Li com nuita emoção este texto do meu filho mais velho que é jornalista, encontram o mesmo no blogue do Jornal de Letras. É um texto fotográfico, ao lê-lo é como se estivesse lá a ver aquele momento terrível, por gostar tanto do texto resolvi partilhá-lo com os meus amigos e amigas online. A imagem é pungente e eu recordo-me dela quando há anos se deu este triste acontecimento. Orgulho-me muito dos filhos e filhas que tenho, eu dei uma pequena parte, o que eles e elas desenvolveram ao longo das suas vidas é mérito pessoal..
O homem do tanque
Ele está ali. Camisa branca. Calças azuis. Um saco na mão esquerda. A esperança em todo o corpo, a ilusão de um dia melhor, de um futuro diferente, de uma China tolerante. Ele está ali. Sozinho e destemido. Quatro tanques à sua frente. A carne contra o metal. Os ossos contra o aço. A coragem contra a força. A determinação contra a incerteza. A vida contra a morte.
Ele está ali, por pouco tempo, mas tempo suficiente para fazer tremer um regime. Tempo suficiente para o tanque militar que o ameaça começar a guinar, virar para a esquerda e para a direita, qual barata tonta sem saber o que fazer. Um homem em Tiananmen, há precisamente 20 anos, que se assinalam amanhã, quinta-feira, 4, um pouco por todo o mundo.
Como todas as imagens, o homem do tanque é alguém que extravasa a sua origem. Já não é só o chinês que luta por uma convicção, que esquece o seu eu e se entrega à Humanidade – são ambíguas as informações que se tem dele, embora se julgue que foi torturado e assassinado poucos dias depois. É daqueles que representam a insubmissão do indivíduo à máquina, ao poder, aos interesses superiores, à intolerância, à crise.
Passados 20 anos, que amanhã se recordam, quem sabe para esquecer poucos dias depois, é irónico ver neste chinês, de camisa branca, calças azuis, humilde e convicto, a representação dos milhares de desempregados que a crise – de dúbios contornos, causas pouco esclarecidas e responsáveis por identificar – atirou para a frente do tanque. Para a corrente do blindado que esmaga quotidianos e rouba esperanças. Porque nessas casas e nessas desgraças não há fotógrafo, nem You Tube para os salvar. Estão votados ao silêncio como o homem do tanque esteve mais tarde, na cela que provavelmente antecedeu o cadafalso.
As imagens são isso mesmo: símbolos. Alarmes para uma realidade que nos é vizinha. Mas símbolos como estes não se encontram nos museus. Fazem parte da arena do dia-a-dia, onde nem todos os tanques – como este, há precisamente 20 anos, em Tiananmen – evitam a morte de uma pessoa.
Publicada por Luís Ricardo Duarte
Ele está ali. Camisa branca. Calças azuis. Um saco na mão esquerda. A esperança em todo o corpo, a ilusão de um dia melhor, de um futuro diferente, de uma China tolerante. Ele está ali. Sozinho e destemido. Quatro tanques à sua frente. A carne contra o metal. Os ossos contra o aço. A coragem contra a força. A determinação contra a incerteza. A vida contra a morte.
Ele está ali, por pouco tempo, mas tempo suficiente para fazer tremer um regime. Tempo suficiente para o tanque militar que o ameaça começar a guinar, virar para a esquerda e para a direita, qual barata tonta sem saber o que fazer. Um homem em Tiananmen, há precisamente 20 anos, que se assinalam amanhã, quinta-feira, 4, um pouco por todo o mundo.
Como todas as imagens, o homem do tanque é alguém que extravasa a sua origem. Já não é só o chinês que luta por uma convicção, que esquece o seu eu e se entrega à Humanidade – são ambíguas as informações que se tem dele, embora se julgue que foi torturado e assassinado poucos dias depois. É daqueles que representam a insubmissão do indivíduo à máquina, ao poder, aos interesses superiores, à intolerância, à crise.
Passados 20 anos, que amanhã se recordam, quem sabe para esquecer poucos dias depois, é irónico ver neste chinês, de camisa branca, calças azuis, humilde e convicto, a representação dos milhares de desempregados que a crise – de dúbios contornos, causas pouco esclarecidas e responsáveis por identificar – atirou para a frente do tanque. Para a corrente do blindado que esmaga quotidianos e rouba esperanças. Porque nessas casas e nessas desgraças não há fotógrafo, nem You Tube para os salvar. Estão votados ao silêncio como o homem do tanque esteve mais tarde, na cela que provavelmente antecedeu o cadafalso.
As imagens são isso mesmo: símbolos. Alarmes para uma realidade que nos é vizinha. Mas símbolos como estes não se encontram nos museus. Fazem parte da arena do dia-a-dia, onde nem todos os tanques – como este, há precisamente 20 anos, em Tiananmen – evitam a morte de uma pessoa.
Publicada por Luís Ricardo Duarte
Sem comentários:
Enviar um comentário