quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Viagem a Trás-os-Montes - 1ª. parte




































































Se não tivesse nascido em Lisboa, teria querido nascer em Trás-os-Montes. Adoro esta região e as pessoas que vivem e são naturais de lá. A sua bondade, abertura e pureza comovem-me.
Partimos às seis da manhã, o dia estava frio mas bonito. Chegámos a Torre de Moncorvo pelas 12h30, a igreja a linda igreja estava fechada, ficámos por ali a almoçar, eu sempre peixe e legumes sem sal, as outras pessoas os belos petiscos transmontanos. Comprei alheiras, salpicão, amêndoas e queijo para a família.
Quando a igreja abriu foi um deslumbramento de talha e imaginária, que grandezas tem esta região por vezes tão desconhecida dos portugueses, seguimos para Freixo-de-Espada-à-Cinta, terra tão longiqua e de tanta tradição, a igreja ainda mais bela foi uma tristeza para nós, o Igespar que tem a sua tutela tem as pinturas do altar mor retiradas e embrulhadas à espera de restauro. Um dos altares laterais tem um taipal de madeira onde parece que estão as pinturas, uma igreja manuelina das mais lindas do país que parece um barracão em obras. A vila que à entrada tem o cognome de vila manuelina, não corresponde à realidade em termos formais, as janelas manuelinas que estão nos prédios antigos têm sobrepostos andares do mais mal feito que há, não compreendo como autorizam estas obras na Câmara. Claro que Freixo tem uma paisagem sem par, as amendoeiras em flor, mas só isso não basta, o património construído tem de ser bem tratado para fazer jus ao cognome de «vila Manuelina». Os museus são pequenos e o livro e vídeo que o Museu etnográfico e arqueológico que foi instalado na cadeia não é demonstrativo de forma cabal das colecções existentes, é mais um vídeo poético, a mercearia do pai de Guerra Junqueiro, que era um comerciante abastado, não traduz de maneira nenhuma a vida e obra deste grande escritor «Pela estrada fora, toc, toc, toc...». Para conhecer a sua vida e obra aconselho a Casa Museu Guerra Junqueiro no Porto. A casa da seda natural é interessante mas é mais para venda do que para mostrar devidamente a cadeia operatória do trabalho da seda.
Seguimos para Mogadouro, terra do Trindade Coelho, escritor por nós escolhido para esta viagem, esta câmara tem feito um trabalho muito bom, não há dúvida que as Câmaras não são os partidos A ou B, mas sim as pessoas que lá estão a coordenar. O Convento de S. Francisco está a ser arranjado, o castelo que foi dos templários é maravilhoso assim como a casa de Trindade Coelho e a sua mobilia e espólio que está guardado numa excelente e nova biblioteca. Dois jovens da autarquia, uma bibliotecária e um arqueólogo muito novinhos deram o seu melhor, no percurso que fizemos por Mogadouro, através da vida conturbada deste escritor, republicano, mas ao mesmo tempo de escrita romântica e pueril, retratando tão bem as boas gentes transmontanas.
Fomos dormir a Miranda do Douro de manhã vimos a igreja que estava resplandecente, como é que uma igreja, catedral desta monta, não é mais conhecida e divulgada? O Menino Jesus da Cartolinha lá estava dentro de uma vitrine a sorrir para nós, com os seus fatinhos todos à volta, ele veste da cor dos periodos liturgicos. Tem uma lenda muito bela, diz-se que nas invasões napoleónicas, aparecia um menino vestido de fidalgo a incitar as tropas portuguesas e quando os portugueses ganharam o menino nunca mais apareceu, trazia na sua cabeça uma cartola, por isso foi santificado pelo povo e chamado de Menino Jesus da Cartolinha. Vimos a seguir a igreja da Misericórdia, linda como todas as outras. À noite comeu o grupo a posta mirandesa e outras gulodices.
O Museu das Terras de Miranda está uma desgraça, tanto o edifício como as colecções necessitam de restauro urgente, aqui está uma prova de como o IMC trata o seu património mais distante, o isolamento e a ausência do interesse da tutela matam um património tão rico. Parece haver museus de 1ª. os de arte e os museus de 2ª. os de etnografia.
