domingo, 31 de maio de 2009

A realidade e a ficção no rosto de uma pessoa


Sempre a vi pintada. Excessivamente pintada. Cabelos sempre pintados. Excessivamente pintado. Queixando-se constantemente dos males dos ossos, não deixava de usar saltos altos. Sempre.
Os olhos excessivamente pintados, assim como as sobrancelhas e as pestanas e os lábios carnudos de vermelho vivo, de dia ou de noite. O rosto com muita base escura, porque era morena. Os vestidos muito espampanantes, sempre na moda, na versão possidónia, mas sempre na moda. Muito virada para si, muito obcecada pela sua imagem. Ela em primeiro lugar, os filhos e os netos e restante família em segundo. Infeliz é certo, de certeza. Profundamente infeliz com a vida que viveu, fruto das suas opções e da sua infância desvalida.
Há poucos dias foi parar a uma cama do hospital e outra pessoa apareceu aos olhos dos outros. Aquela que não usa pintura, que não pinta os cabelos, que não pinta as sobrancelhas, os olhos, as pestanas, os lábios e ainda por cima sem alguns dentes. É a realidade dura e cruel, a outra é a ficção ou uma outra realidade.
A pintura excessiva do rosto, a máscara que criamos para o exterior, os cuidados excessivos com o corpo, o silicone, o botox, tudo o que faz criar uma visão mais jovem e portanto fictícia, mais tarde ou mais cedo a dura realidade vem ao de cima.
Gostaria eu de ser mais magra, com aparência mais jovem, com um ar tão sedutor que quando entrasse em qualquer evento os olhares se dirigissem para mim? Não sei, com toda a sinceridade não sei, porque tudo é efémero. Lembro uma mulher muito bonita, que se arranjava muito bem e que vivia igualmente obcecada pela imagem. Hoje e porque a vida lhe foi adversa é a realidade
pura e dura que nós vemos e apesar de uma imagem agradável já tem no rosto as rugas e nas costas a corcunda como eu já a anuncio. Todas as vezes que se encontra com as amigas, constantemente recorda como era bela e como fazia segundo as suas palavras parar o trânsito.
A minha filha mais velha diz que estou a ser cruel, pois o desejo de ser bela até ao fim da vida era
fruto do contexto sócio cultural de muitas mulheres daquela geração e não só.
Hoje vence a ditadura da imagem, a beleza é uma forma de poder ou sempre foi, mas ao lado da beleza excessivamente tratada e com manutenção regular, aparece a humanidade de uma cama de hospital e a fragilidade do ser humano acima de tudo. E é da fragilidade que nós devemos ter compaixão.
Por tudo isto o que eu realmente gosto é do envelhecimento natural das mulheres do campo. E são belas.

sábado, 30 de maio de 2009

Às vezes tenho saudades...


A Parede tem destas regalias, um microclima fantástico, ou seja um clima diferente das regiões que a circundam. Aqui pela noite há sempre uma aragem, uma aragem que nos consola. Sinto-me bem nesta terra, estou num sítio privilegiado, mas há sempre um mas...tenho por vezes saudades de Lisboa, a terra onde nasci e onde vivi cerca de metade da minha vida, porque será? Talvez por lá ter vivido momentos muito felizes, talvez por ter assistido ao vivo à passagem de um novo regime, no Largo do Carmo, gravidissima da minha filha mais nova. Sei lá tantas coisas.

Por vezes sonho voltar a viver na capital, andar no metro e nos restantes transportes publicos, ir aos cinemas, teatros, exposições sempre que me apetecer. Como eu não tenho carta, por vezes é complicado ir a certos sítios e estas terras da linha tirando o combóio para Lisboa são feitas para quem tem carro. Tenho também lá os meus netos. Lisboa é a minha terra.

Vivi em Setúbal vinte e poucos anos e nunca a senti como minha e não tenho saudades nenhuma dela, é uma cidade muito partidarizada, muito agressiva, principalmente da parte dos que tomaram o poder dos centros de influência (instituições, jornais, teatro etc.). Agarram o poder com duas mãos bem ferradas e nunca mais de lá saiem.


(...)Vende sonho e maresia,

Tempestades apregoa,

Seu nome próprio - maria,

Seu apelido - lisboa

Seu nome próprio - maria

Seu apelido - lisboa.


David Mourão Ferreira


Eu sei que um dia vou voltar.


E não há como um poeta para falar do amor

Nuno Júdice
Plano
Trabalho o poema sobre uma hipótese: o amor que se despeja no copo da vida, até meio, como se o pudéssemos beber de um trago. No fundo, como o vinho turvo, deixa um gosto amargo na boca. Pergunto onde está a transparência do vidro, a pureza do líquido inicial, a energia de quem procura esvaziar a garrafa; e a resposta são estes cacos que nos cortam as mãos, a mesada alma suja de restos, palavras espalhadas num cansaço de sentidos. Volto, então, à primeira hipótese. O amor. Mas sem o gastar de uma vez, esperando que o tempo encha o copo até cima, para que o possa erguer à luz do teu corpo e veja, através dele, o teu rosto inteiro.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

E os meus amigos e amigas há quanto tempo?

Quase um poema de amor

Há muito tempo já que não escrevo um poema
De amor.
E é o que eu sei fazer com mais delicadeza!
A nossa natureza
Lusitana
Tem essa humana
Graça
Feiticeira
De tornar de cristal
A mais sentimental
E baça
Bebedeira.

Mas ou seja que vou envelhecendo
E ninguém me deseje apaixonado,
Ou que a antiga paixão
Me mantenha calado
O coração
Num íntimo pudor,
--- Há muito tempo já que não escrevo um poema
De amor

Miguel Torga

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Eu sou do Benfica por tradição familiar


Eu sou do Benfica por tradição familiar. Aos domingos o meu pai passeava para a frente e para trás quando o Benfica jogava e eu fiquei Benfica. Hoje ainda digo baixinho, sou benfiquista, mas o certo é que estou muito desiludida até dizer chega. Porque é que o Benfica nos últimos tempos não tem um ponta de lança? O que é que o Quique Flores andou a fazer este ano a não ser passear o figurino. E o Rui Costa? Será que ele percebe alguma coisa de equipas? E os treinadores têm mão no balneário? É muito dinheiro em jogo e paletes de desilusão, domingo após domingo. Deixei de ver os jogos (eu nunca vi assim tantos, mas tinha curiosidade em ver os resultados ), já não me interessam e os jogadores irritam-me com a sua falta de competição. Vou adormecer a minha alma benfiquista e pensar que há espectáculos mais interessantes para discutir, por exemplo as pernas dos jogadores, há pernas muito interessantes, umas arqueadas demais, outras invejáveis. Sim o Benfica para mim só tem interesse na análise detalhada das pernas dos jogadores, mais nada.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Eu gosto de tanta coisa que um dia rebento...

