domingo, 31 de agosto de 2008

Só em Portugal 31 mulheres assassinadas por violência doméstica. Que horrror. Mas o problema é mundial.


Minha culpa

Sei lá! Sei lá! Eu sei lá bem
Quem sou? Um fogo-fátuo, uma miragem...
Sou um reflexo... um canto de paisagem
Ou apenas cenário! Um vaivém

Como a sorte: hoje aqui, depois além!
Sei lá quem sou? Sei lá! Sou a roupagem
De um doido que partiu numa romagem
E nunca mais voltou! Eu sei lá quem!...

Sou um verme que um dia quis ser astro...
Uma estátua truncada de alabastro..
Uma chaga sangrenta do Senhor...

Sei lá quem sou?! Sei lá! Cumprindo os fados,
Num mundo de maldades e pecados,
Sou mais um mau, sou mais um pecador...
Florbela Espanca

sábado, 30 de agosto de 2008

Espanto dos espantos - o mundo da rúcula começou para mim.

Sim, penso que desta vez começei a fazer dieta. Começou no dia 29 de Agosto. Data estranha. Consultei a minha querida médica e quando fui à farmácia levantar os medicamentos homeopáticos de apoio, disse para comigo «Anad está na hora» e estranhamente iniciei o processo. Não vou falar mais nele enquanto não tiver resultados.

Há-de flutuar uma cidade

há-de flutuar uma cidade no crepúsculo da vida
pensava eu... como seriam felizes as mulheres
à beira mar debruçadas para a luz caiada
remendando o pano das velas espiando o mar
e a longitude do amor embarcado

por vezes
uma gaivota pousava nas águas
outras era o sol que cegava
e um dardo de sangue alastrava pelo linho da noite
os dias lentíssimos... sem ninguém

e nunca me disseram o nome daquele oceano
esperei sentada à porta... dantes escrevia cartas
punha-me a olhar a risca de mar ao fundo da rua
assim envelheci... acreditando que algum homem ao passar
se espantasse com a minha solidão

(anos mais tarde, recordo agora, cresceu-me uma pérola no coração mas estou só, muito só, não tenho a quem a deixar.)


um dia houve
que nunca mais avistei cidades crepusculares
e os barcos deixaram de fazer escala à minha porta
inclino-me de novo para o pano deste século
recomeço a bordar ou a dormir
tanto faz sempre
tive dúvidas que alguma vez me visite a felicidade

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Começar esta manhã com Ruy Belo

Mas que sei eu
Mas que sei eu das folhas no outono
ao vento vorazmente arremessadas
quando eu passo pelas madrugadas
tal como passaria qualquer dono?
Eu sei que é vão o vento e lento o sono
e acabam coisas mal principiadas
no ínvio precipício das geadas
que pressinto no meu fundo abandono
Nenhum súbito lamenta
a dor de assim passar que me atormenta
e me ergue no ar como outra folha
qualquer. Mas eu sei que sei destas manhãs?
As coisas vêm vão e são tão vãs
como este olhar que ignoro que me olha

Ruy Belo
Todos os Poemas

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

O programa de verão do Serviço Educativo do Museu de Alpiarça veio para ficar




Ateliês de pintura e teatro de fantoches realizado pelas voluntárias do museu. Um grupo fantástico de antigas professoras do 1º ciclo e outras senhoras, todas reformadas, que generosamente dão parte do seu tempo livre ao projecto do serviço educativo do museu. Museologia Social é isto, trabalho voluntário e projectos com a comunidade de forma continuada.


Os ateliês de dança no Museu dos Patudos em Alpiarça foram um sucesso. Claro que o bailarino professor foi fantástico








domingo, 24 de agosto de 2008

Citando o Dhammapada

Citando o Dhammapada (palavras do Buda): «Em todas as coisas o principal é a mente; a mente é predominante. Tudo se faz a partir da mente. Se um homem fala ou age com uma mente purificada, a felicidade acompanha-o de tão perto como a sua sombra inseparável.” Assim, se o Homem conseguir corrigir a sua mente, repelir a Ignorância que está na base do Sofrimento e purificar a sua Mente, encontra a Sabedoria e, repele o Sofrimento.»

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Coragem

Que a coragem não me falte, ao acordar
Que o olhar não se turve, se chorar
Que os ombros não se curvem, se pesar
Que o sorriso não esmoreça, se gelar

Que o meu passo não vacile, se doer
Que o sonho não desista, se sofrer
Que as mãos não se fechem, se perder
Que o medo não me vença, se vier

Que, enfim, o dia nasça devagar
E a lua, devagar, vá descansar
Que eu preciso de mim para viver
E não passo sem aquilo que sei ser.


Título: Coragem
Autor(a): Maria Carrilho
Data: Primavera de 2003

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Tardou mas veio. Parabéns Nelson Évora pela medalha de ouro


A propósito da morte do ourives em Setúbal

Não sei com que armas os homens lutarão na Terceira Guerra, mas na Quarta, será a pau e pedra –Einstein

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Admiro a coerência destes dois homens que por uma questão de príncípio, recusaram dois importantes prémios monetários

Herberto Helder em 1994 recusou o prémio Pessoa no valor de 7 000 Euros, e o dinheiro fazia-lhe falta, vive numa casa modesta com a sua mulher.
Em 2006, o escritor angolano Luandino Vieira recusou o prémio Camões no valor de 100.000 Euros. Ele vive retirado num convento.
Como eu os admiro... e como me lembro de outros com tanta crítica e láf oram receber os prémiozinhos pecuniários.

«Se eu quisesse, enlouquecia. Sei uma quantidade de histórias terríveis. Vi muita coisa, contaram-me casos extraordinários, eu próprio... Enfim, às vezes já não consigo arrumar tudo isso. Porque, sabe?, acorda-se às quatro da manhã num quarto vazio, acende-se um cigarro... Está a ver? A pequena luz do fósforo levanta de repente a massa das sombras, a camisa caída sobre a cadeira ganha um volume impossível, a nossa vida... compreende?... a nossa vida, a vida inteira, está ali como... como um acontecimento excessivo... Tem de se arrumar muito depressa. Há felizmente o estilo. Não calcula o que seja? Vejamos: o estilo é um modo subtil de transferir a confusão e violência da vida para o plano mental de uma unidade de significação. Faço-me entender? Não? Bem, não aguentamos a desordem estuporada da vida. E então pegamos nela, reduzimo-la a dois ou três tópicos que se equacionam. Depois, por meio de uma operação intelectual, dizemos que esses tópicos se encontram no tópico comum, suponhamos, do Amor ou da Morte. Percebe? Uma dessas abstracções que servem para tudo. O cigarro consome-se, não é?, a calma volta. Mas pode imaginar o que seja isto todas as noites, durante semanas ou meses ou anos? »
in Os Passos em Volta - Estilo
Herberto Helder
"Quando escrevi Luanda eu estava preso, em 1961/62. (...) A minha mulher, Linda, a quem o livro é dedicado, dactilografou e mostrou a um amigo que era jornalista no ABC, que era o jornal dos democratas liberais portugueses. O Alfredo Bobela Motta, angolano, escritor e nosso amigo era, na época, 1963, chefe de redacção. E decidiu logo que se devia avançar e fazer o livro. O livro foi então composto na tipografia do jornal. E o tipógrafo tirou logo provas que depois circularam nos musseques de Luanda. Esta foi a edição que veio para Portugal para o concurso da Sociedade Portuguesa de Escritores. Noutra edição do Luanda é que o título está a vermelho. A edição “brasileira.” Essa é uma história incrível. A indicação é que se trata de uma edição feita em Belo Horizonte, mas a realidade é que essa edição foi feita à minha revelia, por dois agentes da PIDE, em Portugal, na tipografia Pax, penso eu. Com todo aquele escândalo, que envolveu a destruição da Sociedade Portuguesa de Escritores, o livro tornou-se muito procurado. Esses dois agentes fizeram o livro, em Braga, distribuíram e ganharam um bom dinheiro com aquilo. O meu advogado quis logo meter um processo em tribunal e isso deu uma outra história incrível. Resumindo, perdi o processo, porque não se conseguiu provar nada – embora tudo fosse evidente até pelo tipo de papel era fácil identificar a tipografia – e ainda tive de pagar as custas do processo".
Luandino Vieira (retirado de Carta Maior)

Comoveu-me a tristeza de Gustavo Lima

«Gustavo Lima falhou a medalha de bronze da classe Laser dos Jogos Olímpicos por um ponto e anunciou, em lágrimas, o fim da sua carreira na vela. O canonista Emanuel Silva qualificou-se para as meias-finais.
"O que eu sofri para chegar aqui foi muito. As pessoas podem rir, podem gozar por eu estar a chorar. Mas eu sofri muito e já estou farto e vou abandonar a vela", declarou Gustavo Lima, após perder a medalha de bronze por um ponto.»


Fiquei comovida com este desespero e a falta de apoio que ele denunciou. As escolas para desenvovimento do desporto na infância é só futebol, futebol, futebol e as outras modalidades que se amanhem. Quem tem pai rico consegue ir mais longe, neste caso até agora não se notou, quem tem pai pobre, não pode ir ao BES, tem de ser a luta, a coragem e a abnegação como demonstrou Vanessa Fernandes que a todos nos orgulhou. Já repararam que as medalhas que temos tido são quase todas referentes a desportos que basta correr bem e ter um descampado para treinar.

Os nosssos atletas deviam ter ido dois ou três meses antes para Pequim para se ambientarem aos locais onde iam prestar provas.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Hoje o vento sopra forte e eu oiço o ruído do mar...




O MAR

Ondas que descansam no seu gesto nupcial

abrem-se caem

amorosamente sobre os próprios lábios

e a areia

ancas verdes violetas na violência viva

rumor do ilimite na gravidez da água

sussurros gritos minerais inércia magnífica

volúpia de agonia movimentos de amor

morte em cada onda sublevação inaugural

abre-se o corpo que ama na consciência nua

e o corpo é o instante nunca mais e sempre

ó seios e nuvens que na areia se despenham

ó vento anterior ao vento ó cabeças espumosas

só silêncio sobre o estrépito de amorosas explosões

e só eternidade do mar ensimesmado unânime

em amor e desamor de anónimos amplexos

múltiplo e uno nas suas baixelas cintilante

só mar ó presença ondulada do infinito

ó retorno incessante da paixão frigidíssima

ó violenta indolência sempre longínqua sempre ausente

ó catedral profunda que desmoronando-se permanece!

António Ramos Rosa

Facilidade do ArLisboa,

Caminho, 1990

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Vou ser capaz

Tenho junto de mim um ser humano a dormir, serena e plácida e aos seus pés a minha cadelinha, atenta e protectora. Bastava-me isto para ser feliz, mas tenho outros amores, as minhas duas filhas e os meus dois filhos que os fiz vir ao mundo ainda jovem e no caso das mais velhas com muita inexperiência. O que eu aprendi com a vida e com elas e eles. Fizeram-me descobrir coisas que eu nunca pensei que tivesse capacidade de as ter feito para o bem e para o mal. Nós nunca somos um livro aberto. Somos vários livros em diferentes alturas da vida ou ainda no mesmo momento.
A existência é uma construção e temos de nos despir dessa construção tão ficticia, primeiro dos bens materiais, mas também dos culturais de tudo o que temos sedimentado no corpo e que nos obriga a rotinas e comportamentos paginados por um mesmo mestre: a sociedade.

Ser livre e desejar morrer com um pouco de sabedoria, temos de optar, optar pelo simples e quando digo simples, não digo simplório, digo a capacidade de silêncio e tolerância pelo outro e o desenvolvimento da capacidade de se dar. Meditação e reflexão sobre o que somos e viver com esse pano de fundo, tudo muda na nossa vida: alimentação, opções, harmonia com a natureza e com os seres vivos. Dificil, claro que é mas tudo é possível quando está em causa o bem estar de outros e a capacidade de poder cumprir em parte os objectivos que o Universo traçou para nós. Eu acredito em Deus, de uma forma especial, muito minha, por isso tenho esperança na mudança e quero acreditar que vou ser capaz.

domingo, 17 de agosto de 2008

Para não deixar de ver

http://www.theatlantic.com/doc/200807/google

A propósito dos freelancers

Sempre tive uma admiração profunda por aqueles que na sua profissão são freelancers. Não têm patrões, gerem a sua vida profissional a seu belo prazer e andam por todo o país ou fora dele na busca do projecto ideal, fazem o seu pé de meia para os dias piores sem trabalho e são felizes, ou parecem ser, porque isto do ser e parecer vai uma grande volta.
Tenho reparado que na Internet existem várias formas de trabalho deste género e particularmente no artesanato, ilustração e artes plásticas que são os que mais me têm interessado, não há dúvida que saber o que se quer da vida de uma forma objectiva é um dom, um dom mais que precioso.

A minha vida por exemplo de 41 anos de serviço público, aparentemente certinha e sem percalsos de não ter o salário ao fim do mês, foi uma vida cheia de turbilhões, stress e descontinuidade de prazer profissional. Aceitei cargos por questões económicas e por solidariedade com colegas, apanhei por tabela as más decisões dos políticos e não soube dirigir de forma equilibrada a minha vida no activo que muitas e muitas vezes se repercutiu na vida familiar.

Tenho uma pena imensa dos carreiros e estradas e auto-estradas que muitas vezes segui, e os culpados das nossas opções somos nós, sempre nós, mas passado é passado e temos sempre que procurar novos caminhos no caminho que nos resta, agora com mais sabedoria devemos dar graças por tudo o que tivemos e agradecer ainda um novo dia e aceitar com amor aquilo que a vida nos traz. Não interessa a vitimização, nem a angústia, ela não nos resolve problemas, devemos sim, procurar a calma e a placidez dos dias e da natureza, naquilo que é mais simples, primário e salutar. Agora mesmo ergui os olhos e vi árvores de um verde lindo defronte da minha janela e do lado esquerdo na outra janela uma nesga do oceano. Que mais hei-de querer nesta manhã de domingo. O resto que me está destinado que venha que eu aceitarei sem reservas.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Gostava de saber os níveis de filantropia dos mais ricos em Portugal.

«O Sanatório de Sant’Anna foi assim inaugurado no dia 31 de Julho de 1904, por D. Claudina Chamiço, sua instituidora, que o legou à Misericórdia “… por ser a Instituição que pela sua respeitabilidade, antiguidade e garantia de duração, mais própria lhe pareceu para receber este legado”.
Será que nos dias de hoje há assim tantos legados ao país? Hospitais, creches e outras instituições de carácter social, doados por aqueles que têm muito dinheiro. Ao ler a revista Exame, verifiquei que nós neste país tão carente de tudo temos "muitos ricos", Amorim, Belmiro de Azevedo, uma senhora Espírito Santo, os Mellos etc., etc.,. Gostava de saber que obras sociais eles têm feito. Obras concretas: hospitais, creches, ambulatórios, postos médicos etc., etc,. O que até agora tenho lido nos jornais é que o INEM e os Bombeiros não chegam para as encomendas. Onde está a filantropia??

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Ao menos que venha uma medalha de bronze. Eu tenho esperança

Continuo com alguma esperança nos nossos atletas nos Jogos Olímpicos, mas já era hora de alguma medalha, de bronze pelo menos. Tanta propaganda e tanta prosápia dos nossos governantes e afinal os nossos atletas não têm condições para chegar lá. Vejam no futebol a quantidade de estádios que foram feitos no nosso país, para o campeonato europeu. Seriam necessários tantos? Comparemos com a Noruega, o país mais rico da Europa, nem meia dúzia de estádios têm e nós quase uma dúzia. Como eu gostava de compreender tudo isto. Como eu gostava de perceber como são geridos os impostos deste povo.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Receita para um jet - set nacional, por Mia Couto

Já vimos que, em Moçambique, não é preciso ser rico. O essencial é parecer rico. Entre parecer e ser vai menos que um passo, a diferença entre um tropeço e uma trapaça.No nosso caso, a aparência é que faz a essência. Daí que a empresa comece pela fachada, o empresário de sucesso comece pelo sucesso da sua viatura, a felicidade do casamento se faça pela dimensão da festa. A ocasião, diz-se, é que faz o negócio. E é aqui que entra o cenário dos ricos e candidatos a ricos: a encenação do nosso "jet-set".O "jet-set" como todos sabem é algo que ninguém sabe o que é. Mas reúne a gente de luxo, a gente vazia que enche de vazio as colunas sociais. O jet-set moçambicano está ainda no início. Aqui seguem umas dicas que, durante o próximo ano, ajudarão qualquer pelintra a candidatar-se a um jet-setista. Haja democracia! As sugestões são gratuitas e estão dispostas na forma de um pequeno manual por desordem alfabética:Anéis - São imprescindíveis. Fazem parte da montra. O princípio é: quem tem boa aparência é bem aparentado. E quem tem bom parente está a meio caminho para passar dos anéis do senhor à categoria de Senhor dos Anéis O jet-setista nacional deve assemelhar-se a um verdadeiro Saturno, tais os> anéis que rodeiam os seus dedos. A ideia é que quem passe nunca confunda o jet-setista com um magaíça*, um pobre, um coitado. Deve-se usar jóias do tipo matacão, ouros e pedras preciosas tão grandes que se poderiam chamar de penedos preciosos. A acompanhar a anelagem deve exibir-se um cordão de ouro, bem visível entre a camisa desabotoada.Boas maneiras - Não se devem ter. Nem pensar. O bom estilo é agressivo, o arranhão, o grosseiro. Um tipo simpático, de modos afáveis e que se preocupa com os outros? Isso, só uma pessoa que necessita de aprovação da sociedade. O jet-setista nacional não precisa de aprovação de ninguém, já nasceu aprovado. Daí os seus ares de chefe, de gajo mandão, que olha o mundo inteiro com superioridade de patrão. Pára o carro no meio da estrada atrapalhando o trânsito, fura a bicha**, passa à frente, pisa o cidadão anónimo. Onde os outros devem esperar, o jet-setista aproveita para exibir a sua condição de criatura especial. O jet-setista não espera: telefona. E manda. Quando não desmanda.
Cabelo - O nosso jet-setista anda a reboque das modas dos outros. O que vem dos americanos: isso é que é bom. Espreita a MTV e fica deleitado com uns moços cuja única tarefa na vida é fazer de conta que cantam. Os tipos são fantásticos, nesses video-clips: nunca se lhes viu ligação alguma com o trabalho, circulam com viaturas a abarrotar de miúdas descascadas. A vida é fácil para esses meninos. De onde lhes virá o sustento? Pois esses queridos fazem questão em rapar o cabelo à moda militar, para demonstrar a sua agressividade contra um mundo que os excluiu mas que, ao que parece, lhes abriu a porta para uns tantos luxos. E esses andam de cabelo rapado. Por enquanto.
Cerveja - A solidez do nosso matreco vem dos líquidos. O nosso candidato a jet-setista não simplesmente bebe. Ele tem de mostrar que bebe. Parece um reclame publicitário ambulante. Encontramos o nosso matreco de cerveja na mão em casa, na rua, no automóvel, na casa de banho. As obsessões do matreco nacional variam entre o copo e o corpo (os tipos ginasticam-se bem). Vazam copos e enchem os corpos (de musculaças). As garrafas ou latas vazias são deitadas para o meio da rua. Deitar a lata no depósito do lixo é uma coisa demasiado "educadinha". Boa educação é para os pobres. Bons modos são para quem trabalha. Porque a malta da pesada não precisa de maneiras. Precisa de gangs. Respeito? Isso o dinheiro não compra. Antes vale que os outros tenham medo.
Chapéu - É fundamental. Mas o verdadeiro jet-setista não usa chapéu quando todos os outros usam: ao sol. Eis a criatividade do matreco nacional: chapéu ele usa na sombra, no interior das viaturas e sob o tecto das casas. Deve ser um chapéu que dê nas vistas. Muito aconselhável é o chapéu de cowboy, à la Texana. Para mostrar a familiaridade do nosso matreco com a rudeza dos domadores de cavalos. Com os que põe o planeta na ordem. Na sua ordem.Cultura - O jet-setista não lê, não vai ao teatro. A única coisa que ele lê são os rótulos de uíque. A única música que escuta são umas "rapadas e hip-hopadas" que ele generosamente emite da aparelhagem do automóvel para toda a cidade. Os tipos da cultura são, no entender do matreco nacional, uns desgraçados que nunca ficarão ricos. O segredo é o seguinte: o jet-setista nem precisa de estudar. Nem de ter Curriculum Vitae. Para quê? Ele não vai concorrer, os concursos é que vão ter com ele. E para abrir portas basta-lhe o nome. O nome da família, entenda-se.
Carros - O matreco nacional fica maluquinho com viaturas de luxo. É quase uma tara sexual, uma espécie de droga legalmente autorizada. O carro não é para o nosso jet-setista um instrumento, um objecto. É uma divindade, um meio de afirmação. Se pudesse o matreco levava o automóvel para a cama. E, de facto, o sonho mais erótico do nosso jet-setista não é com uma Mercedes. É, com um Mercedes.
Fatos - Têm de ser de Itália. Para não correr o risco do investimento ser em vão, aconselha-se a usar o casaco com os rótulos de fora, não vá a origem da roupa passar despercebida. Um lencinho pode espreitar do bolso, a sugerir que outras coisas podem de lá sair.Simplicidade - A simplicidade é um pecado mortal para a nossa matrecagem. Sobretudo, se se é filho de gente grande. Nesse caso, deve-se gastar à larga e mostrar que isso de país pobre é para os outros. Porque eles (os meninos de boas famílias) exibem mais ostentação que os filhos dos verdadeiros ricos dos países verdadeiramente ricos. Afinal, ficamos independentes para quê?Óculos escuros - Essenciais, haja ou não haja claridade. O style - ou em português, o estilo - assim o exige. Devem ser usados em casa, no cinema, enfim, em tudo o que não bate o sol directo. O matreco deve dar a entender que há uma luz especial que lhe vem de dentro da cabeça. Essa a razão do chapéu, mesmo na maior obscuridade.
Telemóvel - Ui, ui, ui! O celular ou telemóvel já faz parte do braço do matreco, é a sua mais superior extremidade inferior. A marca, o modelo, as luzinhas que acendem, os brilhantes, tudo isso conta. Mas importa, sobretudo, que o toque do celular seja audível a mais de 200 metros. Quem disse que o jet-setista não tem relação com a música clássica? Volume no máximo, pelo aparelho passam os mais cultos trechos: Fur Elise de Beethoven, a Rapsódia Húngara de Franz Liszt, o Danúbio Azul de Strauss. No entanto, a melodia mais adequada para as condições higiénicas de Maputo é o Voo do Moscardo. Última sugestão: nunca desligue o telemóvel! O que em outro lugar é uma prova de boa educação pode, em Moçambique, ser interpretado como um sinal de fraqueza. Em Conselho de Ministros, na confissão da Igreja, no funeral do avô: mostre que nada é mais importante que as suas inadiáveis comunicações. Você é que é o centro do universo!
Mia Couto

