segunda-feira, 10 de maio de 2010

Adormecer com Almada Negreiros....

MÃE



Mãe! Vem ouvir a minha cabeça a contar histórias ricas que ainda não viajei!
Traz tinta encarnada para escrever estas coisas!
Tinta cor de sangue verdadeiro, encarnado!
Eu ainda não fiz viagens
E a minha cabeça não se lembra senão de viagens!
Eu vou viajar.
Tenho sede! Eu prometo saber viajar.
Quando voltar é para subir os degraus da tua casa, um por um.
Eu vou aprender de cor os degraus da nossa casa.
Depois venho sentar-me a teu lado.
Tu a coseres e eu a contar-te as minhas viagens, aquelas que eu viajei, tão parecidas com as que não viajei, escritas ambas com as mesmas palavras.
Mãe! Ata as tuas mãos às minhas e dá um nó-cego muito apertado!
Eu quero ser qualquer coisa da nossa casa.
Eu também quero ter um feitio, um feitio que sirva exactamente para a nossa casa, como a mesa. Como a mesa.
Mãe! Passa a tua mão pela minha cabeça!
Quando passas a tua mão na minha cabeça é tudo tão verdade!

_____________________

2 comentários:

Anónimo disse...

Ah Este nó-cego Aninhas, este nó cego, que coisa tão bonita...

Aguardo que me encontres o outro do Manuel da Fonseca....Mãe não devia morrer nunca..

Bjs
Mané

gaivota disse...

quando passas a tua mão na minha cabeça é tudo verdade...
tenho esta frase gravada no meu coração, desde sempre!
beijinhos