«Para mim, o flamenco é uma religião. Consegui catalisar, pesquisar e estudar várias tendências do flamenco que existiam na época, mas acho que o mais importante foi o resgate de várias danças do folclore espanhol. Meu maior mérito foi dar unidade a todo esse tesouro vindo de várias regiões. Tudo o que fiz veio de muito estudo, muita pesquisa e muito sofrimento criativo.»

António Gades"

Eu também não me conformo...

«Eu não sou intelectual nem tenho essa ambição, o que não me impede de atirar umas pedradas de quando em vez, mas sempre a partir da minha condição de escritor e de homem livre que não ambiciona mais nada senão traçar os contornos dos mundos a haver e esboçar o rosto do povo do futuro. Ambição sísifica, provavelmente, mas eu não nunca me conformei com os rasos eventos do dia ou com os pequenos mundos além da esquina.»
José Luiz Tavares (escritor caboverdeano)

terça-feira, 26 de maio de 2009

E acordei ainda com Borges


E acordei ainda com Borges


Após um tempo,
Aprendemos a diferença subtil
Entre segurar uma mão
E acorrentar uma alma,
E aprendemos
Que o amor não significa deitar-se
E uma companhia não significa segurança
E começamos a aprender...
Que os beijos não são contratos
E os presentes não são promessas
E começamos a aceitar as derrotas
De cabeca levantada e os olhos abertos
Aprendemos a construir
Todos os seus caminhos de hoje,
Porque a terra amanhã
É demasiado incerta para planos...
E os futuros têm um forma de ficarem
Pela metade.
E depois de um tempo
Aprendemos que se for demasiado,
Até um calorzinho do sol queima.
Assim plantamos nosso próprio jardim
E decoramos nossa própria alma,
Em vez de esperarmos que alguém nos traga flores.
E aprendemos que realmente podemos aguentar,
Que somos realmente fortes,
Que valemos realmente a pena,
E aprendemos e aprendemos...
E em cada dia aprendemos.


Copyright ©Jorge Luis Borges
Trad. para Português de Luís Eusébio


segunda-feira, 25 de maio de 2009

Hortaliças unidas ajudem-me....


Querida Pé na Estrada
Este texto é um complemento do último post do seu excelente blogue.
Eu este ano já vou na segunda dose de alfaces, as primeiras estavam óptimas. Os tomateiros estão a crescer e os pepinos também. Os coentros têm um sabor admirável, vamos ver como é que vão crescer as curgetes, os pepinos e as beringelas.
A ameixeira só deu um fruto quando eu vim para esta casa, após os cortes de pernadas está com bastantes frutos este ano. A cebola foi ao ar e o limoeiro dá imensa flor mas depois cai e não dá limões. Sabe(m) de algum remédio para isto?
Eu hoje ao acordar andei descalça pelo jardim como aconselhou Borges no texto que eu postei hoje de manhã (ver post anterior) e por favor ajude(m)-me, principalmente peço às «hortaliças unidas» que me ajudem neste problema do limoeiro.
Tenho dito.

Acordar com Jorge Luiz Borges

Instantes
Se eu pudesse viver novamente minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros. Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais. Não mais tolo ainda do que tenho sido. Na verdade bem poucas coisas levaria a sério.... Seria menos higiênico..... Correria mais riscos, viajaria mais, contemplaria mais entardeceres, subiria mais montanhas, nadaria mais rios.... Iria a mais lugares onde nunca fui, tomaria mais sorvete e comeria menos lentilha. Teria mais problemas reais e menos problemas imaginários. Eu fui uma dessas pessoas que viveu sensata e produtivamente cada minuto da vida; claro que tive momentos de alegria... Mas se eu pudesse voltar a viver trataria de ter somente bons momentos. Porque se não sabem, disso é feita a vida, só de momentos, não percas o agora.... Eu era um desses que nunca ia a parte alguma sem um termômetro, uma bolsa de água quente, um guarda-chuva e um pára-quedas; se eu voltasse a viver, começaria a andar descalço no começo da primavera e continuaria assim até o fim do outono. Daria mais voltas na minha rua, contemplaria mais amanheceres e brincaria com mais crianças...... se tivesse outra vez uma vida pela frente. Mas vejam, já tenho 85 anos, estou cego e sei que vou morrer...
Jorge Luiz Borges

domingo, 24 de maio de 2009

POEMA DE CANÇÃO SOBRE A ESPERANÇA

Álvaro de Campos


Dá-me lírios, lírios,
E rosas também.
Mas se não tens lírios
Nem rosas a dar-me,
Tem vontade ao menos
De me dar os lírios
E também as rosas.
Basta-me a vontade,
Que tens, se a tiveres,
De me dar os lírios
E as rosas também,
E terei os lírios
Os melhores lírios
E as melhores rosas
Sem receber nada.
A não ser a prenda
Da tua vontade
De me dares lírios
E rosas também.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

O dia 18 de Maio para mim foi muito divertido e muito cansativo






O dia 18 de Maio - Dia internacional dos museus foi muito divertido e muito cansativo. A Casa dos Patudos - Museu de Alpiarça comemorou pela primeira vez com o serviço educativo implementado, o dia 18 de Maio - dia internacional dos museus. Durante ano e meio dei formação e estruturei um serviço fazendo várias experiências educativas. Estando com a investigação em bom caminho resolvemos apresentar um programa à Câmara que engloba os mais variados projectos.
O museu vai entrar em obras apoiado e sustentado 50% pelo CREN, vai ser um lindo museu e nós estamos a partilhar o museu com os alpiarcenses. Já fiz trabalho de terreno a nível antropológico com homens e mulheres da agricultura e criação de gado nos Açores, na indústria conserveira e com pescadores em Setúbal, com pescadores e varinas de Cascais, com utentes do Centro de Saúde de Cascais, com mulheres do arroz da Comporta, com os homens do vinho de Cacavelos, com moradores da vila de Carcavelos e presentemente com bombeiros da vila de Carcavelos e com homens e mulheres, produtores do célebre melão de Almeirim que afinal é de Alpiarça . Foram os camponeses e camponesas de Alpiarça que maioritariamente cultivaram nas terras de Vila Franca esse saboroso melão.
Um projecto educativo pressupõe sempre uma grande investigação. A segunda feira passada no museu de Alpiarça foi um dia de grande satisfação, as barreiras da timidez, o entusiasmo do grupo, o prazer de estar «ali» foram evidentes. Passaram por lá desde as 9h30 às 18h30 perto de quinhentas pessoas, jovens do 2º ciclo (pois o dia da árvore foi com o pré-escolar e todo o 1º ciclo e assim negociámos com a direcção do Agrupamento Escolar a vinda do 2º ciclo ) alguns do pré-escolar, seniores e público adulto. Preparámos uma pequena sessão de história ao vivo de 45m nas salas do museu e repetimo-la oito vezes. No dia seguinte com alunos de uma turma do 10º ano realizámos uma visita interactiva acerca das características do romantismo e do naturalismo na pintura portuguesa e espanhola existente na Casa dos Patudos.
Senti-me feliz mas cansada, pois fui eu que desenvolvi o diálogo interactivo oito vezes enquanto eles caminhavam pelas salas e paravam diante das cenas históricas desenvolvidas pelos monitores do museu, serviço de educação da câmara e monitores da biblioteca. Um trabalho em rede a favor de um objectivo comum: o serviço público.
Estou realizada comigo mesma porque continuo a pegar nos projectos com paixão sem esperar como objectivo máximo, teses para apresentar, lugares para ocupar, conferências para andar a saltitar por todo o lado. Hoje estou convicta de que sempre dei muito de mim própria ao trabalho educativo e sempre estive motivada para trabalhar fossem quais fossem as situações mais incómodas para mim. A Mercearia Liberdade no Museu do Trabalho foi levada por mim e pelo meu marido para o museu e cordenei a sua montagem no meio das maiores dificuldades.
Hoje estou a trabalhar de uma forma livre e respondo às solicitações com humildade e bravura, humildade porque ninguém ensina nada a ninguém «aprendemos uns com os outros mediatizados pelo mundo», uma célebre frase do saudoso pedagogo Paulo Freire e bravura porque «as árvores morrem de pé», frase da conhecida peça «As árvores morrem de pé» de Alejandro Casona, dita por aquela grande actriz que era a Palmira Bastos. Tive oportunidade de a ver representar no Teatro Avenida que ardeu.
As acções de formação que tenho feito por esse país sempre que solicitada e os serviços educativos implementados, têm-me dado vários «filhos e filhas museológicos» que eu encontro de tempos a tempos, juntando-se a eles os mestres orientados por mim e os antigos alunos, só posso então afirmar que me sinto realizada. E só agora consigo realizar-me completamente nesta área, fazer o que quero e me apetece, sair se não me agrada, fazer investigação como deve ser, publicar livros e artigos como deve ser, fazer conferências como deve ser, realizar projectos como deve ser, porque sou livre. Com muita dificuldade e com muito sacrificio o fiz durante a minha vida profissional, pois não tinha tempo e coloquei o trabalho sempre em primeiro lugar. Disso eu tenho a mais profunda certeza.
Nesta mesma semana fiz uma conferência no âmbito da educação museal nas instituições culturais, uma peça teórica com alguns exemplos práticos, na Escola Superior de Educação onde eu dei algumas aulas de História de Arte, durante três anos. É estranho mas não senti saudades de nada, nem da cidade, nem das aulas, nem dos museus aos quais eu dei parte da minha vida, voltei a Setúbal esta semana uma outra vez por questões relacionadas com a venda da minha casa nesta cidade e estava desejosa de me ir embora. A minha amiga setubalense Maria Amália rodeia-me de tantos carinhos que por algumas horas faz-me esquecer tudo aquilo que vivi aqui.
Esta cidade é passado, realizei projectos pioneiros, dei trabalho a muita gente e ajudei outros tantos, agora já não me pertence, cada vez me desligo mais, o que aqui ficou já não pertence ao meu presente nem ao meu futuro e muitas das pessoas que cá ficaram eu quase que não as reconheço.

«Nada se olvida más despacio que una ofensa; y nada más rápido que un favor.» Martin Luther King

sábado, 16 de maio de 2009

A propósito dos 50 anos do monumento ao Cristo-Rei


Hoje vi na TV a comemoração dos cinquenta anos do monumento ao Cristo-Rei, fiquei a saber que Salazar não gostava do monumento, nunca fez comentários sobre ele e chegou muito atrasado à cerimónia para não ter que cumprimentar o Bispo do Porto D. António Ferreira Gomes, que lhe tinha escrito uma carta frontal com críticas sobre a sua condução do regime, em 1958. Soube também que em 1959, a assistência estava embaraçada com a demora do Presidente do Conselho de Ministros e a cerimónia começou muito mais tarde do que o previsto, mas Salazar pouco se importou, aliás ele tinha esquemas para se safar de todas as situações, mesmo as mais comezinhas.
Em 1997 eu coordenei juntamente com o meu marido uma exposição na Cordoaria Nacional que se chamava «O Prazer de Viajar», entrevistei nessa altura um antigo secretário de estado do turismo de Salazar que a meio da entrevista me contou esta história: Salazar tinha aberto um lugar de jurista no conselho de ministros e soube que uma senhora muito influente e fervorosa salazarista queria a vaga para um sobrinho. Salazar conhecia o rapaz e achava que ele não tinha de todo perfil para o lugar mas não sabia como «descalçar a bota», esta história contou ele ao seu secretário de estado numa sexta-feira de despacho, tinha sido convidado para jantar na casa da dita senhora nessa noite e estava preocupado.
Quando se encontraram passada uma semana para nova sessão de trabalho, o secretário de estado na despedida perguntou a Salazar «então Sr. Presidente sempre deu o lugar ao rapaz?». Salazar sorriu e disse, «não, não, resolvi o caso muito bem, ela deu-me um belo jantar e quando passámos para a sala para beber o café, ela sentou-se ao pé de mim e disse-me, sei que o Sr. Presidente tem um lugar vago de jurista, tenho, por acaso tenho, respondi calmamente, é que Sr. Presidente o meu sobrinho jurista era muito bom para o lugar, ele é muito bom rapaz mas não tem tido muita sorte, eu levantei-me e disse-lhe, ah sim, mas eu para esse lugar só quero pessoas com sorte, fui buscar o sobretudo e o chapéu e despedi-me de imediato».
Esta história é real não é anedota e mostra como o diatdor resolvia num segundo as questões que lhe apareciam, nem que fosse atrasar uma inauguração, com o Cardeal, ministros e representantes do Papa à espera para não encarar quem teve coragem de lhe escrever uma carta preto no branco.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

A natureza alimenta-me


Estou rodeada de um ambiente natural muito privilegiado, praia oceânica a dois minutos de casa, uma rua maravilhosa cheia de árvores muito carregadas de folhas e o jardim/horta todo arranjado com sombras e lugares cheios de sol repartidos pelo espaço.
Hoje por acaso está um pouco sombrio e com ar de chuva e é nessas alturas que eu recordo os trabalhos no terreno antropológico que eu tenho feito por todos estes anos: em Setúbal, na Comporta, nos Açores, em Lisboa, em Cascais e finalmente Carcavelos. Os portugueses têm muitas «histórias» em comum mesmo que não se conheçam. Se são de classes privilegiadas, os tiques de aristocracia, velhas fortunas ou novo riquismo, se são de média burguesia, pequena burguesia ou classe operária ou camponesa, os traços também têm muito de comum: os surtos migratórios à procura de melhores condições de vida, as relações mais afectuosas entre familiares e amigos, a ausência total de etiquetas ou etiquetas moderadas que agilizam as relações entre pares e sociabilizam de forma mais solidária e amena as relações sociais entrelaçadas pelo respeito comum. Eu sempre me movimentei por todos os lugares e encontrei sem sombra de dúvida pessoas encantadoras em todas as classes, mas as regras estritas de etiqueta, ou a análise que se faz de uma pessoa por ser mais modesta quer de aparência quer de maneira de falar perturba-me e então se são católicos ditos praticantes ainda mais confusa fico. E o racismo, nem me falem! Esquecem-se que Jesus não era loirinho de olhos azuis, ele nasceu em Belém, teria a pele bem escurinha.
As pessoas têm que se relacionar pelos afectos e pelo respeito que nutrem pelos seres humanos, pelos animais, pela natureza, pelo património material, mas também pelo imaterial, enfim pelo planeta terra no seu todo. Reciclar é uma forma de amar este planeta, não desperdiçar recursos, e sobretudo acabar com tráfico humano, os novos escravos do século XXI, crianças que são vendidas pelos pais para trabalharem de forma escrava para qualquer grupo explorador, ou mulheres ou jovens que de forma enganosa acabam na prostituição.
Esta natureza que me rodeia inspira-me e apesar de que no ser humano existem muitas contradições e incoerências é preciso sempre ver azul ao longe.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Preparando a chegada dos meses mais quentes





Comprei uns tecidos online na Ervilha cor-de-rosa de puro algodão, uns americanos, outros japoneses etc. e lembrei-me de que o meu neto em Junho com 3 meses ficará muito engraçado com camisinhas à rapazola.
Por agora só posso mostrar as camisas porque os calções com peitilho com outros tecidos comprados também online estão a ser feitos, esses para serem usados com camisolinhas lisas, porque os tecidos são coloridos e com desenhos.
Amanhã a minha neta vem cá a casa com os pais almoçar porque estão ainda de férias, também vou pedir a opinião à minha filha, do tipo de tecidos que quer para eu mandar fazer uns vestidinhos, sim porque eu comprei muitos pedaços de tecidos.
Estas actividades vão ser feitas em momentos de descanso, porque vou trabalhar mais assiduamente em Alpiarça para o desenvolvimento do serviço educativo e da realização da monografia sobre o José Relvas. Os Bombeiros continuam de vento em popa e eu estou a acelerar com a investigação. A pastelaria Primavera ficou muito contente com o livro e comprou perto de cinquenta para oferecer a alguns clientes.
Estou agora ocupada ainda com os papéis do IRS e do IVA. Que mês de impostos, de entrega e de pagamento. Que seca. Tantos impostos e não os vejo devidamente aplicados.
Outra chatice, a minha querida empregada que está comigo há vinte anos é um bocado meia bola e força, ela usa muito a partícula apassivante: partiu-se, estragou-se, manchou-se, etc.. Hoje coube a vez à maquina de lavar roupa que é de uma marca alemã excelente. Não despejava bem a água, ela com cara sabichona disse-me «está velha tem de se trocar», chamei cá um senhor daqueles reformados fantásticos que se especializam em arranjar máquinas não muito electrónicas, e o que é que encontrou? Encontrou o filtro sujo como se fosse um rio que apanhou uma descarga fabril ilegal: eram franjas de tapestes, moedas, restos de documentos subtraídos dos bolsos das calças que não foram cuidadosamente retirados e outros afins, amanhã já sei como é que vai ser a conversa: nunca ninguém me disse que era necessário limpar o filtro, mas como ela limpa o filtro da máquina de secar e da de lavar loiça, não sei como se vai justificar, oh mas ela tem imensas soluções na manga. Uma vez estava a limpar o pó e partiu uma jarra bastante antiga, eu ouvi o barulho e vim a correr, sabem o que é que ela me disse? « O aspirador deu uma volta sózinho e bateu na jarra, portanto estão a calcular partiu-se, outra vez ainda foi melhor, partiu uma peça defronte dos meus olhos, eu olhei para ela e espanto dos espantos via falar para o ar «ai, ai, hoje estão estão os dois a atazanar-me», eu perguntei o que é que isso queria dizer e ela respondeu-me furibunda, são os espíritos dos meus sogros que me estão a perseguir desde manhã, portanto foram eles que partiram o objecto. Perfeito, nem um professor formado em Harvard chegava a uma resposta tão pronta.
Ainda estou muito sobrecarregada de trabalho, ainda tenho muitas tarefas a cumprir, ainda estou muito pegada a compromissos. Não imaginei a minha vida assim depois de aposentada mas acho que é a melhor maneira de viver por causa do Alzheimer, «descrita pela primeira vez em 1906 pelo psiquiatra alemão Alois Alzheimer, de quem herdou o nome.» Temos de activar a memória e lutar pela juventude cerebral, de raciocínio e de criatividade. Exercitar a memória quando chegamos a uma certa idade é palavra de ordem.
Eu vou novamente exercitá-la e bem no próximo mês de Outubro, vou ser arguente de uma tese que me vai dar trabalho, mestrandos felizmente não tenho nenhum este ano porque pedi que me dessem pausa, mas que pausa.... é só trabalho do mais variado como podem comprovar, mas sinto orgulho nos mestres que já obtiveram o seu grau com a minha orientação.
Adoro esta mistura: teses, mantas de lã, arranjos de máquinas e olhar pelas alfaces, este entrosamento de trabalho manual com o trabalho intelectual lembra-me o camarada Mao, mas eu não sou nada simpatizante maoista, nem nunca fui, quando se descobre o que está por detrás desses regimes totalitários, as ilusões perdem-se todas. Sou uma aldeã contemporânea que de vez em quando vai à cidade e ao estrangeiro.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Pensamentos tenho ao romper da aurora

Até parece o início de uma canção alentejana mas não é. São sete da manhã e não tenho sono porque ontem finalmente conheci no programa «Prós e Contras» as treze famigeradas cabeças de lista ao Parlamento Europeu. O número treze é sempre um número especial. O número treze é um número fechado e a décima terceira lâmina do Tarot representa a Morte, morte no sentido de extinção para uns, renascimento para outros.
O que discutiram foi sobretudo questões internas e não fiquei a saber as verdadeiras ideias e o que é que eles vão querer fazer lá, no Parlamento, concretamente para melhorar Portugal. Também fui informada que há vários milhões que estão a ser desperdiçados, que não são utilizados no nosso país e que há soluções fantásticas para combater a crise; os doces da avó e a carrinha dos velhinhos.
Abordou-se ligeiramente a questão dos recursos e a sua potenciação; humanos, hídricos, eólicos etc e a questão das pescas e da agricultura, mas não compreendi que soluções vão defender.
Os tais fundadores da União Europeia «numa Europa ferida pela guerra», repectivamente França e Alemanha, mandam nos mais pequenos e mais pobres e o que eu vejo é uma constante sujeição aos ditames desses países.
Quanto aos cabeças de lista, o Miguel Portas tem bilhete comprado de forma vitalícia, tal como a Ilda Figueiredo e a candidata da lista do Vital Moreira, Elisa Ferreira, acho de um grande descaramento dizer que vai estar nas duas listas, à Câmara do Porto e ao Parlamento Europeu, será que não há mais ninguém?? Tudo isto me entristece. Os do CDS e do PSD, ontem pareciam o Dupond e Dupond, foi quase constante nos seus comentários «Eu diria mais».
Ouvitam-se palavras como «muita solidariedade, muita partilha, muito tudo» que concerteza vão ter o seu efeito nas decisões do Parlamento Europeu, espero que qualquer coisa saia como ontem gritava a Carmelinda Pereira, essa minoria activa há trinta anos, também com bilhete vitalício de minoria, tal como o seu colega do MRPP. O Humanista e o outro contra as emigrações, nem me lembro do que disseram.
O que eu vi objectivamente foi um grupo de esquerda estafada, outro grupo de direita requentada em micro-ondas, sejam já existentes ou recém-chegados. Tive mesmo vontade de abrir a janela e gritar «Volta D. Duarte, estás perdoado».

Ontem foi um dia em cheio II




Resolvi fazer uma segunda parte do programa de domingo, para não misturar soja com legumes com lançamento de livros e Piazzolla.
No fim da tarde fui a mais uma actividade do programa «Rumo ao Centenário», organizada pela excelente Associação de Bombeiros Voluntários de Carcavelos», na Junta de Freguesia de Carcavelos.
Tudo tinha começado por uma caminhada organizada pelo excelente comunicador e intelectual, Fernando Catarino, ex-professor universitário, que mostrou os caminhos da água e solos carcavelenses, responsáveis outrora pelo excelente néctar que levou este vinho pela Europa com o rótulo de Lisbon Wine por antinomia com Porto Wine. Hoje a produção que resta está confinada ao Vale de Caparide. Eu não consegui ir a esta caminhada, pelas razões da vinda do meu neto e os seus pais.
A seguir foram lançados os dois pequenos opúsculos, o meu sobre a pastelaria Primavera e o outro do Prof. Fernando Catarino, sobre o solo e os caminhos da água ligados ao vinho de Carcavelos. A Marylou Pardal Monteiro inaugurou a sua exposiçaõ retrospectiva, ela que começou a pintar aos 65 anos (hoje com 83), dá-nos uma imagem de Carcavelos com uma puerilidade comovente.
A tarde terminou em cheio com a família Sá Pessoa, família de músicos muito conhecidos. Luís Sá Pessoa e a sua mulher tocaram composições de Astor Piazzolla, em piano e violoncelo e em seguida , o músico acompanhou sua mãe, Madalena Sá Pessoa, uma senhora maravilhosa de 89 anos, mãe de sete filhos, quase todos artistas, uma das filhas, infelizmente já falecida foi professora de dança do meu filho mais novo na Academia de Dança Contemporânea de Setúbal.
Enfim foi um fim de tarde ameno, agradável e com pessoas que gostam de Carcavelos.

A exposição da Marylou continua patente mais quinze dias na Junta de Freguesia.

Ontem foi um dia em cheio













O meu neto veio visitar-me e eu e a minha filha mais velha fizemos as comidas vegetarianas, porque os pais são vegetarianos a sério. A Bymbi ajudou. Apresento aqui alguns pratos, não todos porque o blogue ficava com tanta comida que parecia um restaurante. Apresento os couscous, as alfaces da minha horta contemporânea, a soja com imensos legumes temperada com molho de soja e o bolo de laranja. Falta aqui o sorvete de morango e limão e as sopas, laranja e verde, o arroz de ervilhas e os linguados no forno porque o avô é da cozinha portuguesa. Enfim é bom ter estas iguarias todas à volta da família e do neto, que cresce a um ritmo muito acelerado.



sexta-feira, 8 de maio de 2009

Perspectivas

A minha rua é uma aldeia,
tem dez casas e outras tantas de árvores,
mas é diferente das aldeias,
daquelas a que eu chamo aldeias.
É uma rua pequena, mas ninguém se conhece,
todos vivem nas suas casas
e murmuram com sons incompreensíveis
a saudação.
Há muitos cães como nas aldeias,
mas estão fechados de dia
e à noite aparecem ferozes junto aos portões.
Todos os jardins estão arranjados de igual modo,
com anões, cogumelos de loiça a enfeitá-los,
como no filme da Amélie Poulain.
Eu tenho uma pequena horta, mas pensava que era a única,
até que o velho vizinho do lado, que eu nunca tinha visto
me veio oferecer limões, tomates e ovos.
Afinal somos dois os aldeões,
eu dei-lhe umas garrafas de vinho
e coentros, ele disse-me obrigada
e plantou-me dois limoeiros no jardim.
Agora tenho rosas e limoeiros, alfaces e gerbérias,
cactos, pepinos e coentros,
salsa, hortelã, jasmim, hortenses e ameixas,
beringelas, tomates, buganvílias e courgettes,
larangeiras, esterlícias, malmequeres e outras plantas verdes.
O meu vizinho olha o meu jardim com um olhar admirado,
«está tudo um pouco misturado», diz baixinho,
«a minha horta é num terreno longe daqui, assim nunca vi»,
afinal sou mais aldeã do que ele,
mas sou uma aldeã contemporânea,
a ideia é o mais importante e mesmo que não esteja tudo alinhado
e perfeito é a minha ideia concretizada e original.
Só que não tenho nem quero ter anões, cães e cogumelos de loiça,
seria uma afronta para a minha cadela e para os melros,
que fizeram ninho no meu jardim/horta.
Tenho uma coisa em comum com os meus vizinhos,
o oceano, o azul ao longe no fundo da nossa aldeia.

Anad

quinta-feira, 7 de maio de 2009

A Troca


Vi o filme de Clint Eastwood,«A Troca», baseado num facto da vida real, passado nos anos vinte. Gostei imenso do filme e irritei-me com a crítica quando eles dizem que o filme é menor na carreira do realizador. Porque é que os filmes sobre crianças não despertam o interesse dos críticos? Nunca compreendi e este ainda por cima baseado num caso real e muito bem interpretado. Angelina Jolie tem muitas potencialidades e então sendo bem dirigida é uma boa actriz. Eastwood é um realizador criterioso, ele escolhe muito bem os argumentos e transforma-os em belos filmes. Também gostava dele como actor, recordo com saudade um filme em que ele foi realizador e actor principal « A Ponte de Madison», Eastwood e Meryl Streep no elenco faziam um par emocionante, como é que uma história tão simples quando é representada por grandes actores se torna genial? E o Million Dollar Baby, como realizador e actor, que ganhou uma série de óscares. Pergunto a mim própria se gostaria de conhecer o Clint, acho que não, uma coisa são os autores, realizadores, actores, outra coisa é conhecer os homens e as mulheres que eles e elas são na vida real e isso não me interessa, prefiro a ilusão do que eles são no ecrã, nunca fui fã de correr atrás de autógrafos, nem em jovem. Não há dúvida que eu sou uma amante do que é dificil encontrar com os pézinhos mal assentes na terra.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

É neste dia que o meu livrinho vai ser lançado




Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Carcavelos – S. Domingos de Rana

TARDE CULTURAL EM CARCAVELOS
PROJECTO RUMO AO CENTENÁRIO

10 de Maio de 2009
14:30h - CAMINHADA "A Água e o Solo do Vinho de Carcavelos"

Caminhada por Carcavelos rural e urbano dirigida pelo Professor Fernando Catarino dirigida à comunidade das duas freguesias e a quem se queira associar. O Professor Fernando Catarino, ilustre biólogo que nos vai acompanhar, irá apontar pistas para justificar que o vinho generoso, dito de Carcavelos, só aqui possa ter nascido.A Concentração a partir das 14:00 horas com início da Caminhada às 14:30 horas terá início na Rebelva, na Estrada da Rebelva, junto à porta 692 - A.
Terá a duração de 2 horas e 30 minutos seguindo percursos de água até à Quinta dos Ingleses, terminando depois na Junta de Freguesia de Carcavelos, onde ocorrem outros eventos de natureza cultural. Os participantes na Caminhada devem trazer consigo água e roupa/calçado confortável. É importante que tragam um pequeno caderno com folhas sem linhas porque o Professor Catarino está sempre a surpreender-nos.
Informações e inscrições na sede da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Carcavelos e São Domingos de Rana ou através do e-mail rumoaocentenário@gmail.com

17:10h - JUNTA DE FREGUESIA DE CARCAVELOS

17H10 – Bênção de uma nova ABTM oferecida pela Câmara Municipal de Cascais.
17H25 - Lançamento de livro A Água e o Solo do Vinho de Carcavelos"
Prof. FERNANDO CATARINO com a colaboração de Rogério Carmona.
17H35– Lançamento do livro : UMA CASA CHAMADA PRIMAVERA
Dra ANA DUARTE com a colaboração do Engº Calhamar e Licete Sequeira.
17H55– Entrega de diplomas a Associados e Beneméritos.
18H00 – Sessão Musical:
- Piano pela Profª MADALENA SÁ PESSOA
18H20 – Inauguração da Exposição de pintura
MARYLOU PARDAL MONTEIRO.
Carcavelos de honra.19H45 – Encerramento da sessão

terça-feira, 5 de maio de 2009

Não se pode ter tudo


Desejo I

Quando eu era muito nova
desejava muitas coisas,
rios a correrem por entre seixos,
plantas verdes e muito mar,
uma casa cheia de risos e canto de pássaros,
muitos livros, muita música e muita gente.
Desejava ainda mais coisas,
liberdade sem limites,
uma vida camponesa, colchas de algodão aos retalhos,
pratos de cerâmica colorida,
lãs com cheiro a mato a serem trabalhadas
por muitas mãos.
Bébés a nascerem,
panos de linho a embrulharem pão acabado de cozer.
Quando eu era muito nova,
queria aquilo que parecia simples e fácil de atingir,
descobri mais tarde que afinal eu queria
o sonho e o inantigível,
a ausência da dor e da tristeza.
Afinal eu queria qualquer coisa,
que não existe tal como a imaginamos,
eu queria o impossível...


Anad

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Sei que oscilo entre tomar atitudes pacíficas ou intervir frontalmente, entre as duas os pratos da minha balança, balançam...


