O Natal aproxima-se e no dia 24 vou reunir a família, marido, filhas, filhos, nora, genro, netos, cunhados, sogra, tia, mãe do meu cunhado e sobrinha. Somos ao todo 17. Vamos comer o bacalhau, abrir os presentes, neste ano é o amigo oculto, cada adulto dá só um presente e recebe só um, não sabe de quem, só o que o compra é que sabe. As crianças serão as mais contempladas e assim deve ser, o Natal representa a união da família na qual as crianças são a esperança do futuro. O Natal é tempo de festa e de perdão, é tempo de tirar do nosso coração rancores, invejas e tudo o que sejam más energias, más emoções. Todo o ser humano faz na vida actos bons e actos menos bons. Lembra-me sempre quando falo nisto da canção do Rui Veloso « Mostra-me o teu lado lunar»:
«(...)Toda a alma tem uma face negra
Nem eu nem tu fugimos à regra
Tiremos à expressão todo o dramatismo
Por ser para ti eu uso um eufemismo
Chamemos-lhe apenas o lado lunar
Mostra-me o teu lado lunar (...)»
Mas é Natal e no Natal quem acredita na união universal dos seres humanos, da natureza e do equilíbrio entre todos os elementos da mesma sente que vale a pena amar o próximo. Isso traz paz e alegria, traz conforto. Natal é sempre que o homem quiser, esta frase tão estafada é sem sombra de dúvida uma certeza. No dia 25 vou cá ter em casa dois amigos seniores que estão sozinhos em Lisboa e vamos festejar com eles e talvez com outro casal, aquele que irá este ano pela primeira vez para um lar, aquela querida velhinha que aos 84 anos me deixou as suas flores na véspera da partida para uma nova casa.
Irei todos os anos no dia de Natal abrir a porta a quem esteja só, a partir deste ano. Quando começamos a envelhecer devemos retirar do corpo todo o desejo de bens materiais e repartir com os outros o que temos. Devemos escrevinhar de azul os oceanos e contar as estrelas crendo que lá dentro delas está alguém que nos protege. Temos que amar a mãe terra, a natureza que nos dá o sustento e Deus que no infinito aguardará um dia por nós.
Deixo-vos esta oração do Cântico dos Cânticos de S. Francisco de Assis que é das poesias mais belas que eu tenho lido e quero ser cada vez melhor pessoa, de coração lavado e com esperança.
Louvado seja Deus na natureza,
Mãe gloriosa e bela da Beleza,
E com todas as suas criaturas;
Pelo irmão Sol, o mais bondoso
E glorioso irmão pelas alturas,
O verdadeiro, o belo, que ilumina
Criando a pura glória - a luz do dia!
Louvado seja pelas irmãs Estrelas,
Pela irmã Lua que derrama o luar,
Belas, claras irmãs silenciosas
E luminosas, suspensas no ar.
Louvado seja pela irmã Nuvem que há-de
Dar-nos a fina chuva que consola;
Pelo Céu azul e pela Tempestade;
Pelo irmão Vento, que rebrama e rola.
Louvado seja pela preciosa,
Bondosa água, irmã útil e bela,
Que brota humilde. É casta e se oferece
A todo o que apetece o gosto dela.
Louvado seja pela maravilha
Que rebrilha no Lume, o irmão ardente,
Tão forte, que amanhece a noite escura,
E tão amável, que alumia a gente.
Louvado seja pelos seus amores,
Pela irmã madre Terra e seus primores,
Que nos ampara e oferta seus produtos,
Árvores, frutos, ervas, pão e flores.
Louvado seja pelos que passaram
Os tormentos do mundo dolorosos,
E, contentes, sorrindo, perdoaram;
Pela alegria dos que trabalham,
Pela morte serena dos bondosos.
Louvado seja Deus na mãe querida,
A natureza que fez bela e forte:
Louvado seja pela irmã Vida
Louvado seja pela irmã Morte.
Amém
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