A 6 de Março de 1992, morre, em Paris, Maria Helena Vieira da Silva, pintora portuguesa naturalizada francesa.
Um estado cinzento, opressor da criatividade e da liberdade não permitiu que esta mulher vivesse aqui com o seu marido, o pintor húngaro Árpád Szenes e assim partiu e naturalizou-se francesa.
Hoje felizmente uma parte da sua obra assim como do seu marido encontram-se na Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva.
Nós nascemos para sermos livres, é esse o estado natural de qualquer ser humano, mas não, nós não somos livres, há sempre energias opostas que actuam de uma forma desiquilibrada e anti natural, quer seja psicológicamente, por ideias diferentes ou por personalidades desajustadas, ou ainda por factores económicos ou sociais.
Desejo recolher-me de toda a poeira oculta do poder e tentar ser o mais livre possível, sem amarras, conseguindo lavar o coração e limpar o olhar. Fixando-me por exemplo no mundo dos museus, o que é que é genuinamente feito para os outros e com os outros, não tendo de maneira alguma interesses pessoais na rectaguarda? Tenho visto tanta coisa que penso que chegou a altura de cada vez escrever mais, abraçar os projectos que tenho em mãos na área da escrita, apoiar voluntáriamente aqueles que têm sempre tempo para se realizarem com os outros. O poder e o dinheiro e eu direi mais «o protagonismo» são afrodisíacos... e eu quero que esse meu olhar seja silencioso e o meu coração não tenha mágoa daqueles que eu ajudei tanto e hoje estão tão longe e tão disponíveis para outros lugares.
O que é que é verdadeiro e o que é que é falso? Pergunta primária, mas na verdade as pessoas e eu por mim falo são muito construídas, na sinceridade, nos sentimentos e na generosidade que acaba mal a chama se apaga. Quero sim limpar o olhar e lavar o coração, objectivos a atingir no ano de 2008.
Esta prosa mal amanhada no dizer dos «coriscos de S. Miguel», partiu de uma efeméride, o dia em que morreu a Helena Vieira da Silva há dezasseis anos.
2 comentários:
Cara Anad
fiquei muito emocionado com o que escreve no seu poste, sobretudo quase no último parágrafo... É bem verdade, bem ...
Vim aqui rapidamente, mas voltarei com tempo. Nesta hora apenas lhe deixo um pequeno apontamento de Agustina, no seu livro »longos dias têm cem anos, presença de Vieira da Silva»
»O azul era uma cor da juventude; a cor da cólera, por mal que pareça dizê-lo. Não e o vermelho que é a cor do arrebatamento, mas o azul.A época mais deslumbrante de Picasso foi a chamada » azul »; a de Vieira também . Esse »azul» traduz um vigor concordante com o melhor das aptidões mumanas»
Escreverei mais tarde, o seu texto é humaníssimo, sublinho , encontro-me nele, é esse o poder da escrita, só esse... habitualmente não respondo no meu blogue como percebeu , mas respondo aqui à pergunta dizendo-lhe não sei , talvez encontre a minha cara justificação no seu texto ....
cordialmente
JrMarto
De mal amanhada a sua prosa não tem nada. Sábias palavras as suas :-)
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