terça-feira, 1 de janeiro de 2013


Quando se chega à 2ª. metade dos sessenta e o ano se inicia, não há dúvida que é altura para parar e pensar, e escrevo isto por causa do filme «Amor» tão aclamado e premiado pela crítica, que eu vi há tempos. Se bem que magistralmente realizado pela mão de um austríaco, é um filme feito com muita frieza, mas quem sabe com a realidade dos nossos temos, a miséria humana da velhice. Envelhecer com dignidade é um propósito, mas nem tudo está nas nossas mãos. Existem pessoas que embora tenham tido uma vida cultural muito rica, ficam na 3ª idade, com doenças neurológicas infelizmente muito comuns e por enquanto incontroláveis. Como calcular e resolver a situação? Os filhos por vezes estão longe obrigados a emigrar por este governo e tal como a do filme, vêm de vez em quando visitar os pais e falarem à mãe dos seus problemas e ao mesmo tempo criticarem o pai. Eu falo pelas notícias que vejo nos jornais e televisão, a velhice é um estado de uma profunda tristeza, quando ele se suporta na base dos filhos que como se vê nas sociedades capitalistas é um fardo para muitos, mas eles também não podem ser criticados, a vida mudou, as rectaguardas também. Hoje em Portugal a maior parte dos idosos já reformados trabalham para fazer face às parcas reformas e não conseguem apoiar os netos como os filhos desejariam e outros criam diversas famílias para terem mais carinho, para se sentirem protegidos. Os que são ricos vivem rodeados de enfermeiras e empregadas que substituem o núcleo familiar.
E eu? Eu nunca paro, doutoramento para a frente, projectos culturais como a comunidade de leitores que mantenho todos os meses, leitura, musica e agora vou começar a fazer marcha, todos os dias, por questões de saúde. Não posso ficar parada, nunca fiquei. Oriento ainda alguns mestrados, vou escrevendo alguns artigos e mantenho-me pomposamente no papel de hortelã, comendo o que o Sr. Manuel planta.
Mas neste dia primeiro do ano levantei-me, tomei o pequeno almoço e parei para pensar e tomar resoluções. Abri os e-mails e olhei uma e duas vezes para as fichas de inscrição que um fantástico lar de professores me enviou depois de eu lá ter feito um voluntariado e decidi inscrever-me, acho que o meu marido também quer e quando chegar a altura, tudo estará preparado, fazem-se as doações dos objectos e livros que os filhos não querem (muito já doei e continuarei a fazer), distribuem-se os bens que houver e leva-se para o lar o mínimo, os tais cem objectos incluindo tudo (roupa, livros, etc) que eu um dia desejei ter comigo, porque os sonhos ocupam muito espaço. Depois brindo com os outros idosos o novo ano que daqui a dez ou quinze anos nascer, numa sala mais ampla desse lar e recebo ternamente no telemóvel mensagens ou telefonemas dos meus quatro filhos e dos meus netos.

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