domingo, 6 de dezembro de 2009

Correu muito bem a primeira viagem da Comunidade de Leitores











Ontem dia 5 inaugurámos a primeira saída da Comunidade de Leitores, subordinada ao tema «Identidade Ribatejana». Começámos pela linda igreja barroca de Samora Correia, que pertenceu à Ordem de Santiago. Quando lá chegámos a senhora que nos devia abrir a porta não estava, perguntei aos vizinhos por ela e só me indicaram a irmã, a D Felismina que morava perto. Fui lá a casa e ela telefonou à sua irmã que não se lembrava do compromisso, como morava longe fomos com a que morava mais perto da igreja e esta idosa foi fantástica, falou do templo com uma paixão e um entusiasmo que por vezes não vejo nos técnicos que estão nos monumentos, palácios e museus. Obrigada minha querida senhora, foi mesmo bom ouvi-la.
Partimos em seguida para o museu de Benavente onde estava a minha amorosa ex-aluna Perpétua. Houve grande interacção no grupo, pois tanto eu como ela assim o motivámos. A exposição centrava-se no touro como animal de trabalho depois de amansado e castrado (no passado de forma brutal) e nos ciclos agrícolas do Ribatejo, terra de grandes latifundiários desde há muitos séculos, com quintas de lavoura onde trabalhava muito campesinato e no caso do arroz tal como na Comporta, vinham sanzonalmente bandos de mulheres e homens para a ceifa, chamavam-se os ratinhos e os gaibéus nesta zona. Uma ribatejana nunca casava com um beirão, mas os ribatejanos sim.
Dali partimos para o museu do Neo-realismo em Vila Franca de Xira, um bonito museu que recomendo. Um edifício de raiz, de Alcino Soutinho, com um fantástico espólio e um projecto de museografia excelente e de uma grande clareza. Todos os públicos entendem o que foi o Neo-realismo, tanto na literatura, na arte, no cinema, etc., além disso a monitora é entusiasmada, conhece a colecção e sabe o que está a dizer. Não há dúvida que ninguém pode falar sobre aquilo que não conhece. Houve outra vez uma estupenda interacção com o grupo.
Depois do almoço fomos ao museu sede de Vila Franca de Xira, aí outro monitor explicou-nos a ocupação humana do território e as actividades que se desenvolveram através dos temos, e notámos que as fábricas estão todas a fechar. Vimos os migrantes que foram instalar-se neste concelho, os Varinos oriundos de Aveiro e os Avieiros de Vieira de Leiria. Não há cidade no nosso país que não tenha esta multiculturalidade resultante das constantes migrações do interior para o litoral ou do norte para o sul, procurando melhores condições de vida.
De seguida fomos ver um filme sobre a largada de toiros pelas ruas da cidade na festa do colete encarnado. Foi outra faceta da utilização deste animal. Devo dizer que não acho graça nenhuma às touradas, nem esperas de touros, nem largadas, isto não é para mim, mas reconheço que faz parte de uma tradição muito arreigada em determinadas regiões, mas acredito que dentro de uma dezena de anos, estas manifestações vão começar a enfraquecer, pois as novas gerações terão uma nova consciencialização sobre os direitos dos animais. Tivemos também durante a visita informação sobre uma peça de robertos que o museu mandou construir sobre a tourada com as figuras tradicionais: o toureiro, o bêbado, os forcados, o touro e outros tantos. É uma experiência a nível do serviço educativo que tem tido muito sucesso.
Após a visita e por gentileza do museu, na sala polivalente os trinta elementos do grupo debateram o «Barranco de Cegos» de Alves Redol. Foi um momento único. Toda a gente tinha lido o livro total ou parcialmente e a conversa foi muito animada à volta da figura de Diogo Relvas, um tirano da ideologia dominante, com fartos domínios no Ribatejo e Alentejo, senhor de tudo e de todos, que no decorrer do romance e consoante se iam alterando os regimes e o progresso avançava com novas indústrias, vias terrestres e rodoviárias, este protagonista tornou-se um reacionário decadente que foi um referente para os seus descendentes, principalmente o seu neto mais velho que o fez perdurar uma dezena de anos até que se transformou numa nuvem de pó. É um romance a não perder, pela escrita, pela modernidade do tema na década de quarenta do século passado, por algumas similitudes com o que se passa hoje. Partimos contentes e para a próxima será outro membro do grupo a coordenar o debate sobre «Os meus Amores» de Trindade Coelho, pois vamos para o ano para o Norte, na terceira sessão da Comunidade de Leitores, a segunda será ainda este mês, iremos cinquenta ver a Giselle ao teatro Camões pela Companhia Nacional de Bailado, onde o meu filho será o bailarino principal. No almoço do aniversário da Associação debateremos este bailado e o enquadramento romântico desta coreografia.
A visita terminou com uma ida à igreja de Vialonga, linda de morrer, com uns altares de talha dourada magníficos e um cristo indo-português dos melhores que temos visto. Quem diria que num lugar com construção tão nova havia uma igreja pequena, mas de uma grande beleza.
Tem pernas para andar esta Comunidade de Leitores da Associação Cultural Dr. Emmanuel Correia.
E já agora dou-vos a notícia para quem não sabe, o museu do Oriente recebeu o prémio da APOM, Associação Portuguesa de Museologia, como o melhor museu do ano. O arquitecto foi Carrilho da Graça, o museólogo Fernando António Baptista Pereira e o designer Nuno Gusmão. Estão de parabéns pelo prémio estes três elementos que honram a museologia nacional e que poderiam fazer museus em qualquer parte do mundo.








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