Ondas que descansam no seu gesto nupcial
abrem-se caem
amorosamente sobre os próprios lábios
e a areia
ancas verdes violetas na violência viva
rumor do ilimite na gravidez da água
sussurros gritos minerais inércia magnífica
volúpia de agonia movimentos de amor
morte em cada onda sublevação inaugural
abre-se o corpo que ama na consciência nua
e o corpo é o instante nunca mais e sempre
ó seios e nuvens que na areia se despenham
ó vento anterior ao vento ó cabeças espumosas
só silêncio sobre o estrépito de amorosas explosões
e só eternidade do mar ensimesmado unânime
em amor e desamor de anónimos amplexos
múltiplo e uno nas suas baixelas cintilante
só mar ó presença ondulada do infinito
ó retorno incessante da paixão frigidíssima
ó violenta indolência sempre longínqua sempre ausente
Facilidade do ArLisboa,
Caminho, 1990
3 comentários:
Simpática Amiga:
Um fantástico e belo poema feito ao mar. Mar, de inspiração poética, de sonhos, de devaneios, de ternura e de beleza.
Brilhante escolha.
Gostei muito. Excelente!
Beijinhos de respeito, estima e consideração.
Sempre a admirá-la e ao que escreve genialmente numa forma poética sublime
pena
Anad,desta vez excedeu-se.O senhor António Ramos Rosa é de nos deixar de gatas,derreadas sob o peso torrencial das suas magníficas palavras e da força explosivamente poéticas das imagens mentais que elas em nós despertam.
Arrasador.Tou de quatro nina!
Fique bem.Inté.Dri
Aninhas,
Sabes ? O Poeta, como nós lhe chamávamos na rua, era meu vizinho e, este poema fez-me lembrar uma das últimas imagens que guardo dele, nesse tempo.
Por volta das três ou quatro da tarde, atravessava a rua, enfiando um sobretudo por cima do pijama e, lá ia ao café da esquina, um D. Quixote trazendo ainda nos olhos as pás dos moinhos, a mostrar que os poetas não têm apenas fome de palavras.
Gr.Bjoca
Mané
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