São só 44 anos a dizer «a criatividade é que nos salva», mesmo quando os académicos e conservadores de museus (meus pares) achavam que eu fazia brincadeira a mais, hoje vejo em tantos museus aquilo que eu fazia nos serviços educativos nos anos 80, que era aprender brincando, desenvolvendo o potencial que as crianças, jovens e adultos tinham lá dentro, trabalhei sempre para as comunidades, com elas e nunca me aproximei dos convívios com o poder e quando remotamente me aconteceu, nunca foi para ir mais longe, mais longe, para fazer carreira política, mas sim para aprender mais e mais conseguindo do poder que me estava próximo atividades que resultassem numa mudança, numa viragem nas comunidades, fossem elas infantis, jovens ou adultas, por isso este homem me tocou tanto. É fantástico chegar a esta idade e estar tão despido de protagonismo. Eu revejo-me totalmente neste discurso e são muitas destas palavras que eu digo aos filhos e filhas museológicas por esse país fora «a criatividade é que nos salva».
Hoje o meu filho mais novo veio buscar-me e fomos com o meu neto ver uma das melhores exposições temporárias que estão patentes em Lisboa, aquela que está no edifício novo pertencente ao Oceanário sobre as tartarugas e foi delicioso ver como ele as perseguia através do vidro, com os seus dois anos e pouco, dizendo no seu palavriado: tartaruga, tartaruga, peixe cor- de-rosa, e ficava extasiado com as cores dos corais. Os avós têm que dar aos netos aquilo que eles sabem e sentem prazer em fazer, os programas que se compaginam com a sua experiência de vida, com aquilo que eles aprenderam. Como diz o excelente conferencista deste vídeo, muitos país e mães estão mortos para as artes: a música, a dança, a pintura, etc. e esses pais e mães estão a matar a criatividade na vida dos filhos. A dança ou a música ou qualquer arte é tão importante como a matemática, a língua ou as ciências. Hoje muitos pais e mães querem que os filhos tenham um canudo com um curso que dê dinheiro e alguns até acham que o ideal de vida é o sucesso e sucesso para eles é ter um carro topo de gama, duas ou três casas, na praia no campo ou na montanha, mas alguns serão autómatos, a repetirem o que o «patrão» da política ou da multinacional lhe disser. A criatividade esvai-se quando só executamos as coisas sem um pouco de nós, um pouco de todos, um verdadeiro trabalho em equipa.
O bilhete da exposição temporária do Oceanário que eu aconselho vivamente, traz conselhos úteis. Ainda bem que estamos a mudar. Estou tão feliz com esta manhã acompanhada de alguns dos meus descendentes. Foi calma, criativa e principalmente afetiva, e a avó fez os programas que sabe e gosta de fazer. E serei sempre assim, eu darei sempre aos meus netos aquilo que eu sei, gosto de fazer e contribuir, espero, para que eles sejam mais criativos e quando chegarem à adolescência saibam refletir sobre o que aprenderam e quem lhes ensinou e assim compreendam que valeu a pena estar com este ou aquele familiar com as suas particularidades. Recordo-me que a Filomena Mónica ao responder a uma jornalista como eram os seus dias de trabalho ela disse mais ou menos isto: de segunda a sexta trabalho intensamente, ao sábado faço compras para a casa e trato de mim e o domingo guardo-os para os meus netos, para programas culturais e então contou como foi interessante ir ao Gabinete de Física ao Museu da Ciência com o neto de cinco anos e como lhe explicou o que estavam a ver. Eu não me revejo na figura da Filomena Mónica em muitos aspetos, mas neste de avó cultural, educativa, criativa e aprendendo a brincar sim. Eu sou assim e assim quero ser como avó.
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