Hoje vi na TV a comemoração dos cinquenta anos do monumento ao Cristo-Rei, fiquei a saber que Salazar não gostava do monumento, nunca fez comentários sobre ele e chegou muito atrasado à cerimónia para não ter que cumprimentar o Bispo do Porto D. António Ferreira Gomes, que lhe tinha escrito uma carta frontal com críticas sobre a sua condução do regime, em 1958. Soube também que em 1959, a assistência estava embaraçada com a demora do Presidente do Conselho de Ministros e a cerimónia começou muito mais tarde do que o previsto, mas Salazar pouco se importou, aliás ele tinha esquemas para se safar de todas as situações, mesmo as mais comezinhas.
Em 1997 eu coordenei juntamente com o meu marido uma exposição na Cordoaria Nacional que se chamava «O Prazer de Viajar», entrevistei nessa altura um antigo secretário de estado do turismo de Salazar que a meio da entrevista me contou esta história: Salazar tinha aberto um lugar de jurista no conselho de ministros e soube que uma senhora muito influente e fervorosa salazarista queria a vaga para um sobrinho. Salazar conhecia o rapaz e achava que ele não tinha de todo perfil para o lugar mas não sabia como «descalçar a bota», esta história contou ele ao seu secretário de estado numa sexta-feira de despacho, tinha sido convidado para jantar na casa da dita senhora nessa noite e estava preocupado.
Quando se encontraram passada uma semana para nova sessão de trabalho, o secretário de estado na despedida perguntou a Salazar «então Sr. Presidente sempre deu o lugar ao rapaz?». Salazar sorriu e disse, «não, não, resolvi o caso muito bem, ela deu-me um belo jantar e quando passámos para a sala para beber o café, ela sentou-se ao pé de mim e disse-me, sei que o Sr. Presidente tem um lugar vago de jurista, tenho, por acaso tenho, respondi calmamente, é que Sr. Presidente o meu sobrinho jurista era muito bom para o lugar, ele é muito bom rapaz mas não tem tido muita sorte, eu levantei-me e disse-lhe, ah sim, mas eu para esse lugar só quero pessoas com sorte, fui buscar o sobretudo e o chapéu e despedi-me de imediato».
Esta história é real não é anedota e mostra como o diatdor resolvia num segundo as questões que lhe apareciam, nem que fosse atrasar uma inauguração, com o Cardeal, ministros e representantes do Papa à espera para não encarar quem teve coragem de lhe escrever uma carta preto no branco.
5 comentários:
é uma de tantasssssssssss histórias da bela pessoa de salazar!
não sabia que ele não gostava do monumento...
bom domingo
beiijinjos
Ah Anad, puseste-me a rir com essa.
Que o tipo era um espertalhão estava às escâncaras na cara dele. Basta-nos atentar no seu sorrisinho matreiro e no brilhozinho sinistro dos seus olhos de águia manhosa...
Quanto ao «descalçar da bota» que mais haveria de desclaçar quem só usava botas? Teria o pé boto? Ou seria apenas um hábito serrano, atávico?
Também não gosto do monumento. Mas eu sou descrente, por isso, compreende-se.
Dri
Ele gostava de alguma coisa que o contrariasse ou lhe pudesse causar problemas?
Repetindo a frase de um dos seus leitores: " E ele lá gostava de alguma coisa? " rs.. rindo muito com essa passagem. bjos
Anad
essa história de Salazar relembra outra em que ele ia de carro pelo Alentejo quando viu a GNR a afugentar pessoas á beira da estrada.
Quiz saber o que se passava, lá soube que apanhavam espargos bravos, beldroegas e coisas do genero para comerem.
Deu ordem para que naquela estrada quem andasse a apanhar ervas para matar a fome o poderia fazer á vontade...
Também não queria saber do que acontecia na PIDE, desde que fosse eficaz!
beijo
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