domingo, 16 de dezembro de 2012


A teoria igual à prática é sempre o mais difícil de alcançar, digo-o por mim, mas é uma forma de nos posicionarmos na vida da forma mais ética possível. Aprendi muito com a minha saída de Setúbal, depois de longos anos lá trabalhar e viver, e percebi que os seres humanos têm os seus limites, por isso na sociedade e seja em que actividade for existem sempre os medíocres e os talentosos, os medíocres trabalham para si, os talentosos trabalham para a realização de uma obra. Os medíocres são em maioria e fazem todo o possível para afastar os que trabalham com paixão para uma obra comum, por isso no nosso país vingam os medíocres.
Não sou do género de pessoas que diz «eu se voltasse atrás faria tudo na mesma», não, eu modificaria muita coisa no meu comportamento, mas com o conhecimento que hoje tenho da fragilidade e ambição humana e principalmente do tempo que perdi para trabalhar para a obra comum e que poderia ter dado  aos meus filhos quando eram pequenos e também dos meus próprios limites e excesso de entusiasmo. A obra na qual colaborei nunca teve um grande impacto publicitário junto do poder central porque nunca andei lá por perto e o júri internacional que avaliou o Museu do Trabalho em Setúbal, escreveu nas conclusões finais, este museu não trabalha para o exterior da sua comunidade e sim para ela e com ela. Trabalhei e trabalho ainda muito voluntariamente, ainda ontem estive na Casa dos Professores em Setúbal que me acolheram muito bem, realizando uma palestra sobre a origem do Presépio. Fiquei feliz e vivi momentos muito felizes com a Maria Amália, amiga fiel de há trinta anos, daquelas que na sua simplicidade souberam dar-me o melhor que um ser humano possui: amizade.  Agora falta terminar o meu doutoramento porque eu hei-de morrer de pé como as árvores e hei-de aprender e trabalhar até ao fim, junto daqueles que me amam e felizmente ainda são bastantes, porque as amizades são como as plantas, morrem umas e renascem outras como no Solstício de Inverno em que se preparam as sementeiras. O amor dos descendentes esse permanece de forma incondicional e são sem dúvida a minha melhor produção «vintage».
A todos os amigos e amigas virtuais desejo um bom Natal junto de quem mais desejarem.

Presente                                 Matilde Rosa Araújo                    

A girafa deu
ao seu
marido
no dia
de Natal
um lenço
colorido
de seda natural.
Que alegria!
– disse o marido –
ponha a pata
nesta pata,
com um pescoço
tão comprido
você não podia
ter-me comprado
uma gravata.



Matilde Rosa Araújo (Lisboa 1921 – 2010) pedagoga, escritora e poeta.

Sem comentários: