Hoje tomei um café, ou melhor um descafeínado abatanado, numa esplanada. Não costumo fazê-lo muitas vezes, nem beber café, nem ir para esplanadas. O dia estava quente e brilhante e a Praça de Londres, acolhedora como sempre. Gosto da Avenida de Roma, da Guerra Junqueiro e da Avenida dos Estados Unidos da América, são agradavéis, têm um comércio personalizado e livrarias onde se pode ler descansada uma revista ou livro.
Estava à espera dos meus cunhados, para terminarmos a espinhosa tarefa do «desfazer da casa» e penso que conseguimos, já trouxemos uma grande parte para as nossas habitações e agora só falta o aluguer de uma empresa especializada para fazer a mudança para as várias casas e o resto para dar. O lixo que deitámos foi foi imenso. As pessoas acumulam muita coisa durante a vida...
Olhei à minha volta e observei as várias mulheres que estavam sentadas ao meu redor. Todas louras, as mulheres quando chegam a uma certa idade ficam todas louras, uma gordas, outras esqueléticas, umas mal arranjadas, outras excessivamente pintadas, umas que se mexem muito bem, outras a arrastarem-se por causa das dores nos joelhos, isto quererá dizer alguma coisa? A gordura será falta de amor? E as doenças, sofrimento acumulado durante a vida? Olho para estas mulheres e é só exterior o que eu vejo, mas sei que é pelo exterior que as pessoas nos vêem, num primeiro momento e ficam com uma imagem de nós através do nosso exterior, dos nossos gestos, do nosso olhar, dos refegos de gordura se existem ou dos ossos saídos sem dó.
A empatia também é fisica, mas não pode ser só, senão é como comer pão seco e assim se olharmos vivamente esse pão obrigando-o a falar econtramos iguarias excelentes lá dentro que não supunhamos que existiam. Nós só gostamos dos belos, saudáveis e atléticos. A ditadura da beleza está a apertar cada vez mais.
Bebi devagar o meu abatanado e olhei para o que essas mulheres comiam ou bebiam, na maioria eram cafés, chás , batidos, gelados, queques e torradas. Algumas com sofreguidão, outras calmamente, também quererá dizer alguma coisa, a tal falta de amor. Umas liam o jornal, outras falavam com as amigas com vozes queixosas ou alegres, outras olhavam sonhadoramente para os homens que passavam, se calhar com desejo de ter um amante, um amante novo , apaixonado e afectuoso.
Os meus cunhados chegaram com as suas cadelas da raça da Milu do Tin tin. Pagámos a conta e fomos à nossa vida e as protagonistas da telenovela que eu estava a fazer na esplanada esfumaram-se ao longe.
2 comentários:
velhos tempos em que andava por esses lados... morei na av. estados unidos da américa e também na av. do brasil...
baptizei as minhas filhotas na igreja s.joão de deus, agora deu-me uma saudade desses tampos...
beijinhos
Eu fazia-te companhia se pudesse. Também não bebo café. Nem sequer líquidos com um nome tão esquisito como "abatanado". Cuirosa como sou fui ver o seu significado que diz:"talvez do espanhol abatanado, golpeado;diz-se do café expresso servido em chávena grande".
Portanto, suponho que o que tu esplanaste, enquanto futuravas vidas alheias e alheadas dos teus filmes mentais, foi um descafeinado em chávena grande.
E nisso acompanho-te com prazer.
Aqui também.
Fica bem e continua a magicar. As pessoas são má-gi-cas...louras, magras,gordas ou doentes.
Beijos
Dri
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