domingo, 13 de dezembro de 2009

É muito bem quando um dia é dia de afectos
























































Ontem realizou-se o almoço de Natal da Associação Cultural Dr. Emmanuel Correia, o tal grupo de viagens fantástico de que eu vos tenho falado. Começamos o dia sempre com uma visita, desta vez foi à capela e às salas do Colégio de Nª. Srª. do Bom Sucesso, ali ao pé do Centro Cultural de Belém. É uma capela barroca lindíssima, «Conta-se que, por meados do séc. XVI, um homem com muito bom aspecto, desconhecido, chega à quinta da condessa da Atalaya, D. Iria de Brito. Levava consigo uma bonita imagem de Nª Senhora, que pretendia vender. Era esta senhora extremamente devota e também bastante rica, pelo que, não seria de estranhar que alguém interessado em vender uma imagem a ela recorresse. Atendido pela empregada, e, não sabendo esta que resposta dar, pediu-lhe que aguardasse na entrada, pois iria comunicar o caso à sua patroa.
Quando ambas voltaram o vendedor tinha desaparecido, encontrando-se apenas na entrada a imagem de Nª Senhora. A Condessa, achou-A muito bonita, levou-A para a sua capela invocando-A com o título de Nª Senhora da Conceição.
Os anos passaram e a condessa, a pedido do seu director espiritual, o Padre Dominicano Dominic O’Daly, oferece a sua quinta de Belém para um convento, onde as raparigas irlandesas pudessem professar a sua fé longe das perseguições existentes no seu país. É no ano de 1639, que o convento abre as suas portas recebendo as primeiras postulantes. »

Ainda hoje o Colégio está entregue a irmãs irlandesas de uma simpatia enorme. Adorei o altar de embutidos, habitualmente vimos sempre os altares barrocos com talha dourada, mas este era de embutidos em mármore de uma beleza impressionante, claro que havia altares com talha dourada lateralmente, mas aquele é especial. De seguida ainda passámos pelos Jerónimos, o FA, meu marido, explicou o mosteiro da parte de fora com microfone, sim porque esta associação é dada às novas tecnologias, e no interior dividimos os grupos porque eram 100 pessoas e eu também tive ocasião de explicar o interior, destacando alguns elementos da sua história, das suas componentes artísticas e arquitectónicas.
O almoço foi na Casa do Alentejo (é muito difícil arranjar em Lisboa uma sala para tanta gente almoçar) em plena Baixa, nas Portas de Santo Antão, casa que eu não conhecia ou então se a vi foi mesmo quando era muito jovem e foi uma agradável surpresa. É uma casa dos inícios do século XX da Belle Époque, neo-árabe, com laivos de Arte Nova, principalmente nas pinturas dos tetos.
Como a comida era toda baseada na gastronomia alentejana, comi a sopa de cação e não comi o ensopado de borrego, comi um pouco de bacalhau à Gomes de Sá e uns bolinhos e fruta, muito pouco, juro.
No final o João António fantástico organizador fez uma síntese dos nossos passeios, abrindo já perspectivas para o próximo ano. Depois foi um mar de afectos, o meu marido recebeu um livro lindissimo que lhe vai ser muito útil para as aulas e visitas que irá realizar em Portugal e no estrangeiro e eu um ramo de orquídeas do melhor que possam imaginar. Plantas e flores são das prendas que eu mais gosto, mas ainda não acabou a minha narrativa, entregaram-me uma folha onde colocaram a minha foto de um dos passeios, com umas frases queridas e todos assinaram. Quando lhes agradeci disse-lhes que apesar de ter trabalhado 41 anos em museus e como professora, que ainda o sou, apesar de aposentada há um ano e meio, continuando a trabalhar nos mais variados projectos, «devo dizer-lhes que foi aqui que encontrei das melhores pessoas que conheci na minha vida.» Emocionei-me e pensei, não há dúvida que Deus fecha por vezes uma porta , mas abre-nos uma janela e nessa janela aberta eu vejo sempre azul ao longe. Dei beijos a cem pessoas, desejando-lhes um Santo Natal e um Ano de 2010 cheio de venturas e sonhos realizados mesmo no caos do nosso país, mas não há duvida que temos que acreditar. O nosso grupo é de uma riqueza muito grande porque é formada por pessoas reformadas ou ainda no activo, de variadas profissões: médicas (os), enfermeiras (os), bancários (as), professoras (es). etc. Tenho aprendido muito com eles.
Às cinco da tarde o filho de uma nossa amiga pintora e escritora, veio buscar-nos e levou-nos até ao Estoril à «Memória dos Exílios», onde o FA. foi apresentar o livro da Gilda Maria, uma mulher encantadora que foi casada com o pintor Francisco Maya, filho do escultor Delfim Maya. Esta mulher formada pelas Belas Artes do Porto, dedicou assim que casou toda a sua vida à família e influenciou de uma forma muito activa a obra do seu falecido marido. Depois de ele falecer e passado o trauma da ausência de um grande amor, ela começou a pintar de uma forma magnifica e a escrever o que lhe vai no mais íntimo do seu ser. Como disse o FA. que fez de improviso uma das mais brilhantes intervenções que eu lhe tenho ouvido «é a história de uma alma para as outras almas, em vagas que vão vindo até á praia e se tornam em espuma branca que imediatamente se tornam noutras vagas, pegando em ideias que tinham sido reflectidas anteriormente e de novo aparecem com nova roupagem, estando sempre atenta ao mundo que a rodeia, não é um livro com um climax, porque esse será feito no diálogo que a autora espera que os seus leitores o façam com a sua leitura».
É muito bom quando um dia é de afectos...

Sem comentários: