem
Mais humanidade com animais a abater para consumo
Mais criatividade e empreendedorismo
Mais cultura e vida artística na educação de todos
Mais protecção grátis à 3ª e 4ª idades quando incapacitadas de se deslocarem à rua
Mais protecção grátis aos cidadãos com incapacidades fisicas e cognitivas
Mais condições de circulação para cadeiras de rodas e distribuição das mesmas a quem delas necessita
Mais protecção à agricultura biológica e às espécies marinhas no excesso da sua captura
Mais transportes com preços acessíveis, nas regiões do nosso país vivem pessoas sem carta de condução que tem direito de se deslocarem em transportes públicos
Mais desporto gratuito
Mais protecção aos desempregados e suas famílias
Mais atenção ou melhor dupla atenção ao abandono escolar e às crianças que vivem em condições degradantes
Mais ludotecas gratuitas em bairros degradados
Mais bibliotecas de bairro e itinerantes
Mais cinema português de qualidade itinerante pelas aldeias e vilas
Mais teatro itinerante de qualidade pelas aldeias e vilas
Mais musica de qualidade itinerante pelas aldeias e vilas
Mais exposições que interessem aos públicos e não só de pares para pares
Mais lojas de preço justo
Mais protecção ao comércio tradicional e ao artesanato tradicional e contemporâneo de qualidade Mais protecção ao património artístico, cultural e ambiental
Menos inveja
Mais amor, perdão e compaixão pelo próximo

E todos nós não merecemos isto?

E já agora minha querida Mané obrigada por esta mensagem
http://www.institutoninarosa.org.br/central/cartao2009/.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Tudo tem sido muito intenso

Nestes últimos dias tudo tem sido muito intenso; as obras em casa da minha filha, ela a passar o fim de semana cá em casa com as miúdas enquanto o marido orientava os trabalhos, enviar e-mails de boas-festas, porque desisti dos de papel, preparar a viagem para Paris no sábado e coordenar como sempre a situação das duas idosas, sogra e tia, estando uma delas internada no hospital e talvez saia hoje. O tempo tem estado feroz por estes lados, chuva e vento e também muito frio. O inverno começou a dar um ar da sua graça e eu espero que em Paris o tempo esteja ainda mais frio, mas pela experiência que tenho tido nas vezes que fui a esta cidade por estas alturas, a temperatura desce abaixo de zero, mas é agradável passear com esse frio seco a bater-nos no rosto. Conto visitar várias exposições e passear muito.
Cada vez a ideia de alugar uma casa em Lisboa, mesmo pequena, para lá pernoitar de vez em quando me vem à ideia, e tenho de a concretizar no ano que se aproxima, se bem que há muitas viagens em carteira e projectos de trabalho que tenho de terminar. Esta necessidade de ter um espaço só meu é uma ideia que tem vindo a germinar há muito tempo, mas compreendi que eu sou uma pessoa lenta a tomar decisões, necessito de tempo, muito tempo, mas quando decido é irreversível essa tomada de posição. Eu necessito voltar a Lisboa e permanecer lá durante uns dias, um fim de semana, cheirar aqueles jardins, pisar as pedras daquelas calçadas antigas, olhar o Tejo, visitar aquelas igrejas. Quando fui morar para Setúbal sempre pensei que iria adoptar aquela cidade como minha e vivi lá tanto tempo, mas não, só me ficou na memória a serra da Arrábida e o rio Sado, mas eles não substituiram a minha terra: Lisboa, e penso que transmiti isso aos meus filhos. Ao vir viver para Cascais, há sete anos, pensei o mesmo, mas o trânsito infernal na Avª. 25 de Abril, uma das artérias mais centrais de Cascais, cansou-me, apesar do jardim muito simpático que eu tinha, mas a casa era muito pequena, comparada com os dois andares qe eu tinha em Setúbal e a urgência de outra casa colocou-se há dois anos e por isso vim viver para esta moradia na Parede, numa rua encantadora, mas mesmo assim a saudade de Lisboa, assola-me a todo o instante. Vivi lá trinta e dois anos, metade da minha vida e o apelo de lá voltar é grande, basta-me por agora uma casa pequena num bairro simpático e depois logo se verá, até 2011 isto tem de estar resolvido, após eu ter feito o meu livro dos Bombeiros Voluntários de Carcavelos e S. Domingos de Rana e avançar com o do José Relvas.
Quando chegamos ao fim do ano fazemos sempre imensos projectos para o futuro e eu tenho sempre necessidade de os fazer e alguma coisa é cumprida e agora estou mais desejosa do que nunca de concretizar tudo o que tenho em mente.
Vou passar a note de Natal em casa da minha filha com outros dois filhos e marido assim como vou passar o dia de Natal com o meu marido e outra filha a casa do meu filho mais novo, tudo por causa dos bébés nascidos este ano estarem um pouco constipados e as temperaturas baixas e assim separamo-nos este ano, excepcionalmente. Quando a Francisca nasceu também fui passar o Natal na casa da minha filha, mas aí reunimo-nos todos e gostei da experiência. Para o ano talvez faça o meu Natal na minha casa de Lisboa, quem sabe ou então o mais tardar em 2011. Quanto ao bairro onde vou morar ainda não tenho uma ideia, o ideal seria antigo e histórico, mas a oportunidade é que ditará a opção.
Não sei se terei tempo de escrever mais, se calhar só para o ano, ou talvez mesmo em Paris se tiver hipóteses de usar o computador da minha amiga, na casa onde vamos ficar, mas mesmo assim acho mais prudente desejar aos meus amigos online um bom Natal em família e um Ano Novo cheio de esperança e sonho, nunca o sonho deve morrer em nós. Lembrei-me de vos deixar este poema de Almada Negreiros, o Natal é também uma época de meninos tristes e sós.
A noite rimada
Pela serra ao luar
Ia um menino sozinho
Sem sono para se deitar.
Ia o menino a pensar
Por que seria ele só
Sem sono p'ra se deitar.
Ia o menino a pensar
Que há tanto por pensar
E a cidade a descansar.
E o menino a pensar
Por que seria ele só
Sem sono p'ra se deitar.
Quem dorme sem ter pensado
Deve ter sono emprestado
Não é sono bem ganhado.
Ia o menino a pensar
Como poder arranjar
Muita força p'ra pensar.
José de Almada Negreiros, Poesia, Obras Completas

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Na senda do comércio tradicional...




Fui à Boutique da Carne, sim, na Frei Amador Arrais, no Bairro de S. Miguel em Lisboa. Aí a carne está em exposição como se fosse um modelo, como de alguma forma vejo em Paris, mas aí são mesmo modelos, só falta estarem vestidos.
Gostei imenso dos produtos e da maneira como me atenderam e arranjaram a carne. Recomendo.
Também comprei legumes e frutas no Fruta Almeidas, na esquina da Avenida de Roma com a Frei Amador Arrais, também recomendo e para quem come carne, vendem-se neste lugar deliciosos pastéis de massa tenra, para um jantar rápido com uma salada é o ideal.
Depois tive que comprar peixe, iogurtes e produtos de limpeza no supermercado, aquele que está aberto de Janeiro a Janeiro, porque infelizmente o trânsito empata que se farta e a ausência de estacionamento é terrível. As ruas vivem atafulhadas de carros. Hoje em Lisboa os passeios são mais para os carros do que para as pessoas e o comércio tradicional é prejudicado por causa disso. Onde parar o carro quando não há transportes públicos para aquele lugar e as distâncias são grandes? Acho que há muita coisa a resolver em Portugal, a questão dos transportes públicos de qualidade e quantidade e a sinalética são problemas que existem e tardam a resolver, eu entretanto continuo a procurar lojas e estabelecimentos do comércio tradicional de boa qualidade e onde sou bem atendida. Na Avenida de Roma há uma loja de roupa de criança, a Maria Gorda que tem coisas muito engraçadas e também na Frei Amador Arrais, no início da rua do lado direito também há uma lojinha com roupa de criança fantástica.
Depois do Natal digo-vos onde comprei os brinquedos para os meus netos e as casas comerciais desse género em Lisboa e Cascais que eu gosto mais. Só fui a um Centro Comercial o Corte Inglês, que é para mim dos mais suportáveis , além do Oeiras Parque, mas mesmo assim fartei-me. Entro e vou directamente à loja onde quero comprar as coisas, por isso tenho optado por escolher em Lisboa os locais mais interessantes e por vezes alternativos. Passado o Natal, para não quebrar a surpresa, mostro-vos a pouco e pouco esse lado comercial, pequeno, caloroso e alternativo nos vários bairros de Lisboa e na linha de Cascais.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Adormecer com José Tolentino Mendonça

As casas

As casas habitadas são belas
se parecem ainda uma casa vazia
sem a pretensão de ocupá-las
tornam-se ténues disposições
os sinais da nossa presença:
um livro
a roupa que chegou da lavandaria
por arrumar em cima da cama
o modo como toda a tarde a luz foi
entregue ao seu silêncio
Em certos dias, nem sabemos porquê
sentimo-nos estranhamente perto
daquelas coisas que buscamos muito
e continuam, no entanto, perdidas
dentro da nossa casa

José Tolentino Mendonça

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Ajudemos a salvar o comércio tradicional


Coerente com o texto que escrevi ontem fui visitar em plena rua do Loreto a loja da Rosa Pomar, na Rua do Loreto, 61 - 2.º Dto1200-241 Lisboa. Nesta loja tudo é tradicional, desde o próprio edifício aos suportes onde estão os produtos, aos produtos e ao atendimento personalizado. Comprei uns brinquedos especiais para a minha neta Francisca, são mesmo alternativos e fora do consumo habitual. Em seguida não resisti e entrei na Casa das Velas do Loreto - Rua do Loreto 53/55 - Lisboa 1200-241, LISBOA, www.flickr.com/photos/magic_fly/220951313/ têm velas de todos os tamanhos e feitios e as senhoras que certamente são as donas, andam numa roda viva naquela casa antiga que data dos finais do século XVII, eu comprei uma vela que é uma romã, é linda e faz toda a diferença daquelas que vemos todas iguais nos supermercados. Nesta casa existe um cão já velhote que dormita numa almofada ao fundo da loja, mas se ouve um ruído estranho ladra para avisar, como por exemplo o barulho de uma porta de uma vitrina mais perra, só sei que me senti em casa. Isto tudo porque no outro dia fui a um hipermercado comprar uns brinquedos para os meus netos mais pequenos e fiquei sufocada, reagi de uma forma estranha, o meu mundo não era ali nem aquela era a minha forma de viver. Uma multidão, tudo igual , sem personalização nenhuma, as marcas poderosas a invadir-nos e a aliciar-nos para comprar mais, mais e mais. Vejam lá que na loja da Rosa Pomar encontrei uma senhora, que apesar de ter uma actividade intelectual faz imensos tricots, rendas e outros trabalhos como o patchwork, palavra puxa palavra ficámos de nos encontrar em Janeiro depois das festas, trocámos e-mails, telefones, moradas, isto só acontece no comércio tradicional.
Fui também tomar um cafézinho ao quiosque da Largo Camões e as meninas que nos atenderam com um sorriso de Natal fizeram toda a diferença. Temos de ajudar a reabilitar a baixa e o comércio tradicional, ele não pode ser engolido pelos hipermercados monstricos que avassalam as populações em toda a parte do nosso país. Eu acho que não deve haver na Europa país com tantos super e hipermercados como o nosso.
Subi e fui à Bertrand e comprei uns livros para os meus netos, procurei um especial que estava esgotado em várias livrarias e finalmente encontrei o último exemplar na Bertrand da Avenida de Roma, eu depois posso mostrar os brinquedos e os livros que vou oferecer, passado o Natal, agora não os coloco aqui porque senão os meus filhos podem ver e eu quero que seja surpresa. Comprei também numa lojinha de crianças no Bairro de S. Miguel, dois casaquinhos para a Margarida, um para a Francisca e uma camisola para o António Maria: verde escuro, castanho escuro, azul escuro e cinzento rato, cores giríssimas. E pronto estou contente, só me falta um brinquedo para a Francisca e já estão as prendas, para os meus filhos as prendas já foram em ajudas nas necessidades das suas mudanças e arranjos de casa, hoje as prendas têm de ser úteis, não as compreendo na época do Natal de outra forma, em nossa casa é Natal todo o ano pois as ajudas na família devem ser assim entendidas: partilha, amor, solidariedade.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Eu, consum(o)idora