Eu não posso ficar passiva...e você?

Uma criança de 11 anos foi morta, segunda-feira, por disparos de um militar da GNR, numa perseguição depois de um assalto, em que participaram dois adultos (incluindo o pai da criança).
O pai da criança segundo parece era um foragido de Alcoentre.
Pergunto: onde é que está o papel do estado na protecção desta criança oriunda de uma família de risco? Onde é que está o papel da segurança social, no apoio a esta criança, visitando-a e sabendo em que condições vive?
É este o fado dos desfavorecidos da sorte, criados em famílias funcionais, que quando são pobres são pobres em tudo. Onde está a igualdade de oportunidades? Onde está a escola que em princípio deveria ter em conta as condições psicológicas desta criança? EU não posso ver só o lado positivo da vida, eu não posso ficar passiva perante a injustiça porque essa atitude é um dos sete sapatos sujos que tenho que descalçar para entrar na modernidade, como disse Mia Couto, numa das suas conferências.

Esta manhã acordei com Borges no meu pensamento

Eu gostava como no conto de Borges, ser a protagonista que se depara com a possibilidade de conhecer o ponto do espaço que abarca toda a realidade do universo num local bastante inusitado: no porão de um casarão situado em Buenos Aires, prestes a ser demolido. Este ponto recebe a alcunha de Aleph - a letra inicial do alfabeto hebraico, correspondente ao alfa grego e ao a dos alfabetos romanos.
(Adaptação do texto da Wilkipédia sobre Borges)

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Ah esqueci-me de dizer que a minha cadela me acompanha sempre


Um novo dia

De manhã desço ao jardim e recupero as forças para um novo dia. Neste espaço escuto a voz do mar em dias de ondas alteradas e noutros mais luminosos brinco com a minha neta ou converso com uma das minhas filhas que está a passar uns tempos comigo.

Tenho de agradecer quando acordo tudo o que tenho, mesmo os bons e os maus momentos. Nada me falta e particularmente sinto-me mal, quando protesto, tendo em conta aqueles que longe são violados, passam fome e são humilhados nos direitos que a que têm direito. Oiço as notícias da Georgia e pergunto a mim mesma quando é que um dia o mundo poderá ser uma paisagem de paz e harmonia? Olho para África e pergunto quando é que as crianças vão deixar de ser exploradas e as suas necessidades primárias satisfeitas? Olho para a Amazónia e pergunto quando é que a sua destruição abrandará pois afectará o equilíbrio ecológico planetário?

Podia fazer uma e mais perguntas, por isso tenho de agradecer tudo o que tenho mesmo que tenha de sofrer pelas imprevidências cometidas e pelos atalhos mal escolhidos.