Partimos para Bragança, mas antes visitámos a bela igreja do Senhor Santo Cristo em Outeiro, que só se entende a sua grandeza numa aldeia tão pequena porque esta igreja tinha a função de local de peregrinação e também fomos à Igreja de Castro de Avelãs, a igreja românica cuja cabeceira românica é a mais antiga de Portugal, uma aut~entica maravilha e as senhoras que abrem as igrejas tanto em Outeiro como em Castro Avelãs são do mais querido que há. Chegados a Bragança, lá almoçámos , Bragança tem um mar de igrejas de talha dourada que é do melhor qué há. Começamos pela igreja de S. Bento, uma igreja com uma talha e uma pintura de tecto abobadado setecentista que ostenta uma bela pintura cenográfica com arquitectura fingida e perspectivas acentuadas da autoria de Manuel Caetano Fortuna. Uma beleza e o cónego era um amor. Depois fomos para a cidadela, que maravilha, a torre de menagem, a Domus Municipalis, centro administrativo dos homens bons medievais e a linda igreja de Santa Maria que está um mimo, pois são os mordomos que fazem a manutenção e não o Estado. A seguir vimos um museu fantástico, o Museu Ibérico dos Caretos, um museu autárquico bragantino em colaboração com a Câmara de Zamora, as máscaras são do melhor, não resisti de fazer a comparação com o museu de tutela estatal em Miranda do Douro, museus locais devem passar todos para as autarquias, com as verbas necessárias. O IMC sempre se interessou pelos grandes centros e o Igespar não tem na mesma conta a protecção das igrejas do interior, veja-se o caso de Freixo.
À noite depois do jantar discutimos animadamente a obra de Trindade Coelho, coordenada pelo Carlinhos, nosso companheiro que fez muito bem o trabalho de casa. No dia seguinte visitámos de manhã o mercado, eu comprei umas meadas de algodão puro para a minha filha mais velha fazer os seus tricots e em seguida fomos visitar mais umas igrejas. Bragança estava toda branca, um nevão caído de noite tinha-a posto toda branca, tivemos o programa paisagistico em pleno. Visitámos a Sé, a linda Sé velha e o Centro de Arte Contemporânea Graça Morais, onde está uma exposição intitulada «A Procissão». A pintura de Graça Morais é forte e por isso tem fortes raizes à terra, a esta região tão bela, a estas mulheres tão fortes e tão trabalhadoras, talvez por essa razão esta mulher não é querida pelos críticos «os estrangeirados» que só gostam do que vem de fora, ou que tenha influência de fora.
Ainda de manhã visitámos a igreja da Misericórdia, tal como o fizemos em Freixo e em Mogadouro, são muito interessantes as igrejas da Misericórdia desta região, cheias de retábulos com muita imaginária em relevo. Visitámos o convento de Santa Clara com um tecto lindo mas infelizmente não conservado e fomos almoçar. As transmontanas com família na região foram ter com os familiares, a Goreti e a Maria Alcina que me encheu de prendas, além da correspondência de Trindade Coelho, um dicionário de termos de Trás-os-Montes e dois bocados de bolo deliciosos trazidos de casa da irmã que faz tudo bem feito. Foi mesmo querida.
À tarde visitámos o Museu Abade de Baçal, com boas obras é certo, mas com uma museografia que não gostei nada, sem contexto, tudo em fila, a parte do Almada é de difícil leitura, pois é toda uma fileira, sem um texto introdutório, sem nada. Os relicários pendurados na parede têm por baixo uma peça artesanal de ferro forjado, que não dá a bota com a perdigota, mas também os bons conservadores - directores não se aguentam lá. Vamos ver quem é o próximo?? Terminámos com a igreja de S. Vicente, linda . Fiquei com esta talha dourada no coração, que beleza. Que saudades.
















Pelo caminho cantámos e fizemos quadras ao desafio. Chegámos contentes e felizes de termos um grupo assim.

1 comentário:

Anónimo disse...

Vimos Igrejas, Conventos...
Da Amendoeira vi Flores
E resguardados do Vento
Falámos dos "Meus Amores"

IN ILLO TEMPORE aqui estive
Quão diferente essa passagem
Mil Memórias que retive...
Oh Céus! Grande Viragem

E grande bjoca
Mané