Tenho sempre um sentimento contraditório quando vejo na televisão os programas de solidariedade social em que as crianças dão o rosto. Hoje vi que estavam a oferecer um cabaz de Natal e brinquedos a três crianças que foram entrevistadas anteriormente e que disseram que passavam fome. A pobreza a este nível doí e doí muito. Não sei se é necessário estar a mostrar as crianças, alertar as pessoas para o que se passa no país, sim, ouvi-las sem mostrar o rosto também, mas mostrá-las, para quê? O que sentirá uma criança de 10, 11 anos ao saber que está a ser vista por milhões de pessoas e todos ficam a saber que ela é pobre, tem fome, quando isso nunca devia acontecer. As crianças não têm culpa, elas podem ser rotuladas ou marginalizadas pelos colegas, sei lá ou então ser chamada a «coitadinha». Ajudar, ser solidário, tirar ao que se tem e dar, SEMPRE, fazer das crianças esfomeadas estrelas de televisão e de programas para angariar audiências, NUNCA, há lugares próprios para levar o nosso contributo, há associações, igrejas, Banco Alimentar, Ongs aos quais podemos levar o que queremos dar. Eis um tema para reflexão.
Há televisões que abrem contas para entregar as verbas recolhidas a associações, claro que concordo, mas mostrar a pobreza das crianças, sendo elas a dar a cara, quando têm direitos adquiridos desde que nasceram, não. Sempre achei que dar é um acto discreto e silencioso, anónimo.
Deixo-vos esta canção antiga.
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