Mas como diz Mia Couto temos de descalçar sete sapatos sujos para seguir em frente e entrar na modernidade:


  • A ideia de que os culpados são sempre os outros

  • A ideia de que o sucesso não nasce do trabalho

  • O preconceito de quem critica é um inimigo

  • A ideia de que mudando as palavras se muda a realidade

  • A vergonha de ser pobre e o culto das aparências

  • A passividade perante a injustiça

  • A ideia de que para sermos modernos temos que imitar os outros

É sempre bom termos algumas ideias para a nossa meditação diária

sábado, 9 de agosto de 2008

Trabalhos de mãos são beijos de amor

Tenho cada vez mais vontade de fazer «coisas» artísticas, artesanais ou lá como quisermos chamar. Estou a preparar-me para isso e depois vou dando conta do que vai acontecendo. Sinto-me cheia de energia interior para expandir através de trabalhos o que sinto, o que desejo ou mesmo o que me angustia. Gostava tanto de ter sido feliz, muito feliz, como aquelas famílias de que fala Tolstoi, no início do seu romance Ana Karenina «Todas as famílias felizes são iguais. As infelizes o são cada uma à sua maneira". Este desejo ridículo é um analgésico para a as dores desta vida. Nós temos altos e baixos. Costumo dizer que atravessarei como uma tartaruga o oceano, mergulhando e vindo ao de cima, mas também não me incomoda a imagem de uma tartaruga num concurso de hipismo, com obstáculos.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Álvaro de Campos

Nunca me canso deste poema, leio-o vezes sem conta. As palavras e os sons que dele saiem aquecem a minha imaginação. Desculpem a forma como está escrito,mas acho graça lê-lo assim todo corrido.

Tabacaria
Não sou nada.Nunca serei nada.Não posso querer ser nada.à parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.Janelas do meu quarto,Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é(E se soubessem quem é, o que saberiam?),Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,Com a morte a pôr humidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,E não tivesse mais irmandade com as coisasSenão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da ruaA fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitadaDe dentro da minha cabeça,E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.Estou hoje dividido entre a lealdade que devoÀ Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.Falhei em tudo.Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.A aprendizagem que me deram,Desci dela pela janela das traseiras da casa.Fui até ao campo com grandes propósitos.Mas lá encontrei só ervas e árvores,E quando havia gente era igual à outra.Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei-de pensar?Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!Génio? Neste momentoCem mil cérebros se concebem em sonho genios como eu,E a história não marcará, quem sabe?, nem um,Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.Não, não creio em mim.Em todos os manicómios há doidos malucos com tantas certezas!Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?Não, nem em mim...Em quantas mansardas e não-mansardas do mundoNão estão nesta hora génios-para-si-mesmos sonhando?Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,E quem sabe se realizáveis,Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?O mundo é para quem nasce para o conquistarE não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,Ainda que não more nela;Serei sempre o que não nasceu para isso;Serei sempre só o que tinha qualidades;Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem portaE cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,E ouviu a voz de Deus num poço tapado.Crer em mim? Não, nem em nada.Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardenteO seu sol, a sua chuva, o vento que me acha o cabelo,E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.Escravos cardíacos das estrelas,Conquistámos todo o mundo antes de nos levantar da cama;Mas acordámos e ele é opaco,Levantamo-nos e ele é alheio,Saímos de casa e ele é a terra inteira,Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.(Come chocolates, pequena;Come chocolates!Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.Come, pequena suja, come!Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)Mas ao menos fica da amargura do que nunca sereiA caligrafia rápida destes versos,Pórtico partido para o Impossível.Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,Nobre ao menos no gesto largo com que atiroA roupa suja que sou, em rol, para o decurso das coisas,E fico em casa sem camisa.(Tu que consolas, que não existes e por isso consolas,Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,Ou não sei que moderno - não concebo bem o quê -Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!Meu coração é um balde despejado.Como os que invocam espíritos invocam espíritos invocoA mim mesmo e não encontro nada.Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,Vejo os cães que também existem,E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)Vivi, estudei, amei e até cri,E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o raboE que é rabo para aquém do lagarto remexidamenteFiz de mim o que não soubeE o que podia fazer de mim não o fiz.O dominó que vesti era errado.Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.Quando quis tirar a máscara,Estava pegada à cara.Quando a tirei e me vi ao espelho,Já tinha envelhecido.Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.Deitei fora a máscara e dormi no vestiárioComo um cão tolerado pela gerênciaPor ser inofensivoE vou escrever esta história para provar que sou sublime.Essência musical dos meus versos inúteis,Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,Calcando aos pés a consciência de estar existindo,Como um tapete em que um bêbado tropeçaOu um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.Olho-o com o desconforto da cabeça mal voltadaE com o desconforto da alma mal-entendendo.Ele morrerá e eu morrerei.Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.A certa altura morrerá a tabuleta também, e os versos também.Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,E a língua em que foram escritos os versos.Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como genteContinuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,Sempre uma coisa defronte da outra,Sempre uma coisa tão inútil como a outra,Sempre o impossível tão estúpido como o real,Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?),E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.Semiergo-me enérgico, convencido, humano,E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-losE saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.Sigo o fumo como uma rota própria,E gozo, num momento sensitivo e competente,A libertação de todas as especulaçõesE a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.Depois deito-me para trás na cadeiraE continuo fumando.Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.(Se eu casasse com a filha da minha lavadeiraTalvez fosse feliz.)Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).Ah, conheco-o; é o Esteves sem metafísica.(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universoReconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.

