quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Esta é a história construída pela Ana, Marta , Maria Alcina, Maria Emília e Manuela entre e-mails, uma começava e a outra terminava.

Fizemos um pequeno curso e o resultado foi este trabalho colectivo.

As aventuras de Alcatruz e Catrapuz

Era uma vez dois príncipes irmãos, chamados Alcatruz e Catrapus. Os príncipes eram muito belos de dia, mas à noite tinham uma maldição: transformavam-se em caracóis e vagueavam pelas folhas de uma nespereira que havia num pátio esconso do principesco castelo. A maldição tinha-lhes sido imposta pelo pai, o rei, que era bruxo, e que pensava com isso conseguir que os príncipes nunca casassem.

Os belos príncipes de dia lamentavam o seu destino:

- Ai, deuses! O que faremos da nossa vida? Eternamente condenados a vaguear por uma nespereira, num pátio vigiado pelo nosso velho criado… o que faremos quando ele morrer? Quem nos protegerá de sermos pisados miseravelmente e assim acabarmos a nossa existência? Oh, deuses, ajudai-nos! –

Os deuses ficavam normalmente surdos às preces de Alcatruz e Catrapus, mas um dia passou uma bela fada que ouviu chorar. Sendo um ser bondoso e compassivo, procurou curiosa a origem desse choro e encontrou os belos Alcatruz e Catrapus sentados numa coluna tombada do pátio recuado, à espera de serem transformados em vis lesmas.

A bela fada condoeu-se com tamanha tristeza daqueles pobres rapazes que resolveu ajudá-los, mas a tarefa era assaz difícil. Pensou, pensou e tornou a pensar e de repente disse:

- Tereis que ir à montanha dos sete elementos e aí, à noite, encontrareis uma velha mulher cujas orelhas lhe crescem de tal maneira que levantam voo. Se conseguirem pendurar-se nessas orelhas gigantes sem que ela dê por isso, podereis conhecer o caminho da gruta das mariposas e aí vereis como ela retira das plantas carnívoras, que lá existem, uma poção mágica que desfaz qualquer bruxaria, mas cuidado com essas plantas, pois podem engolir-vos de uma só vez se não disserem a palavra secreta, que só essa velha mulher sabe e que vós tendes de estar muito atentos para ouvi-la, para quando voltarem sozinhos a esse lugar, nada vos poderá correr mal.

Depois deste extraordinário acontecimento ficaram perplexos e foram assaltados por dúvidas tremendas. Lembraram-se então de contar tudo às suas primas Bimbinela e Pimpinela que viviam com eles na corte. Elas poderiam dar uma opinião e assim lá foram a correr para o palácio porque já entardecia e dentro de pouco tempo transformar-se-iam em caracóis.

Encontraram as primas na sala do 1º andar do palácio e, como o dia estava a chegar ao fim, apressaram-se para falar com elas, pedindo-lhe ajuda para tão delicado problema.

Começa tu, Alcatruz – diz o Catrapus com voz nervosa. Conta tu, Catrapus que eu tenho a memória mais fraca daquela queda que dei do cavalo quando era pequeno, alega o Alcatruz.

A noite aproximava-se mas era necessário por as primas a par da solução sugerida pela fada e colher as sugestões que lhes quisessem dar. Catrapus mostrou-se feliz por poderem encontrar a solução para deixarem de ser lesmas durante a noite, mas arriscado pela falta de prática de voarem em orelhas, sobretudo sem a velha dar por isso.

Mas o problema maior era a falta de ouvido que ambos tinham quando se transformavam em caracois, pois o facto de passarem grande parte da noite dentro da concha, não lhes deixou desenvolver a acuidade auditiva necessária para perceber a palavra secreta que a velha iria pronunciar junto da planta carnívora.

As primas ouviram atentamente a descrição do caminho e dos riscos que esperavam os príncipes para deixarem de se transformar em caracóis durante a noite, e comunicaram-lhes as suas opiniões: - que ficassem tranquilos, que elas lhes iam resolver o problema e muito brevemente.

Bimbinela e Pimpinela retiraram-se para os seus aposentos, mas já no trajecto, cada uma por si, ia analisando a situação. O palácio era imenso, salas e salas, corredores e corredores, pátios e jardins, pelo que quando chegaram aos seus aposentos o plano estava idealizado. Agora, era só confrontar as ideias individuais, mas estavam convencidas, porque faziam sempre idêntica interpretação das situações, que tinham analisado bem a situação trágica dos primos, a urgência de lhes por fim e pensado até a quem iriam pedir ajuda.

Divertidas, verificaram que mais uma vez tinham pensado igual e com pequenas gargalhadas e bater leve dos pezinhos no chão, não fossem ser repreendidas por qualquer aia que as ouvisse, pelo comportamento pouco próprio de princesas, manifestavam assim o seu regozijo.

E, imediatamente, mandaram bilhetinhos, por dois pombos reais, às duas madrinhas as fadas Miriam e Ísis.

Como devem saber, os pombos reais são pombos-correios, muito treinados em alcançar metas e obter classificações pelo melhor desempenho não só na velocidade como nos caminhos escolhidos para chegarem aos seus destinos.

O Pintado e o Jeitoso, os nossos pombos estavam em 1º lugar para cumprirem esta missão.

Partiram ao cair do dia, com os papelinhos atados aos respectivos pés, com o mesmo pedido, não fosse algum deles perder- se pelo caminho ou ter um acidente. Era uma longa distância a percorrer até chegarem ao destino no cimo do monte, cerca do grande lago, quase no país dos deuses, já muito perto do sol e onde as fadas habitavam

Orientados pela luz da lua que se refletia sobre os telhados das casas das vilas e das aldeias e nos rios que serpenteavam entre os campos, sobrevoaram durante alguns dias a distância que os separava do sopé da Montanha da Água Azul pois o seu reflexo sobre as águas via-se a grande distância como num espelho. Entretanto iam descansando durante o dia nas quintas e nos campos, alimentando-se de sementes e de pequenos grãos e bebendo na frescura dos regatos.

Quando ali chegaram resolveram separar-se e cada um partiu vertiginosamente e percorreu vertentes distanciadas uma da outra que levavam aos palácios das duas fadas madrinhas Miriam e Ísis.

O Pintado, com a sua mancha de penugem escura ao longo do peito, o que lhe dava uma certa presença e imponência, poisou numa das torres do palácio de Cristal perto duma sacada virada sobre os quintais. Vendo uma janela entreaberta, aí se refugiou a descansar e a piar e a procurar alguém com os olhos muito atentos

Foi acertar por pouca sorte na janela da cozinha do palácio e a cozinheira vendo tão belo petisco correu logo de faca em riste disposta a cortar-lhe o pescoço. Fugiu precipitadamente e em baixo refugiou-se no jardim das rosas mirando o Palácio em frente dos seus olhos, a sua formosura e o resplandecente aspecto dos portais, janelas e torres incandescentes com miríades de cores irisadas que irradiavam uma luz deslumbrante e entontecedora

Encolheu-se e descansou o olhar na beleza do roseiral colorido, mas repousante de formas e de cores matizadas de verdes e púrpuras e também de brancos e amarelos.

Nesta hora de sol matinal a fada Miriam passeava entre as flores e admirada avistou-o. Chamou-o, ele voou para o seu ombro ela retirou o papel da sua patinha e leu: - Somos as primas Bimbinela e Pimpinela e o Catrapuz e o Alcatruz correm grandes perigos. Venha com a fada Ísis, depressa, ao nosso encontro.

Miriam levou num braço o Pintado e recolheu-o até à noite. Entretanto comunicou com Ísis.

O Jeitoso alcançou o Palácio de mármore rosa com as suas torres e paredes cobertas de flores e folhas incrustadas, feitas em pedras semipreciosas, de mármores coloridos em volutas que o tornavam majestoso em grandeza e leve no esplendor da arte aplicada nas suas paredes e formas.

Como era muito amigo de ajudar, o Jeitoso refugiou-se no jardim das macieiras onde os pássaros, seus amigos de tradição, cantavam, chilreavam e piavam. Tentilhões, melros, rolas, toutinegras e os outros lá no alto, lá em cima no céu azul voavam as águias e os abutres que lhe chamavam um figo e o papavam num instante e no chão, nos campos abertos, os gatos e as raposas e outros que tais, saltavam-lhe em cima e era uma vez um Jeitoso .

Instalou-se entre os ramos duma macieira onde aspirava repousadamente o seu perfume e regalava-se com a visão das suas flores rosadas e branca

A fada Ísis também desfrutava do pomar apanhando frutos para dentro dum cesto colocado no chão. Não tardou a enxerga-lo, aproximou-se para o afagar e logo viu o bilhetinho na patinha. Leu-o: - "Venha com a fada Miriam ao nosso encontro - Bimbinela e Pimpinela , a vida dos primos Catrapuz e Alcatruz depende das madrinhas". Logo o recolheu até ao anoitecer e avisou a Miriam. Ficou o Jeitoso recolhido até ao pôr do sol e logo que a lua apareceu, lançou-se no ar com voos e pios e logo ouviu os pios do seu grande amigo o Pintado. Entretanto, durante o dia as fadas tinham colocado os bilhetes de resposta nas respectivas patinhas que diziam "sim, lá estaremos, antes do anoitecer daqui a cinco dias à entrada da gruta das Mariposas, aguardando a chegada do Catrapuz e do Alcatruz.

Antes de anoitecer, as fadas viram aproximar-se escondidos nas asas/orelhas da bruxa os medrosos Alcatruz e Catrapuz, à entrada da gruta as asas da bruxa encolheram, transformando-se nas naturais orelhas e eles caíram desamparados aos pés das fadas.

-Ai, ai, dói-me as costas, dizia o Alcatruz, ai, ai dói-me o joelho, dizia o Catrapuz.

- Levantem-se imediatamente suas avantesmas, sejam príncipes de verdade, disse a fada Ísis que era madrinha de um dos rapazes, não perceberam que tinham de saltar antes que as orelhas da bruxa encolhessem?

- