Um dia choveu muito e as copas das árvores ficaram a pingar ao amanhecer. A mulher que não era rica nem criada abriu os olhos e olhou o céu. Ela vivia num reino onde só havia duas classes de pessoas, as ricas e as que eram criadas e ela não se encaixava em nenhum destes grupos, por isso, mesmo que tivesse dado o que tinha e o que não tinha, as pessoas não a compreendiam. Ela não podia ser diferente, tinha que estar inscrita numa destas classes sociais do reino e possuir um cartão de identidade que definisse o seu estatuto. Levantou-se, foi à praça e viu os ricos, arrogantes, frios e autoritários a distribuir as suas esmolas e as pessoas a acompanhá-los, mesmo que levassem uma vergastada voltavam sempre ou então os criados metidos em casa a trabalhar sem parar. Ela que gostava de ter o seu espaço, ganho à custa de muita luta e sacrifício, estava só, no meio da praça porque já tinha dado na altura certa tudo o que possuía, mas isso não tinha importância, porque ao deixar de dar perdeu ainda mais estatuto. Aquele reino era igual a todos os reinos do continente. Apareceu-lhe então uma fada, uma daquelas fadas bondosas e disse-lhe assim «Quem comete uma injustiça é sempre mais infeliz que o injustiçado.» E a mulher que não era rica nem criada abriu os olhos, olhou o céu e ficou a pensar.
Dirigiu-se então à repartição do cidadão do reino e disse para o funcionário amarelento: quero tirar um cartão com o meu estatuto, e qual é? Perguntou com voz rouca do tabaco o manga de alpaca. Livre, respondeu ela com muito brilho nos olhos. Livre? Esse estatuto não existe no reino, respondeu ele com os olhos esbugalhados «Quando se quer mudar os costumes e as maneiras, não se deve mudá-los pelas leis», respondeu ela confiante. Mas, mas, balbuciou o empregado, eu não tenho ordens para isso fazer. Mas faça-o, pois sou eu como cidadã que o desejo retorquiu a mulher com determinação. Então por favor redija um requerimento ao rico mais rico do reino, respondeu o manga de alpaca ainda mais amarelo do que estava ao início. Ela olhou para ele e pensou não há nada a fazer, este reino está formatado e eu tenho que encontrar o meu nicho de liberdade por estas terras e trauteando uma qualquer canção saiu da repartição foi até ao rio que atravessava o território e pensou a partir de hoje só farei aquilo que eu quiser.
2 comentários:
boa viagem! Aprende e aproveita muito.
um beijo
faz uma excelente viagem. Aprende muito e aproveita a oportunidade.
um beijo.
Enviar um comentário