quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Ontem grande encontro da comunidade de leitores. Somos 9, comigo dez e vão entrar mais três pessoas. Ontem foi discutido «O Bolor» de Augusto Abelaira e depois os bolinhos de sempre trazidos pelas amigas. Este grupo existe desde 2009. Eis aqui uma opinião de José Alexandre Ramos 
«Segundo os críticos e estudiosos este romance de Augusto Abelaira é considerado um dos livros que marcaram a passagem à pós-modernidade na literatura portuguesa. Foi editado pela primeira vez em 1968. Pelo estilo muito próprio do autor, estilo este presente ao longo da sua obra, trata-se, sem dúvida, de um romance criativo que ultrapassa qualquer classificação ou estilo que se queira atribuir, e que aponta a um modelo de sociedade cujos valores, à época em que foi escrito (também o tempo da acção), quase nada já tinham a ver com as mudanças que surgiram no quotidiano, na consciência e no comportamento das pessoas. 


É o retrato da decadência do casamento, tema muito abordado em vários romances de Augusto Abelaira. Através de um diário, Humberto, personagem central de um triângulo amoroso, coloca-se perante algumas questões relacionadas com a sua relação conjugal, observando o seu comportamento e o de sua mulher, Maria dos Remédios. Ao mesmo tempo vai tomando consciência do terceiro elemento, Aleixo, amigo íntimo, que de forma subversiva leva Humberto a expor-se perante a evidência da desagregação do seu casamento. 



A dada altura, o diário é tomado pelas outras duas personagens, e o jogo narrativo assume contornos irónicos, onde cada um defende a sua perspectiva perante os outros pólos. A ironia estará se o diário, começado pela mão de Humberto, e desviado do seu propósito original para dar lugar a uma confissão a três vozes, não será de todo a imaginação do próprio Humberto face aos factos reais – numa atitude de auto-desculpa e vitimização? 



A certeza que temos é que os factores para o desmoronamento conjugal estão lá todos: a monotonia, os clichés, o conformismo e o inconformismo, a insegurança, a solidão, o desejo de um recomeço. O próprio conceito de amor conjugal é colocado em questão. A busca da resposta a um porquê elucida-nos sobre a frustração que precipita o fim. 



Não se trata de saber como se desenvolve e acaba uma história onde um casal se afasta pela acção de um terceiro elemento, mas antes da tomada de consciência, pelos três pólos deste triângulo, dos elementos que determinam uma ruptura e exigem uma mudança. Elementos esses arrastados, esticados, desgastados, bolorentos. 



Uma leitura para introspecções. Um livro sobre a crise conjugal, infinitamente actual. »

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