Gostaria de ter tido ao longo da minha vida as atitudes de Gandhi, será muita pretensão dirão alguns, mas não, não me quero comparar a uma tão grande figura, não é nada disso, mas gostava de poder agir sem lutas ou palavras desnecessárias, mas por actos cheios de significado que dão força aos outros, comportamentos exemplares que são exemplos de vida, o que me agrada também nele é a coerência e a simplicidade, a atitude em relação ao outro, a ausência de posição de classe.
«Este termo, um dos principais ensinamentos do indiano Mahatma Ghandi, designa o princípio da não-agressão, uma forma não-violenta de protesto. Esta não deve ser confundida com uma adesão à passividade, é uma forma de ativismo que muitas vezes implica a desobediência civil. Gandhi descreveu o termo como: Tenho também a chamado de força do amor ou força da alma. Eu descobri o satyagraha pela primeira vez no inicio da minha busca pela verdade que não admitia o uso da violência contra um adversário, pois o mesmo deve ser desarmado dos seus erros com paciência e compaixão. Sendo o que parece ser verdade para um e um erro para o outro. E paciência significa auto-sofrimento. Assim, a doutrina passou a significar reivindicação de verdade, e não pela inflição de sofrimento sobre o adversário, mas sobre si mesmo.»Wikipédia, a enciclopédia livre.

Mas não, eu oscilo entre este ideal de Gandhi e uma intervenção mais directa, mais frontal, tenho uma profunda revolta pela falta de igualdade de oportunidades e a impotência para resolver os casos mais prementes. Necessito de ideias acompanhadas de coerência de vida e denúncia das situações gritantes, mas a esperança acompanha-me sempre e acredito no azul ao longe, acredito em Deus e na Sua imensa compaixão. Não acredito nas pessoas totalmente boas nem totalmente más, acho que todos nós temos um pouco das duas e cabe a nós equilibrá-las. Até Madre Teresa de Calcutá teve dúvidas e confessou as suas fraquezas. Uma coisa são as palavras, outras os actos. Quando as pessoas se expõem como políticos têm de ser muito coerentes, sérios, credíveis por vários sectores, se são simples nas suas palavras, devem ser simples nos seus actos, nos seus pertences, na vida que escolhem. Há caminhos que têm forçosamente de ser percorridos de maneira diferente e esses pés que os percorrem têm de ser referências para outros pés que querem o mesmo percurso.
Eu não tenho nada contra as tias na política, conheço e sou amiga de algumas excepcionais, que estão fora da vida política, com caminhos exemplares porque de forma sincera despojaram-se da vaidade e soberba humanas e de uma forma natural encaram os outros como iguais, numa plena vivência cristã. Não têm lapsus linguae de uma forma frequente e eu acho que é nas entrelinhas que nós descobrimos muita coisa. É necessário estarmos atentos, por tudo isto vou desobedecer e não vou votar. Vou tentar por em prática o satyagrah.

domingo, 3 de maio de 2009

Amigos e amigas não se asssustem, este vídeo não tem nada a ver com o momento presente

Continuo farta de política e dos dias das mães, dos pais, dos namorados e quejandos comerciais.


Cara Dri, a tua argumentação é forte no que diz respeito ao voto, mas mesmo assim eu não vou votar, olha bem o espectáculo: Nuno Melo, vira o disco e toca o mesmo, vai defender o quê? Que os ricos sejam menos ricos? Maria make me laugh. Paulo Rangel, só grita, só grita e não dá alternativas, esquecendo-se das culpas que o seu partido tem na crise portuguesa. Vital Moreira, porque não, acho imoral um professor catedrático de uma universidade deixar o ensino para ir para a política, o dinheiro que o estado investe não é para estes professores irem debitar para o parlamento europeu, bastava a universidade e já fazia muito. A Ilda Figueiredo, Deus nos livre, engoliu 12 cassetes de uma vez ou então é ventríloqua do Jerónimo de Sousa, o Miguel Portas é esquerda caviar e eu detesto a esquerda caviar, gostava de os ver no poder a dividir a boa casa que tem com o camarada marceneiro, a Laurinda Alves no novo partido da Esperança irrita-me tanto, tanto com o seu ar de tia boazinha, muitissimo amiga, que tem imensas amigas e amigos, tudo pelo bem e que até fez o enterro no blogue pelo ipod dela, é para mim demais.
Perante este panorama, desta vez fico em casa, Dri, não tenho outra hipótese amiga .
Aquela eurodeputada do partido socialista, a Edite Estrela há-de andar de cadeira de rodas no parlamento. Sempre os mesmos, vira o disco e toca o mesmo, todos a tocar pela mesma voz, não há vozes independentes! Estou farta de política.
Quanto ao dia da mãe, agradeço que os meus filhos me telefonem e me abracem com palavras ternas, mas comemorar este dia com prendas comerciais, acho horrível, até há anúncios de camisas noites sexy para os filhos oferecerem às mães, poupem-me. Por isso deixei de comemorar o dia do pai e da mãe desde que eles sairam de casa para as suas vidas, de comemorar em conjunto, com prendas e tudo, só tem sentido quando as crianças são pequenas e fazem uns desenhos para a mãe ou para o pai, porque senão eu também entrava na engrenagem, mas hoje nas escolas as crianças são oriundas de famílias tão diferenciadas que nem sei se isso é pedagógico?? Por exemplo na América onde a barriga de aluguer é permitida e o bébé que nasce pode vir a ser adoptado por um casal homosexual, se a criança adoptada comprar uma prenda para a mãe, dá a quem?? É como numa esplanada, no tempo dos meus pais era café ou chá, hoje é : café, chá, tisana, carioca, descafeínado, abatanado, italiana, curto, com leite, expresso e o nespresso eu gosto deste último mas não é pelo café, mas sim pelo Clooney que bebe o café, hihihi. Meus amigos a tradição já não é o que era, hehehehe.

sábado, 2 de maio de 2009

A política portuguesa


O Vital Moreira apanhou nas fuças e agora andam a discutir quem é que tem que pedir desculpa. Cada vez detesto mais a política. Eu nestas próximas eleições do parlamento europeu não vou votar pela primeira vez. Estou farta, é que vira o disco e toca o mesmo. Eu já tenho o cartão de cidadão que tem aqueles cartões todos incluidos e já podia votar aqui em Cascais e não em Setúbal, mas não vou, não quero e pronto.

