Por mais que os pais se esforcem, raramente conseguem influenciar os filhos nas amizades. Os amigos deles são apenas e só eles a escolherem, pelo menos quando crianças. Nós bem que podemos impingir- -lhes os filhos dos nossos amigos, como quem enfia um prato de sopa pela goela abaixo de uma criança, ou podemos tentar obrigá-los a darem-se com os melhores alunos da turma que não vale a pena. Não vale o esforço.
As crianças é que escolhem os seus próprios amigos e escolhem todo o tipo de companhias: criancinhas insuportáveis, suportáveis e fantásticas. Não há como prever. Elas escolhem os amigos por intuição, não respeitam mais nenhum critério: ou gostam de brincar com a outra criança ou não gostam. É simples. Não querem saber de mais nada. Não perdem tempo com futilidades que só os adultos conseguem distinguir. Uma criança gosta do menino do lado, ou da menina da frente, se cria empatia, se desenvolve interesses em comum que até podem ser invisíveis aos nossos olhos, elas respeitam-se e criam laços que duram uma vida inteira. Não há nada a fazer contra isso. Quando a escolha das amizades obedece a preceitos ou a condições que não sejam apenas essas, como a empatia ou o gosto, quer dizer que os meninos já não são crianças. Quer dizer que acabou a idade da inocência e entrou a idade da aparência. É o primeiro sinal da adolescência.
As crianças, quer os pais gostem ou não, gostam verdadeiramente dos amigos. Gostam tanto dos amigos que conseguem passar tardes inteiras a brincar sem abrir a boca. Elas não conversam, brincam umas com as outras. Os pais não entram neste capítulo.
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