De bibe branco descia as escadas a quatro e quatro e repidamente me encontrava na rua. Adorava fazer recados, e ali, no meu bairro, num perímetro de 150 metros, eu tinha quase todas as lojas de especialidades. Ao lado do meu prédio, a mercearia do Sr. Nicolau, mulher e duas sobrinhas que eles criaram desde pequenas. A azáfama era grande e as conversas sem fim acompanhavam as compras. O grão, o feijão e cereais diversos estavam à mostra nuns grandes caixotes de tom ocre, que faziam conjunto com os restantes armários agarrados às paredes. O açúcar e a farinha eram metidos dentro de uns cartuchos acizentados e o azeite tirado de uma máquina marcada com as medidas era deitado para uma garrafa que as compradoras traziam de casa. E aquela manivela subia e descia, e os meus olhos acompanhavam esses movimentos. Os legumes e a fruta estavam a monte num balcão de mármore, e os preços discutiam-se sempre, num ritual quotidiano, quase como uma obrigação. As postas de bacalhau demolhadas vendiam-se uma a uma e a salsa era de graça. Às vezes o homem da carroça fazia concorrência, mas enganava com a balança manual, segundo a opinião do Sr. Nicolau.
Na esquina, a leitaria da D. América, baixinha e gorda, e do seu marido, o Sr. Lopes , alto, moreno, oriundo das Beiras. Aí a manteiga era tirada com uma espátula de madeira e embrulhada em papel do mesmo nome do produto. Mas não era a manteiga a origem das minhas atenções: os biscoitos caseiros, os queques, os pastéis de bacalhau e mais tarde os rissóis e os croquetes faziam-me crescer água na boca. A Dona América deitava-se tarde a fazer estas delícias e queixava-se de dia enquanto aviava os clientes.
A leitaria tinha só uma mesa, e esta servia para o Sr. Lopes almoçar, os petiscos que tinha dentro de uma marmita mitigavam-lhe o esforço dispendido pela manhã de trabalho. Mais abaixo existia o Sr. Augusto, droguista. Andava sempre de bata branca e coxeava de uma perna. A drogaria tinha armários todos azuis escuros. Comprávamos ao litro lexívia, petróleo, álcool puro, álcool para queimar, mas também barras de sabão, solarine, cloreto e carteirinhas de papel que se queimavam em casa depois das limpezas. Num armário do canto, o Sr. Augusto ainda vendia cadernos, lápis, borrachas, lápis de côr e ardósias. Nunca esquecerei o cheiro forte desta casa.
Em frente, duas irmãs solteiras, Amélia e Adelaide, eram donas de uma capelista, loja de tecidos e retrosaria. O meu maior divertimento era vê-las discutir constantemente por causa da falta de carros de linhas que uma delas deixava acabar sem avisar. Comprávamos colchetes, molas, elásticos, botões e fita de nastro. Algumas vezes, mandávamos lá as meias para as malhas serem apanhadas.
A minha mãe telefonava de manhã para o talho e para a peixaria, a fazer as encomendas, exigindo sempre a frescura do produto. O empregado do talho chegava depois com um grande embrulho, ou então ela própria se deslocava à loja para escolher a carne. As grandes facas cortavam mágicamente os bifes, as costeletas e o entrecosto, e na peixaria entre o arrancar das guelras de um cachucho, a Srª. Delfina falava mal da nora.
O pão, o jornal e o leite eram vendidos à porta. O pão por vezes vinha quente, o leite era avulso, dentro de umas bilhas de lata, e medido a púcaros. Ao sábado o recebimento do jornal era mais excitante porque saía «O Século Ilustrado» e o tão desejado suplemento infantil «Cavaleiro Andante».
A carvoaria vendia várias qualidades de carvão, mas este lugar metia-me medo porque desde o empregado ao produto tudo era negro de sujidade.
As tabernas eram muitas, e os operários aqueciam as suas refeições ou comiam toucinho frito com um naco de pão. Estes lugares eram geralmente fornecedores de vinho antes de este ser engarrafado. Nunca me deixaram entrar na taberna, era uma determinação do meu pai, que considerava um lugar interdito às mulheres e aos jovens.
O sapateiro arranjava os meus sapatos com atacadores, punha capas nos sapatos de salto alto da minha mãe e engraxava duas vezes por semana os sapatos do meu pai.
A farmácia era um puco mais longe, e só a visitávamos quando a doença nos batia à porta e aí os tratamentos eram monótonos: clisteres, algodão iodado no peito, chá de limão com mel à noite, e muitos cobertores de papa na cama de modo a provocar uma violenta sudação. Se a febre era alta, punham-se toalhas húmidas na testa. Eu gostava muito de estar doente, porque nessa altura a minha mãe deixava-me tomar chá com torradas e não me obrigava a comer a sopa; só não percebi porque é que a minha mãe pôs um papel vermelho na lâmpada do meu quarto quando tive sarampo. A farmácia vendia também perfumes, em pequenas ou grandes quantidades, cremes de beleza para todos os fins, pó-de-arroz e caixinhas de rouge.
Estava eu alheada do espaço onde me encontrava, deleitando-me com estas memórias quando de repente alguém me puxou para trás, pois ia sendo atropelada por um carro-grua que buzinava furiosamente. Percebi então que carregava centenas de litros de leite empacotado para as prateleiras do hiper-mercado, que estavam a ficar vazias, e o pânico das donas de casa pela falta deste produto quase fazia tremer as paredes pré-fabricadas do monstruoso edifício. À saída lembrei com saudades aqueles rebuçados de alteia e mel que eu comprava com uma moedinha de tostão. O meu filho mais novo sacudiu-me e pediu-me um chocolate e eu, perfeitamente «normalizada», voltei atrás e paguei-o com o cartão multibanco.
Já não me sinto freguesa personalizada, mas sim massa consumidora de produtos cujos invólucros em muitos casos não são biodegradáveis. O plástico, minhas amigas e meus amigos.

Anad




Este meu texto foi publicado no catálogo «CAZAS DE COMMÉRCIO - LOJAS ANTIGAS DE SETÚBAL», em 1991, no Museu do Trabalho Michel Giacometti.










domingo, 13 de dezembro de 2009

Ninguém ensina ninguém


Eu não quero ensinar ninguém,
nem ninguém me vai ensinar nada.
Nós aprendemos uns com os outros
mediatizados pelo mundo, assim dizia
Paulo Freire e eu acredito que isto é
totalmente verdade.


Aqui e ali no meio da gente, eu aprendo, ouvindo o que os outros dizem
e o que eu digo aos outros.
A natureza também interfere nesta
comunicação, por vezes quando eu olho o mar, uma simples flor,
uma montanha coberta de neve ou verdejante
com tonalidades ocres, lilazes, verdes, castanhas e
vermelhas eu tranquilizo o meu olhar e aprendo
a lidar com as batidas do meu coração e do meu ser.
E ao falar disso a outra pessoa
e ela a falar-me de outras coisas de outras sensações,
nós produzimos conhecimento, naquele instante.


Uma vez eu sou receptor, outras vezes emissor
e assim a prendizagem se faz, sem grandes complicações,
por isso as aulas têm de ser dialogadas,
porque se é o professor só a falar,
os alunos não aprendem nada.


Anad

É muito bem quando um dia é dia de afectos
























































Ontem realizou-se o almoço de Natal da Associação Cultural Dr. Emmanuel Correia, o tal grupo de viagens fantástico de que eu vos tenho falado. Começamos o dia sempre com uma visita, desta vez foi à capela e às salas do Colégio de Nª. Srª. do Bom Sucesso, ali ao pé do Centro Cultural de Belém. É uma capela barroca lindíssima, «Conta-se que, por meados do séc. XVI, um homem com muito bom aspecto, desconhecido, chega à quinta da condessa da Atalaya, D. Iria de Brito. Levava consigo uma bonita imagem de Nª Senhora, que pretendia vender. Era esta senhora extremamente devota e também bastante rica, pelo que, não seria de estranhar que alguém interessado em vender uma imagem a ela recorresse. Atendido pela empregada, e, não sabendo esta que resposta dar, pediu-lhe que aguardasse na entrada, pois iria comunicar o caso à sua patroa.
Quando ambas voltaram o vendedor tinha desaparecido, encontrando-se apenas na entrada a imagem de Nª Senhora. A Condessa, achou-A muito bonita, levou-A para a sua capela invocando-A com o título de Nª Senhora da Conceição.
Os anos passaram e a condessa, a pedido do seu director espiritual, o Padre Dominicano Dominic O’Daly, oferece a sua quinta de Belém para um convento, onde as raparigas irlandesas pudessem professar a sua fé longe das perseguições existentes no seu país. É no ano de 1639, que o convento abre as suas portas recebendo as primeiras postulantes. »

Ainda hoje o Colégio está entregue a irmãs irlandesas de uma simpatia enorme. Adorei o altar de embutidos, habitualmente vimos sempre os altares barrocos com talha dourada, mas este era de embutidos em mármore de uma beleza impressionante, claro que havia altares com talha dourada lateralmente, mas aquele é especial. De seguida ainda passámos pelos Jerónimos, o FA, meu marido, explicou o mosteiro da parte de fora com microfone, sim porque esta associação é dada às novas tecnologias, e no interior dividimos os grupos porque eram 100 pessoas e eu também tive ocasião de explicar o interior, destacando alguns elementos da sua história, das suas componentes artísticas e arquitectónicas.
O almoço foi na Casa do Alentejo (é muito difícil arranjar em Lisboa uma sala para tanta gente almoçar) em plena Baixa, nas Portas de Santo Antão, casa que eu não conhecia ou então se a vi foi mesmo quando era muito jovem e foi uma agradável surpresa. É uma casa dos inícios do século XX da Belle Époque, neo-árabe, com laivos de Arte Nova, principalmente nas pinturas dos tetos.
Como a comida era toda baseada na gastronomia alentejana, comi a sopa de cação e não comi o ensopado de borrego, comi um pouco de bacalhau à Gomes de Sá e uns bolinhos e fruta, muito pouco, juro.
No final o João António fantástico organizador fez uma síntese dos nossos passeios, abrindo já perspectivas para o próximo ano. Depois foi um mar de afectos, o meu marido recebeu um livro lindissimo que lhe vai ser muito útil para as aulas e visitas que irá realizar em Portugal e no estrangeiro e eu um ramo de orquídeas do melhor que possam imaginar. Plantas e flores são das prendas que eu mais gosto, mas ainda não acabou a minha narrativa, entregaram-me uma folha onde colocaram a minha foto de um dos passeios, com umas frases queridas e todos assinaram. Quando lhes agradeci disse-lhes que apesar de ter trabalhado 41 anos em museus e como professora, que ainda o sou, apesar de aposentada há um ano e meio, continuando a trabalhar nos mais variados projectos, «devo dizer-lhes que foi aqui que encontrei das melhores pessoas que conheci na minha vida.» Emocionei-me e pensei, não há dúvida que Deus fecha por vezes uma porta , mas abre-nos uma janela e nessa janela aberta eu vejo sempre azul ao longe. Dei beijos a cem pessoas, desejando-lhes um Santo Natal e um Ano de 2010 cheio de venturas e sonhos realizados mesmo no caos do nosso país, mas não há duvida que temos que acreditar. O nosso grupo é de uma riqueza muito grande porque é formada por pessoas reformadas ou ainda no activo, de variadas profissões: médicas (os), enfermeiras (os), bancários (as), professoras (es). etc. Tenho aprendido muito com eles.
Às cinco da tarde o filho de uma nossa amiga pintora e escritora, veio buscar-nos e levou-nos até ao Estoril à «Memória dos Exílios», onde o FA. foi apresentar o livro da Gilda Maria, uma mulher encantadora que foi casada com o pintor Francisco Maya, filho do escultor Delfim Maya. Esta mulher formada pelas Belas Artes do Porto, dedicou assim que casou toda a sua vida à família e influenciou de uma forma muito activa a obra do seu falecido marido. Depois de ele falecer e passado o trauma da ausência de um grande amor, ela começou a pintar de uma forma magnifica e a escrever o que lhe vai no mais íntimo do seu ser. Como disse o FA. que fez de improviso uma das mais brilhantes intervenções que eu lhe tenho ouvido «é a história de uma alma para as outras almas, em vagas que vão vindo até á praia e se tornam em espuma branca que imediatamente se tornam noutras vagas, pegando em ideias que tinham sido reflectidas anteriormente e de novo aparecem com nova roupagem, estando sempre atenta ao mundo que a rodeia, não é um livro com um climax, porque esse será feito no diálogo que a autora espera que os seus leitores o façam com a sua leitura».
É muito bom quando um dia é de afectos...

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Adormecer com António Ramos Rosa

Este homem que pensou
com uma pedra na mão
tranformá-la num pão
tranformá-la num beijo
Este homem que parou
no meio da sua vida
e se sentiu mais leve
que a sua própria sombra

Ontem o meu filho dançou


Ontem fui ao Teatro Camões ver a Giselle. Abriu a CNC a sua temporada de inverno com este bailado romântico. O meu príncipe fez de príncipe e dançou muito bem. É uma emoção ver um filho no palco com tanto êxito merecido. Cinquenta duas pessoas do grupo das viagens e a minha amiga Mané também lá estavam, mais a a minha filha mais velha e o meu marido. Foram só bravos no final.
«A história tem lugar numa pequena aldeia do Reno frente à casa de Giselle em tempo de vindimas. Albrecht, Duque da Silésia adopta o nome de Loys e disfarça-se de aldeão para assim poder cortejar a bela Giselle.
Criado em 1841 para a Ópera de Paris, o espectáculo foi apresentado a 28 de Junho do mesmo ano, no Teatro da Academia Real de Música. O bailado em dois actos tem música de Adolphe Adam e cenários de Ferruccio Villagrossi. A coreografia que a CNB leva ao palco do Teatro Camões, onde tem agendados mais sete espectáculos (hoje, domingo e dias 17, 18, 20, 22 e 23 deste mês), tem coreografia do cubano Georges Garcia, segundo o que, em 1841, foi apresentado por Jean Corelli, na Ópera de Paris, onde este bailado estreou.»

www.revistadadanca.com/gallery2/main.php?g2_v...

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Experimentar ler Adília Lopes enquanto faço horas para o bailado de logo à noite.

Não sei se me interessei pelo rapaz
por ele se interessar por estrelas
se me interessei por estrelas por me interessar
pelo rapaz hoje quando penso no rapaz
penso em estrelas e quando penso em estrelas
penso no rapaz como me parece
que me vou ocupar com as estrelas
até ao fim dos meus dias parece-me que
não vou deixar de me interessar pelo rapaz
até ao fim dos meus dias
nunca saberei se me interesso por estrelas
se me interesso por um rapaz que se interessa
por estrelas já não me lembro
se vi primeiro as estrelas
se vi primeiro o rapaz
se quando vi o rapaz vi as estrelas

Adília Lopes, in
"Desfogados pelo vento, A poesia dos anos 80, Agora",
Antologia de Valter Hugo Mãe, Ed. Quasi

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Acordar com Alberto Caeiro

Não basta abrir a janela
Para ver os campos e o rio.
Não é bastante não ser cego
Para ver as árvores e as flores.
É preciso também não ter filosofia nenhuma.
Com filosofia não há árvores: há idéias apenas.
Há só cada um de nós, como uma cave.
Há só uma janela fechada, e todo o mundo lá fora;
E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse,
Que nunca é o que se vê quando se abre a janela.

E foi um dia em cheio


Foi um dia em cheio com todos os meus netinhos à volta de mim. A Margarida foi baptizada e o almoço em casa do meu ex-marido, avô da baptizada foi muito simpático. Estavam todos as avós e avôs e diga-se de passagem que hoje com as famílias alargadas são muitos, mas felizmente no nosso caso convivem cordialmente. Nem sempre os casais separados necessitam de serem amigos de encontros frequentes, mas têm de ter em atenção os filhos em comum, por isso o esforço de uma convivência civilizada é fundamental. Para mim nem sempre foi assim, levei tempo a recuperar a harmonia na minha vida, mas passou e hoje a situação é normalíssima.
A vida como eu tenho repetido muitas vezes é feita de cumes onde se respira ar puro, vales verdejantes ou então estradas escuras cheias de curvas e manhãs de céu plúmbeo. Eu tenho passado por tudo isto e vou-me aguentando, cada dia com a força que Deus me dá e a fé que eu tenho Nele. Sim eu sou uma mulher de fé. Como já disse o meu Deus é um Deus especial, com quem eu falo, a quem eu peço, e na natureza encontro-me verdadeiramente com ele, assim como dentro de uma igreja. Não sou uma católica certinha, sou uma católica à minha maneira. A instituição igreja tem muitas lacunas e eu não gosto de grupos de igreja, posso contribuir financeiramente através dela se a obra é interessante, gosto de fazer retiros espirituais quando eu sinto necessidade de me isolar e o local e orientação do retiro me agrada, posso ir à missa todos os dias, como posso estar meses sem ir. Vivo a minha fé como eu a sinto verdadeiramente, sem mestres nem obrigações. Os credos de cada um pertencem à vida íntima de cada um. Rezo quando quero e como quero, gosto de ouvir bons cânticos, boas homílias, concertos nas igrejas e pessoas sãs. No dia 31 quando estiver em Paris vou certamente a algumas igrejas, gosto de estar ao pé de pessoas que rezam noutras línguas, tal como fui a igrejas ortodoxas na Rússia e rezei. Eu sempre achei que sou ecuménica, porque para mim Deus está em qualquer templo, oceano, montanha ou numa simples rua do planeta e ainda no olhar de uma criança. Hoje estou feliz.

Hoje estou toda aperaltada porque vou ao baptizado da minha neta Margarida







Hoje estou toda aperaltada porque vou ao baptizado da minha neta mais nova de seu nome Margarida. O almoço vai ser em casa do meu ex-marido, com toda a família e eu a avózinha vou levar umas boas comidinhas. Um belo tabuleiro de bacalhau espiritual e dois rolos de carne recheados de ameixa. O resto levará a minha filha e dará o outro avô.
Estes rituais são importantes para mim, embora nem todos os membros da minha família partilham estas opiniões. Tenho dois filhos católicos e dois agnósticos. Mas as famílias devem ser assim, devem viver numa pluralidade de opiniões e credos.
O dia está bom e eu estou gira com o meu corte de cabelo que ficou o máximo e a minha saia nova da Helena Miró. A blusa também é da Miró e o casaco de lã é daqueles que eu uso para situações mais in. O que faz toda a diferença é uma echarpe Moschino que eu tenho já há muito tempo. Um colar de prata, brincos de prata, anéis de prata, pulseira de prata. Estou toda prateada para esta manhã enevoada. Et voilá. Como o meu ex-marido tem uma casa nova muito bonita no Bairro Alto, eu vou-lhe levar um sabonete da Ach Brito. Simpatias da ex.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Poema do amigo aprendiz de Fernando Pessoa

Poema do amigo aprendiz

Quero ser o teu amigo.
Nem demais e nem de menos.
Nem tão longe e nem tão perto.
Na medida mais precisa que eu puder.
Mas amar-te sem medida e ficar na tua vida,
Da maneira mais discreta que eu souber.
Sem tirar-te a liberdade, sem jamais te sufocar.
Sem forçar tua vontade.
Sem falar, quando for hora de calar.
E sem calar, quando for hora de falar.
Nem ausente, nem presente por demais.
Simplesmente, calmamente, ser-te paz.
É bonito ser amigo, mas confesso é tão difícil aprender!
E por isso eu te suplico paciência.
Vou encher este teu rosto de lembranças,
Dá-me tempo, de acertar nossas distâncias...

A evolução da produção artística da minha neta Francisca







A produção artística da minha neta Francisca que fez três anos no fim de Outubro vai de vento em popa. Desta vez desenhou e pintou a mãe, o pai com calças e sapatos, a Windy e uma árvore. Enquanto transporto estas imagens para o computador tomo o pequeno almoço, como podem observar estou a portar-me muito bem: chá Roibos e duas maçãs.

domingo, 6 de dezembro de 2009

Correu muito bem a primeira viagem da Comunidade de Leitores











Ontem dia 5 inaugurámos a primeira saída da Comunidade de Leitores, subordinada ao tema «Identidade Ribatejana». Começámos pela linda igreja barroca de Samora Correia, que pertenceu à Ordem de Santiago. Quando lá chegámos a senhora que nos devia abrir a porta não estava, perguntei aos vizinhos por ela e só me indicaram a irmã, a D Felismina que morava perto. Fui lá a casa e ela telefonou à sua irmã que não se lembrava do compromisso, como morava longe fomos com a que morava mais perto da igreja e esta idosa foi fantástica, falou do templo com uma paixão e um entusiasmo que por vezes não vejo nos técnicos que estão nos monumentos, palácios e museus. Obrigada minha querida senhora, foi mesmo bom ouvi-la.
Partimos em seguida para o museu de Benavente onde estava a minha amorosa ex-aluna Perpétua. Houve grande interacção no grupo, pois tanto eu como ela assim o motivámos. A exposição centrava-se no touro como animal de trabalho depois de amansado e castrado (no passado de forma brutal) e nos ciclos agrícolas do Ribatejo, terra de grandes latifundiários desde há muitos séculos, com quintas de lavoura onde trabalhava muito campesinato e no caso do arroz tal como na Comporta, vinham sanzonalmente bandos de mulheres e homens para a ceifa, chamavam-se os ratinhos e os gaibéus nesta zona. Uma ribatejana nunca casava com um beirão, mas os ribatejanos sim.
Dali partimos para o museu do Neo-realismo em Vila Franca de Xira, um bonito museu que recomendo. Um edifício de raiz, de Alcino Soutinho, com um fantástico espólio e um projecto de museografia excelente e de uma grande clareza. Todos os públicos entendem o que foi o Neo-realismo, tanto na literatura, na arte, no cinema, etc., além disso a monitora é entusiasmada, conhece a colecção e sabe o que está a dizer. Não há dúvida que ninguém pode falar sobre aquilo que não conhece. Houve outra vez uma estupenda interacção com o grupo.
Depois do almoço fomos ao museu sede de Vila Franca de Xira, aí outro monitor explicou-nos a ocupação humana do território e as actividades que se desenvolveram através dos temos, e notámos que as fábricas estão todas a fechar. Vimos os migrantes que foram instalar-se neste concelho, os Varinos oriundos de Aveiro e os Avieiros de Vieira de Leiria. Não há cidade no nosso país que não tenha esta multiculturalidade resultante das constantes migrações do interior para o litoral ou do norte para o sul, procurando melhores condições de vida.
De seguida fomos ver um filme sobre a largada de toiros pelas ruas da cidade na festa do colete encarnado. Foi outra faceta da utilização deste animal. Devo dizer que não acho graça nenhuma às touradas, nem esperas de touros, nem largadas, isto não é para mim, mas reconheço que faz parte de uma tradição muito arreigada em determinadas regiões, mas acredito que dentro de uma dezena de anos, estas manifestações vão começar a enfraquecer, pois as novas gerações terão uma nova consciencialização sobre os direitos dos animais. Tivemos também durante a visita informação sobre uma peça de robertos que o museu mandou construir sobre a tourada com as figuras tradicionais: o toureiro, o bêbado, os forcados, o touro e outros tantos. É uma experiência a nível do serviço educativo que tem tido muito sucesso.
Após a visita e por gentileza do museu, na sala polivalente os trinta elementos do grupo debateram o «Barranco de Cegos» de Alves Redol. Foi um momento único. Toda a gente tinha lido o livro total ou parcialmente e a conversa foi muito animada à volta da figura de Diogo Relvas, um tirano da ideologia dominante, com fartos domínios no Ribatejo e Alentejo, senhor de tudo e de todos, que no decorrer do romance e consoante se iam alterando os regimes e o progresso avançava com novas indústrias, vias terrestres e rodoviárias, este protagonista tornou-se um reacionário decadente que foi um referente para os seus descendentes, principalmente o seu neto mais velho que o fez perdurar uma dezena de anos até que se transformou numa nuvem de pó. É um romance a não perder, pela escrita, pela modernidade do tema na década de quarenta do século passado, por algumas similitudes com o que se passa hoje. Partimos contentes e para a próxima será outro membro do grupo a coordenar o debate sobre «Os meus Amores» de Trindade Coelho, pois vamos para o ano para o Norte, na terceira sessão da Comunidade de Leitores, a segunda será ainda este mês, iremos cinquenta ver a Giselle ao teatro Camões pela Companhia Nacional de Bailado, onde o meu filho será o bailarino principal. No almoço do aniversário da Associação debateremos este bailado e o enquadramento romântico desta coreografia.
A visita terminou com uma ida à igreja de Vialonga, linda de morrer, com uns altares de talha dourada magníficos e um cristo indo-português dos melhores que temos visto. Quem diria que num lugar com construção tão nova havia uma igreja pequena, mas de uma grande beleza.
Tem pernas para andar esta Comunidade de Leitores da Associação Cultural Dr. Emmanuel Correia.
E já agora dou-vos a notícia para quem não sabe, o museu do Oriente recebeu o prémio da APOM, Associação Portuguesa de Museologia, como o melhor museu do ano. O arquitecto foi Carrilho da Graça, o museólogo Fernando António Baptista Pereira e o designer Nuno Gusmão. Estão de parabéns pelo prémio estes três elementos que honram a museologia nacional e que poderiam fazer museus em qualquer parte do mundo.








Vejam e digam de vossa justiça

http://www.youtube.com/watch?v=nhxf2Xg4xGc

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

De todo o corpo eu escolho....

A cabeça e o coração são a minha prioridade máxima no que diz respeito à saúde fisica e psicológica. A cabeça estabelece uma relação constante com o organismo, é o general em acção com as suas tropas. Tenho de ter esta central em forma e pronta para os embates da vida, por isso procuro estar activa, com projectos intelectuais variados e estimulantes e se alguns falham arranjarei outros, outros que me façam pensar, raciocinar e viver com qualidade. Como diz António Damásio as emoções não estão separadas da razão, a emoção e o sentimento são esssenciais à racionalidade. Por isso a nossa cabeça deve ser das ultimas a dar o berro. O coração simbolicamente tem que estar vestido de afectos, quer seja com a família mais chegada, amigos ou outros que necessitem de nós, o pior na vida é um coração congelado para o amor. A pulsação deste pobre músculo insensato, como refere Marta Dias, na sua letra do «Fadinho Simples», é crucial para o nosso quotidiano de fraquezas e forças.
Cabeça forte e ginasticada e idem para o coração. Ora o afecto tem que estar ligado a outros valores morais: compaixão e perdão. Se nós não perdoarmos aos outros não perdoamos a nós próprios, isto não quer dizer que não sejamos críticos e atentos às más energias que pululam à nossa volta, neste planeta doente e sem melhoras evidentes por enquanto. Isso é uma atitude inteligente, outra coisa é limpar do nosso coração os sentimentos que não estimulam o sucesso e a alegria de viver.
Amanhã vou para o Ribatejo com a «Comunidade de Leitores», pelas razões que eu acabei de escrever.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

A jarra da Bilocas...


Chama-se Anabela e eu trato-a por Bela e os meus filhos por Bilocas, começou aos treze anos a trabalhar numa fábrica de conservas, teve uma vida muito dificil. Há vinte e poucos anos que veio para minha casa ainda em Setúbal e quando mudei para Cascais veio comigo e depois seguiu-me para a Parede. Levanta-se às 6h da manhã para entrar cá em casa às 8h e 40m. Sai às 14h e 45m porque eu tive pena de ela sair às 17h e 30m, morando tão longe. Às vezes faz umas horas extraordinárias e fica até às 16h ou 17h, mas é raro. Conhece os meus filhos de pequenos e gosta muito deles. Não é de maneira nenhuma uma empregada exemplar no que diz respeito ao trabalho que realiza. Cozinha bem poucas coisas, engoma com algumas deficiências, faz muito razoavelmente limpezas, trata muito bem do jardim e da minha cadela, fala até com ela. Sim é verdade, a minha empregada tem monólogos com a minha cadela. Faz muito bem recados e mal arrumações, mas é leal e posso deixar com confiança a minha casa nas mãos dela.
Não se pode ter tudo na vida.
Hoje teve um gesto muito bonito, como sabe que eu adoro objectos dos anos 30 a 50, trouxe-me uma jarra da avó do marido, e eu agradeci e coloquei-a na minha secretária. É a jarra da Bilocas.

Acordar com...Carlos Drummond de Andrade e Eugénio de Andrade

(...)Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.

Carlos Drummond de Andrade


É esta a minha herança:
o sorriso azul de uma pedra branca.

Eugénio de Andrade

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Quando uma mulher se casa ou se junta com alguém e tem filhos, de alguma forma a sua vida até aí acaba e ela vai viver uma outra vida.


Pensei nisto depois de ter visto o filme «A Duquesa», um extraordinário filme:
Aos 17 anos, Georgiana Spencer (Keira Knightley) casou-se com um dos homens mais ricos e poderosos da Inglaterra, William Cavendish (Ralph Fiennes), o Duque de Devonshire, união negociada pelos seus pais. Na relação, a Duquesa tinha apenas uma única missão: dar ao marido um filho homem para que este pudesse herdar a sua fortuna e o seu título de nobreza. Mas além da filha que herdou inesperadamente do marido, de uma antiga relação com uma criada, Georgiana foi tendo filhas, duas filhas, recebendo o desprezo do seu frio e amargurado marido, que não sabia que o sexo de uma criança é da responsabilidade masculina.
Apesar de muito infeliz, a duquesa vai conquistando todo o povo inglês com sua simpatia. Georgiana era imitada por todos e procurada por aqueles que desejavam ascender socialmente. Assim, enquanto ela é adorada pelos ingleses, tem que enfrentar o marido que prefere as suas conquistas de momento ou mesmo os seus cachorros a ela, obrigando-a a viver na mesma casa com uma amante. Finalmente Georgiana encontra o amor e lealmente pede ao marido que a deixe seguir a sua vida, ficando ele com a sua amante. O Duque faz-lhe as maiores das chantagens com os filhos (ela finalmente tinha tido um rapaz), tal como ameaça destruir a vida do homem que ela amava. Ela fica grávida desse homem e é obrigada a ir para o campo para ter essa filha e a bébé é entregue aos pais do homem que ela teve de renunciar, depois de um acordo entre o Duque e a família do jovem amante, este trata a filha como sobrinha, casa com outra mulher como mandava os códigos da época e a duquesa visitou esta filha durante toda a vida em segredo.
A jovem duquesa matou a hipótese de felicidade por amor aos filhos e ao homem por quem se apaixonou, tudo porque não tinha vida nem vontade própria, porque não tinha direitos como mulher.
Baseado no best-seller de Amanda Foreman, o filme A Duquesa conta a história real de Georgina, que viveu entre os anos de 1757 e 1806.
Tantas mulheres sofreram e sofrem nos dias de hoje a dominação do homem e das convenções sociais, tão dificil é ainda em alguns países ser-se mulher. Não há dúvida que quando uma mulher casa ou vai viver com alguém e tem filhos, a vida que viveu até aí acaba para viver uma outra vida, que dependendo das circunstâncias pode ser de grande felicidade ou de tremenda tristeza para ela e para as crianças.

Hoje estava a pensar nisso quando estava no cabeleireiro, fui fazer um corte muito bonito. O Paulo Vieira é para mim um dos melhores cabeleireiros portugueses: Rua Manuel de Jesus Coelho, nº 4 - 2º andar, perpendicular à Avenida da Liberdade, ao pé do Tivoli. Recomendo. Quando vou lá demoro sempre três a quatro horas, mas como já sei que isso acontece, levo sempre um livro, hoje escolhi a biografia de Fontes Pereira de Melo escrita pela Filomena Mónica e estou a gostar muito. Persistente este Fontes, o homem das estradas e dos caminhos de ferro, sempre muito contestado pelos seus opositores: como a História se repete, tanto no percurso do Fontes, como na vida de algumas «duquesas» e plebeias que sofrem violência doméstica de toda a ordem.

Acordar com Alberto Caeiro

Passa uma borboleta por diante de mim
E pela primeira vez no Universo eu reparo
Que as borboletas não têm cor nem movimento,
Assim como as flores não têm perfume nem cor.
A cor é que tem cor nas asas da borboleta,
No movimento da borboleta o movimento é que se move,
O perfume é que tem perfume no perfume da flor.
A borboleta é apenas borboleta
E a flor é apenas flor.

Alberto Caeiro

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Adormecer com Ruy Belo

(...)Eu te saúdo outono punitivo
sinal desse silêncio que me não permite
desistir de cantar enquanto vivo
Que o vento a névoa a folha e sobretudo o chão
caibam dentro do espaço da minha canção (...)

