quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

De cada vez que vou ao cinema, gosto mais do gato Freddie Mercury


Juno adolescente «transa» uma única vez com Paulie da mesma idade sem cuidados e fica grávida. Até aqui nada nos parece diferente das notícias que todos os dias nos aparecem nos jornais, a não ser que Juno é uma miúda que personifica a «globalização» da economia, da sociedade, dos sentimentos, etc. Que chatice ficar grávida, mas não é nada de menos, calhou e a família, a escola e a sociedade encaram tudo normalmente: faz um aborto, ela não quis e resolve entregar o bébé à adopção. Uma forma de adopção diferente da do nosso país. Vem nos anúncios de jornais, e como diz a amiga de Juno é fácil porque a página dos anúncios traz tudo, «bébés para adoptar, iguanas para vender, material informático, etc». Tudo mercadoria.
Juno encontra um casal com posses que não pode ter filhos, Juno com o pai vai lá casa e combina o acordo, só que o casal mais tarde decide separar-se porque ele descobre no fim da gravidez de Juno que quer viver os seus sonhos de compositor de rock e um filho não é prioridade. Juno assusta-se, porque ela não quer mesmo o filho, quer dá-lo e então diz à Vanessa (candidata a mãe adoptiva) -se tu o quiseres , eu quero - e esta fica com a criança, sózinha .
Juno descobre que afinal gosta do Paulie, porque ele gosta dela, gorda, magra, alta, baixa, mal disposta, bem disposta e fica com ele, entregam o filho e o pai prefere não o ver , e ficam a tocar guitarra à entrada da porta.
A Juno é uma rapariga dos nossos tempos como eu disse, olha a vida sem lamechices, quer, quer, não quer, não quer e segue em frente. Instinto maternal, o que é isso? Não existe neste filme, a não ser na madrasta da miúda.
Juno é pragmática e honesta, quer uns bons pais para o filho, fala de tudo abertamente, não está com historietas e segue a sua vida e os seus interesses como se nada tivesse acontecido. Paulie amorfo, deixa-se liderar por esta vontade férrea. O que interessa naquele momento é continuar a curtir, tocar guitarra e viver um dia de cada vez o resto se verá.
Quando o filme terminou, comparei de flash a minha juventude e a dela, que abismo. A educação da minha geração foi emocional de mais, romanesca e também aventureira não digo que não, mas dificilmente encarados os sentimentos e as emoções como «produtos» descartáveis, trocados e negociados.
Devo dizer que aprendo muito com a juventude deste tempo, e não os censuro nem os crítico. Quem é quem para julgar quem? Tudo tem uma explicação, mesmo que essa explicação seja contra tudo para o qual fomos formatadas. Estes jovens são uma herança das nossas gerações, da nossa sociedade, dos políticos, da cultura. Eles são o nosso testemunho, por muito que não queiramos aceitar.

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