quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

LISBOA/contradições e pensamentos à solta num dia de inverno.


Agora tenho ido quase todos os dias a Lisboa por questões relacionadas com médicos, faculdade e netas e neto. Hoje vou jantar com eles e vai ser muito agradável.
Não sei porquê mas sinto que esta cidade é o meu berço, apesar do rebuliço e da confusão de uma grande cidade, enquanto há pessoas que anseiam ir para o campo eu desejo ardentemente viver na cidade, mais propriamente na capital. Todas as incursões que fiz a partir de determinada altura da minha vida noutros locais fora de Lisboa, não me satisfizeram. Portugal está organizado infelizmente para quem tem carta de condução, por isso quem não a tem como é o meu caso leva horas a deslocar-se a outros locais pois os transportes fora de Lisboa são escassos e quando há greves como é o caso desta semana, se não houver um automóvel em casa nós ficamos presas.
Ficar presa é o pior que me pode acontecer. Aqui onde moro é paradisíaco é certo mas os passeios são mínimos e estão atafulhados de carros. As ruas estão feitas para os automobilistas, os lugares e não lugares como são os centros comerciais são para carros, carros. Eu só vou a um centro comercial se por acaso necessito de alguma coisa urgente que não tenho ao pé de mim ou então para fazer as compras do mês. Não há apoio nenhum à volta da minha casa.
Eu nasci em Lisboa e sempre vivi perto dos apoios do quotidiano:talho, peixaria, mercearia, leitaria, retrosaria, papelaria, drogaria, sapateiro, etc, agora é tudo concentrado numa hiper casa que anda em concorrência desenfreada com outra hiper casa e são assim os tempos de hoje. Se eu quero ir a um cinema tenho de tomar um comboio, e eu que adoro cinema, se quero ir a uma livraria decente, tenho de tomar um comboio e eu que adoro livros, se quero ir aos meus médicos tenho que ir de carro ou comboio e eu necessito tratar-me. Se quero produtos alternativos não há, só produtos gourmet e caríssimos.
Em Lisboa para o sítio onde vou morar os passeios são largos, estão atafulhados de carro, não, estão na rua e pagam parquímetro, assim é que é. Querem trazer carro e normalmente só com uma pessoa pagam parquímetro, acho muito bem. Tem este lindo bairro os apoios naturais de um bairro para a vida quotidiana. Se quero ir a um cinema, posso ir a pé, se necessito de ir a um médico posso ir a pé. tenho livrarias perto de excelente qualidade, lojas, bancos, esplanadas, sapatarias, oculista, mercearias, enfim tudo ao redor. Lisboa no seu melhor. Depois o metro à porta e muitos autocarros e transportes variados. Até o comboio tenho ao pé de mim. Posso lanchar com as minhas amigas, posso assistir a toda a qualidade de actividades que as juntas de freguesia, livrarias, câmaras, museus e outros oferecem todos os dias. Estou livre.
Descobri em mim grandes contradições: adoro o campo mas não consigo viver nele sem transportes constantes, adoro animais de toda a espécie e feitio mas não tenho paciência para tratar deles, adoro jardins, as flores, a pequena horta, mas não tenho aptidão para tratar deles. Adoro praia e tenho-a ao pé mas nunca usufrui muito dela porque não gosto de areia. Confesso que é contraditório, mas eu sou urbana, urbana, urbana. Lisboa é a cidade onde nasci e onde me sinto bem. Sinto-me profundamente realizada com as viagens que faço dentro de Portugal e no estrangeiro, adoro estar com pessoas da aldeia, mas gosto de voltar à luz lisboeta, onde tenho as comodidades, onde me reconheço porque se eu tivesse nascido numa aldeia se calhar adoraria lá viver pois teria à vontade para pedir ajuda, apoio a familiares e amigos de sempre, nas cidades a ajuda é limitada, apesar de eu ter amigos e amigas fantásticas, mas claro não me podem constantemente dar boleias e eu não posso tornar-me aquela pessoa que não se convida porque se calhar está à espera de boleia e por isso perco muitos espectáculos à noite, cinemas, etc. Por isso quero nesta 3ª. fase da minha vida não ser uma sobrecarga para ninguém filhos, filhas, amigos e amigas, em termos de transporte, eu quero abrir a porta da minha casa e ir para onde eu quiser. Para fora de Lisboa tenho o apoio da minha filha mais velha e aí sim o comboio.
Quanto às minhas contradições que são reais recordo outra vez aquele rap que fiz quando completei 60 esplendorosas primaveras.

Eu sou sexagenária e ninguém me faz parar/se eu não andar bem, uma bengala vou pegar/mas ficar em casa não é para mim não/se tenho um sonho e depois uma desilusão/pego logo em mim e faço a reconversão/de tristezas e danos está o mundo repleto/mas protestar sempre é o meu hobbie predilecto/eu sou muito eclética, eléctrica, energética e nunca desisto/gosto do Che, de Marx e de Jesus Cristo/gosto dos bros e dos mano a valer/mas gosto muito dos meus filho que são razão do meu viver/gosto do mar e de uma boa estratégia/só não passeio no pinhal, porque tenho rinite alérgica/vou ao ginásio fazer pilates e Yoga/sou sexagenária mas ando em tudo que está em voga/gosto de chá, de filmes, de livros e do mais que há/tenho sonhos capitalistas de viver como um marajá/mas nesse sonho vem sempre ao de cima o mano Che/que sem nenhum pudor dá na cabeça do dominador/esta dualidade é a que eu sou/percebes bro/é uma grande confusão/gosto de boa vida e de uma boa revolução/ao menos sou sincera, digo tudo de mim/uma sexagenária tem o direito de ser assim/o velhote que etá aqui ao meu lado/está também a ficar muito reanimado e ginasticado/não quer outra coisa senão a passadeira/oh meu deus que caturreira/vivam os sexagenários/viva a minha geração/ se não tivessemos sido hippies não havia revolução com til/o vinte e cinco de Abril/adeus camarada, adeus meus irmão/gosto de me sentir com hoje estou/cácáô

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