quarta-feira, 13 de junho de 2012

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Literatura

Fundação José Saramago abre hoje na Casa dos Bicos para desassossegar

13.06.2012 - 10:58 Por Isabel Coutinho

Pilar del Rio recebeu as chaves da Casa dos Bicos, em Novembro de 2011Pilar del Rio recebeu as chaves da Casa dos Bicos, em Novembro de 2011 (Enric Vives-Rubio)
 Uma exposição dedicada à obra e à vida do Nobel da Literatura português, parte da sua biblioteca pessoal e a do amigo Vasco Gonçalves podem ser visitadas na Casa dos Bicos. Saramago está sempre presente.
As luvas brancas que Pilar del Río traz calçadas enquanto arruma a biblioteca na Casa dos Bicos, em Lisboa, foram usadas por José Saramago numa cerimónia honoris causa. Nestes dias têm ajudado a presidenta da Fundação Saramago a transportar caixas, pendurar quadros e organizar papéis neste edifício seiscentista da Rua dos Bacalhoeiros, que durante os próximos seis anos vai albergar a sede da instituição fundada pelo Nobel da literatura português.

"Saramago usou-as durante uma cerimónia de um doutoramento honoris causa. Espero que a universidade não se importe... Ele não se importaria, porque estão a ser usadas para a sua obra", diz a viúva do escritor durante uma vista de jornalistas à casa que, em 2008, foi cedida à Fundação Saramago pela Câmara Municipal de Lisboa (CML) por dez anos. Ali decorrem os últimos preparativos para a abertura ao público, marcada para hoje.

A cerimónia oficial de inauguração realiza-se às 11h30, com a participação do presidente da CML, António Costa. Por constrangimentos de espaço, é destinada apenas a convidados e à comunicação social, mas a Fundação José Saramago abrirá as portas ao público à tarde, entre as 14h e as 16h.

Na cerimónia será apresentado um vídeo em que o autor de História do Cerco de Lisboa fala dos objectivos da fundação. Além dos discursos oficiais, falará o espanhol Fernando Gómez Aguilera, comissário da exposição José Saramago. A Semente e os Frutos, que ocupa o primeiro andar da nova Casa dos Bicos, cujas obras de readaptação foram feitas pela dupla de arquitectos Manuel Vicente e João Santa-Rita.

A Casa dos Bicos, que tem uma importante jazida arqueológica a nível subterrâneo, abrirá todos os dias úteis das 10h às 18h e, aos sábados, das 10h às 14h. Em Junho, a entrada é grátis, depois passa a ser paga: o bilhete custará três euros para os portugueses e "entre cinco e seis euros" para os estrangeiros. A fundação vai viver dos direitos de autor da obra do escritor, que morreu a 18 de Junho de 2010, e do trabalho que se for fazendo nesta instituição, que assume como norma de conduta, nas suas actividades, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, e que tem por missão dar particular atenção aos problemas do meio ambiente e do aquecimento global do planeta.

"Não temos qualquer outro apoio oficial e os tempos estão difíceis para conseguir mecenato. Por isso, o público vai ter de pagar entrada", explica Pilar del Río.

Parte da biblioteca pessoal de Saramago está agora guardada neste edifício, e será possível aceder ao resto dos seus livros (o essencial continua na sua biblioteca em Lanzarote), a partir de equipamento electrónico. A Casa dos Bicos tem ainda disponíveis áreas de trabalho para investigadores que estejam a estudar e a organizar o espólio. No terceiro andar, além da biblioteca e do auditório existe um espaço dedicado ao político e ex-primeiro-ministro português Vasco Gonçalves (1922-2005).

A presidenta da fundação explica ao PÚBLICO que não irão existir outros espaços "porque José Saramago já não está cá para decidir, e também não caberiam mais". Saramago e Vasco Gonçalves eram amigos e o escritor respeitava muito o político e não queria que a sua biblioteca se dispersasse depois da sua morte. "Colaboraram juntos algum tempo, e José considerava-o um ser humano de uma qualidade extraordinária. Ele não queria que a biblioteca de Vasco Gonçalves - ainda por cima são os seus livros anotados - se dispersasse por respeito a um homem fundamental na revolução democrática e que foi muito mal interpretado por interesses muito concretos", afirma Pilar del Río.

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