Ruy Belo

Às vezes olho-me ao espelho

Às vezes olho-me ao espelho mais atentamente e vejo as rugas instalarem-se comodamente no meu rosto. Até agora não tem tido grande importância para mim e como não me pinto só o faço para ocasiões especiais, a pele ainda está razoável. Envelhecer é triste se esse envelhecimento vem acompanhado de dor e doença, mas é sempre triste digam lá o que disserem, no entanto o mais importante é encarar a velhice de frente e tratá-la como uma amiga. Os olhos têm mais peles, paciência, são no entanto mais argutos na observação do mundo que os rodeia, os lábios estão mais descaídos, claro que têm de estar, deram durante mais anos beijos do que as pessoas mais novas, o cabelo está mais fraco e os brancos começam a aparecer, dá-se um pouco de cor e corta-se mais curto, a cara até fica mais nova, os carrapitos ou as chamadas bananas envelhecem e os cabelos cortados à tropa também não favorecem as caras das mulheres mais velhas. Os músculos dos braços estão caídos, pois claro que estão, já não se pode dizer adeus com os braços levantados porque tudo abana, diz-se adeus com um grande sorriso e os braços quietos. O peito está descaído, pois está, tantos filhos se alimentaram aí, nesses acochegantes tufos de carne, para que não tivessem doenças, agora só resta comprar um soutien que as puxe para cima, tipo pequena grua, para disfarçar, mas simples sem ser daqueles até ao estomago, para podermos respirar bem. Fazer mamas novas com silicone, corremos o risco de quando estivermos velhas decrépitas, termos aquelas bolas todas direitas, e os estrondos que darão quando formos cremadas? Temos barriga e pneus, claro que temos que ter, tanto filho a nascer e tudo a alargar, uma cinta, não muito apertada, porque se apertamos muito em baixo saí tudo por cima, sempre disfarça uma pequena cinta, temos varizes nas pernas, devemos tratá-las e depois no inverno usamos collants de cor, pretos, castanhos, azuis escuros, ficamos catitas. Sofremos dos joelhos, paciência são as artroses que nos visitam quer queiramos quer não, são osso sobre osso, não devemos deixar de sair por causa disso, arranjamos um banquinho daqueles de caça como eu tenho que até servirá de bengala mais tarde e lá vamos nós para todo o sítio, quando estivermos cansadas abrimos o dito banco e sentamo-nos. Os joanetes apertam os pés, olha que novidade, tantos quilómetros andados ao longo da vida, compra-se um bom sapato de marca, aí não devemos economizar, sapato confortável e ala que se faz tarde. Ah é verdade, devemos usar malas pequenas, só com o indispensável, sejam elas malas de mão ou de viagem. As de viagem até devem ser daquelas que se levam no avião para não se estar à espera. Atenção, deve-se usar sempre um bom creme de dia e limpar muito bem o rosto à noite e usar creme de protecção no verão quando está sol. Se não temos muito dinheiro o velho creme Barral é bom e dura bastante tempo. Uma água de colónia fica sempre bem depois do banho, a velha Lavanda da Ach Brito vende-se aos litros, a Casa Portuguesa ao pé do Governo Civil de Lisboa tem à venda e a loja da Casa das Histórias da Paula Rego em Cascais também. O vestuário deve ser o mais prático possível, tipo como me dizia há muitos anos um aluno meu «a stora veste à aluna, as outras storas vestem à professora» e o que isto quer dizer ? Quer dizer isto: de inverno saias, camisolas de lã com coletes de lã, tudo dos mesmos tons, de vez em quando um lencinho ou um cachecol ou mesmo uma boina, collants e sapatos baixos ou altos de tacão grosso, capa ou canadiana. De verão saias frescas com blusas lisas sem mangas, com coletes coloridos ou blusas brancas, sandálias e por vezes lenços, vestidos de uma só cor e sapatos de tacão baixo para alguma cerimónia. O que é essencial são sempre muitos colares, para mim os colares são peças de vestuário, brincos também, anéis e pulseiras, mas não podem estar postos todos ao mesmo tempo pois a pessoa pode parecer que há árvore de Natal todo o ano. Um baton de brilho, cor-de-rosa o máximo e as unhas arranjadas com brilho assim como as unhas dos pés, no verão. Já usei unhas de gel nas mãos e não gostei da experiência. O essencial quando chegamos a uma determinada idade é não estarmos tão arrranjadas, tão produzidas que podemos parecer umas peruas: os cabelos armados com laca, a cara tão pintada que parece uma máscara, ou vestuário tão pesado que em vez de disfarçar a idade aumenta. Eu vou apresentar aqui de vez em quando aquilo que eu acho jovem para uma mulher que está a envelhecer, ah claro que quem tem corpo para calças de ganga ou outras, sempre. Por causa de estar a falar disto vou ao cabeleireiro amanhã fazer um corte e pintar, mas tenho sempre muito cuidado com a tinta que uso, só produtos naturais, não quero correr o risco de ficar careca ou então com cabelos tipo piaçaba, como infelizmente já vejo muitas mulheres com eles assim, de tanta tinta com má qualidade. Peles nem pensar, tudo sintético ou então daquelas que não são de animais de cativeiro, como na Argentina que aproveitam a pele da vaca. Os animais em cativeiro são um atentado à natureza, para se fazer um casaco de vison são necessários dezenas de animais que por vezes são criados em condições desumanas. Todos os casacos de pele que herdei despachei-os a grande velocidade. Uma mulher que envelhece com respeito pela diversidade e pela natureza, procurando o equílibrio ecológico em tudo, de certeza envelhece de uma forma mais sábia. Um dia no estrangeiro onde eu estava a fazer um estágio fui jantar mais uns colegas desse mesmo estágio a casa de uma representante do nosso país, que tinha uma mãe muito velha, tipo perua rica que não se calava, tipo picareta falante, criticando tudo e todos. Quando a mãe se foi deitar, a filha pediu-nos desculpa dos despautérios da sua mãe e disse esta frase terrível: os velhos (as velhas) só se aguentam se forem ricos (ou ricas) ou sábios (sábias). Terrível não é? Pobres ou ricos, velhos e velhas de todo o mundo uni-vos na sagesse.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Adormecer com Cecília Meirelles

A vida só é possível reinventada. Anda o sol pelas campinas e passeia a mão dourada pelas águas, pelas folhas... Ah! tudo bolhas que vem de fundas piscinas de ilusionismo... — mais nada. Mas a vida, a vida, a vida, a vida só é possível reinventada. (...)

O mote para o meu dia é este poema do Neruda

A minha amiga Mané enviou-me este poema de um poeta que eu adoro: Neruda. Ele vai-me inspirar o dia de hoje. Vou estar agarrada ao computador e a fazer arrumações de livros para os entregar e aproveitar uma nova redistribuição dos meus que são tantos, tendo em conta as estantes que o meu filho me trouxe para casa e eu meti na garagem. Vou também pensar nas viagens que vou realizar no mês de Dezembro e nas exposições que tenho de visitar com os meus alunos. Obrigada Mané.
Morre lentamente quem …
Morre lentamente quem não viaja,
Quem não lê,
Quem não ouve música,
Quem destrói o seu amor-próprio,
Quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente quem se transforma escravo do hábito,
Repetindo todos os dias o mesmo trajecto,
Quem não muda as marcas no supermercado,
Não arrisca vestir uma cor nova,
Não conversa com quem não conhece.
Morre lentamente quem evita uma paixão,
Quem prefere O "preto no branco"
E os "pontos nos is" a um turbilhão de emoções indomáveis,
Justamente as que resgatam brilho nos olhos,
Sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos.
Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho,
Quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho,
Quem não se permite,
Uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte
Ou da chuva incessante,
Desistindo de um projecto antes de iniciá-lo,
Não perguntando sobre um assunto que desconhece
E não respondendo quando lhe indagam o que sabe.
Evitemos a morte em doses suaves,
Recordando sempre que estar vivo
Exige um esforço muito maior do que o simples acto de respirar.
Estejamos vivos, então!
Pablo Neruda

domingo, 29 de novembro de 2009

A família vista pela minha neta mais velha











Ontem fui ver a casa nova do meu filho R. e achei-a linda, tanto a casa como a zona. Vão ficar com uma vista fabulosa e a casa vai ser decorada lentamente ao gosto deles. Fiquei contente.
As obras na casa do meu filho F.A. terminaram e ficaram muito bem, espero que a aluguem depressa, mas no sítio que é não é dificil. As obras da casa da minha filha I. começam dia 1 e a mudança para a casa nova inicia-se em Dezembro, de certeza que no Natal já está tudo como deve ser. O mês tem sido muito agitado para o Sr. Manuel, o multiusos que me ajuda em tudo cá de casa e na dos meus filhos.
Hoje houve muita movimentação, os meus filhos com filhos foram visitar-me e parecia um filme de Fellini. No andar de cima, a minha filha M. terminava uma tradução, noutra sala o meu marido mais uma nossa amiga faziam a revisão. No andar de baixo, o meu neto A.M. comia com algumas caretas o yogurte, a minha neta F. desenhava a família e a minha neta M. olhava tudo à volta procurando a figura da sua mãe. Fiz uma distribuição de colares, anéis e brincos pelas filhas e nora, alguns voltaram ao lugar habitual, outros partiram para outras casas, na saída a confusão de sempre, «onde estão os meus óculos?» «viste o meu telemóvel?» «avó este colar fica cá». Depois o meu filho F. e a minha nora deram-me uma boleia, um pouco atrapalhada porque o meu sentido de orientação é péssimo.
Fui aos anos da Pi, estavam lá umas amigas do grupo de viagens e foi divertido, se bem que ao princípio só falássemos das desgraças do nosso país. Quando cheguei a casa estive a ver os desenhos da minha neta e pasmei com a evolução tão rápida, dos riscos passou à forma e aos pormenores. Como ela cresceu.