«Uma das acusações mais ouvidas entre os insultos e agressões a Vital Moreira foi «traidor». É o maior pecado do candidato independente pelo Partido Socialista às eleições Europeias. Os comunistas ainda não lhe perdoaram a saída do partido há duas décadas e a definitiva passagem para o «outro lado». Sócrates: «PCP devia pedir desculpas por agressões a Vital»

«Ilda Figueiredo, sua adversária de campanha, foi uma das primeiras a deixar o sinal: «O PS não pode tentar usar incidentes inaceitáveis para se vitimizar e procurar o voto que não tem por causa do descontentamento popular». Na sua opinião, aliás, «o PS é que tem de pedir desculpas ao PCP», disse, durante uma acção de campanha no Minho.

Jerónimo de Sousa seguiu o mesmo caminho e lembrou um «deslize» de Vital Moreira, que comparou o sucedido na sexta-feira a incidentes de campanha na Marinha Grande, quando Mário Soares lutava com Freitas do Amaral na segunda volta das presidenciais.

«Ele disse que também já tinha tido a sua Marinha Grande, reconhecendo que estava em campanha eleitoral, o que mostra que estão a instrumentalizar a situação», vincou Jerónimo, que aproveita para justificar a sua posição: «Não se pede desculpa a quem está mal intencionado.

Sem parar, Vital Moreira continuou o seu percurso e optou por desvalorizar os incidentes. «Quem se candidata a um cargo político tem de estar preparado a ter todas as experiências. A experiência de ontem está recuperada, mas as imagens foram bem claras sobre quem foram os protagonistas das arruaças», referiu aos jornalistas.» TSF Online - Diário IOL

Eu só vejo escaramuças deste género e não a resolução dos problemas prementes do país ,ainda por cima fiquei muito irritada com as avultadas quantias de dinheiro que os partidos vão receber para as campanhas. Num momento como este o PCP e Bloco de Esquerda (principalmente) deviam ser os primeiros a reduzir as verbas e a imporem uma campanha austera. Estou farta...

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Hoje é dia 1 de Maio e encontrei muitos estabelecimentos abertos



Hoje fui à Lourinhã almoçar numa casa encantadora da Pi e do António Luís. Eles foram amorosos e serviram-nos um óptimo repasto pois ela é uma maravilhosa cozinheira, até comi um excelente arroz doce sem ovos imaginem e estava do melhor. Depois fomos ver outra casa que eles têm numa outra freguesia e passámos pela praia da Areia Branca, estava imensa gente e muitos estabelecimentos abertos, talhos, mercearias e não sei se os supermercados não estariam também, fiquei admirada, o dia do trabalhador já não é o que era. Não vi festejos nenhuns a não ser pela tv nas grandes capitais, aqui no concelho de Cascais também nada avistei. Porque será isto? Neste momento estou a ver na televisão uma notícia em que na freguesia de S. Teotónio no Alentejo ,um nº. grande de tailandeses trabalham na preparação de plantas de ornamentação para serem enviadas para a Holanda.
Uns dizem que os portugueses não querem fazer este serviço, outros dizem que os estrangeiros são pagos miseravelmente e os portugueses exigiam os seus direitos e tinham de ser pagos como deve ser, outros ainda dizem que alguns ficam sem receber ordenado, eu já ouvi estas histórias com alguns africanos que quando trabalhavam na construção civil ficaram sem receber aquilo a que tinham direito. Os novos escravosdo século XXI....

Bom aqui vai o relatório da Madeira






Olha Dri estou a pensar em ti ao fazer este relatório sobre a minha visita à Madeira, fui convidada mais o meu marido pelas câmaras municipais do Machico e Santa Cruz, através de uma antiga aluna do mestrado de museologia. Na sexta-feira foi a vez do meu cara metade fazer uma conferência, estava muito calor e quando saiu, sofreu uma mudança térmica natural nas ilhas e apanhou frio e chuva, como ele é asmático e estava com bronquite, ficou com um febrão terrível e eu tinha que fazer no dia seguinte uma acção de formação a 32 monitores dos serviços educativos dos museus da Madeira e a professores. Vi-me numa situação dificil, ele nem queria ir a um centro de saúde nem me deixava dormir, com dores e paranóia de hospitais e médicos. Homens doentes, compreendes Dri?
Eu no dia seguinte não tive com meias medidas, arranjei um bom médico por milagre e disse na recepção do hotel «eu tenho de sair, mas está a chegar um médico que vai ver o meu marido que está doente, bata por favor à porta e diga: está aqui um médico que a sua mulher chamou e acrescentei, quer ele queira ou não queira o senhor empurre o médico para dentro do quarto» ainda bem que assim foi porque ele estava com uma bronquite infecciosa que ainda hoje está a ser tratada com antibióticos, depois de ter sido visto por outro médico em Cascais, ter tirado uma radiografia etc.
Tudo isto poderia ser um fim de semana estragado, mas não foi, ele tomou os antibióticos, eu depois da acção fui tratar do almoço dele, almoçei e fui com a minha querida ex-aluna dar uma volta pela ilha, estava muita gente da rua pois nesse dia era o desfile da festa da flor que para mim não era novidade, pois noutras visitas já o vi, assim como o Carnaval em que o Famoso Jardim ia vestido de romano e também os festejos do fim de ano. Foram umas sete visitas que eu já fiz a essa tua terrinha. Como não gosto muito de coisas com cheiro excessivo a turismo fui dar uma volta pela ilha, volta essa que no dia seguinte repeti com o meu marido, muito fragilizado coitado e com a nossa amiga, até à Calheta para visitar um edifício novo que eu ainda não tinha visto o Centro de Artes «A Casa das Mudas», um centro de arte contemporânea que tinha uma exposição cujo curador era Alexandre Melo, mas sinceramente não achei nada de especial, valeu a pena pelo edifício que tem um nome girissimo, há muitos anos um pai muito, muito rico tinha duas filhas, que eram herdeiras mais do que desejáveis, mas ele tinha medo que aparecesse algum caça fortunas e nunca deixou que as filhas saíssem muito de casa ou falassem com muita gente, ficaram assim apelidadas de «as mudas» e mudas assim ficaram até ao fim das suas vidas.
Limpei o olhar naquela paisagem, sabe sempre bem sair, mudar e guardar os vários azuis dos oceanos ou os verdes das montanhas na nossa memória.