Clube literário do Porto

a partir de agora, visita obrigatória.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Morreu Alexandre Soljenitsin

Morreu o Nobel da Literatura de 1970, Alexandre Soljenitsin de 89 anos, o escritor que deu a conhecer ao mundo a crueldade soviética denunciando-a através da escrita.
Claro que pessoas como a deputada Odete Santos questionam a veracidade dos gulags.
Acrescento uma excelente prosa que retirei do blogue Espumadamente
«Devo a Soljenitsin as minhas primeiras incursões pelo universo do socialismo e da verdade dos comunistas. Dos amanhãs que se fartavam de cantar e do poder dissuasor da instrumenal comunista. Ainda muito jovem e com uma aflitiva ignorância política fui ouvindo as opiniões divididas. Dos que não duvidavam da verdade de Soljenitsin e dos que achavan que ele era um mercenário a soldo do imperialismo (ler este post do JCD). E foi lendo “O arquipélago” que fui percebendo o embuste e o crime, qualquer coisa me dizia que as coisas eram mesmo assim como ele escrevia. Mais tarde, naquilo a que passei a chamar de "aulas práticas" tive ocasião de observar “in loco” o corolário de Soljenitsin através da acção dos esbirros da União Soviética e dos muitos Camachos que fui encontrando pela vida.Alexandre Soljenitsin faleceu domingo na sua residência em Moscovo. Fiquei a dever-lhe muito.»

domingo, 3 de agosto de 2008

sábado, 2 de agosto de 2008

Foi há 63 anos


Esta imagem sobre Hiroshima é retirada do site do jornal «o Público». Foi há 63 anos que a bomba caíu sobre a cidade japonesa. Ainda hoje são evidentes as marcas dela, no corpo de muitas pessoas, visto que nasceram com deformações, devido às suas mães terem estado sujeitas aos efeitos da radioctividade. Calcula-se que morreram perto de 70.000 pessoas.

Era mesmo bom que os povos, os governantes, os pacifistas e todos os que quiserem estar nesta causa, unissem esforços para que estas catástrofes nunca mais sejam possíveis.

Mas há outra catástrofe que vai causar a morte de muita gente, diferente desta é certo mas maléfica, a poluição.

E agora nos jogos olimpicos, Mesmo com 'céu azul', o ar de Pequim é seguro?

O nosso país

O nosso país é feito de assimetrias que nos envergonham. Não há igualdade de oportunidades como está patente na constituição. Eu sou uma mulher que sempre me revoltei com a impotência na resolução de problemas. Tudo isto vem a propósito do evento que anunciei Startracking, a exibição de talentos notáveis na nossa sociedade. Tudo isto é de louvar, mas aquilo que me interrogo é o seguinte:


  • qual é a verdadeira igualdade de oportunidades que existe no nosso país? Há um verdadeiro despiste de talentos nas escolas, sejam eles quais forem e são devidamente acompanhados, porque o problema não está em dar oportunidades gratuitas de frequentar a formação necessária ao desenvolvimento da sua aptidão, a questão põe-se que apoio se dá às famílias dessa criança ou jovem que têm mais filhos e dificuldades económicas que inviabilizam o transporte, uma boa alimentação etc.


  • essa igualdade de oportunidades só a vejo no futebol, aí há interesse. As crianças até saiem das suas terras e ficam internos nos clubes. Vejam o caso do Cristiano Ronaldo que veio aos 13 anos da Madeira para o Sporting. É FUTEBOL.


  • e por exemplo se uma criança pobre demonstrasse grande talento para a música, piano, por exemplo, o mesmo acontecia. Compravam-lhe um piano para ensaiar em casa? Pagavam a sua formação?


  • eu tenho um filho 1º bailarino que esteve numa escola fabulosa onde os directores lutavam para que as crianças desfavorecidas com talento, pudessem ser grandes bailarinos e muitos ficaram pelo caminho, porque as escolas oficiais não têm o devido acompanhamento social que as famílias com esses filhos deviam ter.


  • quantos sobredotados de famílias carenciadas são ostracizados nas escolas porque não são compreendidos e podiam ser engenheiros, médicos ou artistas.

Um pobre quando é pobre acaba por ser pobre em tudo.