terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Do Alentejo para Mafra





































Assim que cheguei fui com o meu grupo de passeios culturais a Mafra. Esse domingo era destinado à comunidade de leitores, com a leitura do livro de José Saramago « Memorial do Convento».
Chegámos à igreja e a chuva estava fria e caía bem. Que lindo é este convento feito por milhares de operários tratados como escravos que aqui morreram anónimos e só D. João V é que é lembrado.
A igreja é toda de mármore e nela trabalharam muitos artistas, o arquitecto Ludovice e os retábulos trabalhados por Justi. Muito bela esta igreja.
Quem está como director neste momento é o Dr. Mário Pereira nosso colega da Faculdade que gentilmente nos cedeu o espaço para debatermos o Memorial do Convento, espaço esse onde todos os dias se faz uma sessão de teatro sobre o Memorial do Convento, menos ao domingo. O cenário era lindo. As queridas Maria José e Maria Manuela fizeram uma apresentação fantástica do livro, pena foi que não tenhamos tido tempo para o debate, pois o passeio era só de um dia. Muito havia a dizer sobre o trio Baltazar Mateus o sete sóis, Blimunda a sete luas e o padre Bartolomeu de Gusmão com a sua passarola. Muito havia a dizer sobre estas personagens, particularmente a feminina que tirava as vontades aos moribundos. Adorei esta personagem e fiquei a olhar o Saramago de outra forma, li o livro com mais maturidade e quem assim escreve tem muito afecto dentro de si, compaixão pelos desfavorecidos. Era um idealista, um ateu místico
como disse a Maria Manuela..
Depois de almoçarmos fomos dar uma linda volta pela mata real que eu não conhecia, são milhares de hectares com imensas espécies de animais, plantas, pássaros, anfíbios, dois museus: um de carruagens, outro de animais embalsamados e ainda a casinha das aves de rapina que fizeram demonstrações para nós. Eu estive com uma águia no braço. Linda. Dentro de um pequeno comboio percorremos toda a mata, foi fantástico. Não conhecia este pulmão tão perto de Lisboa. Todos estavam contentes. O novo corte da Mina estava um espanto. O Carlinhos mandou-me umas fotos que eu aproveitei. Obrigada querido afilhado novo, ainda havemos de falar mais sobre o Saramago e em pequeno grupo iremos ler o Saramago em voz alta. Vamos fazer essa experiência.
A seguir passámos pela aldeia do José Franco e fiquei triste com a decadência do sonho de um homem que já nos deixou. A excelente recolha etnográfica que ele tinha feito está sem manutenção particularmente os materiais de ferro todos ferrugentos, as casinhas estavam cinzentas, escuras. É pena que neste momento o maior interesse seja o bar, a padaria e a venda de peças de artesanato que não são do José Franco, mas sim de todo o lado. A autarquia devia apoiar aquele trabalho. Musealizar o espaço como deve ser, apresentando as colecções como deve ser, limpas com textos e legendas, não apresentando tudo de uma vez, rodando as peças para não se estragarem, arranjando assim uma reserva e então tudo faria sentido, assim parece uma mini feira popular, onde o objecto principal é o pão com chouriço.

Sem comentários: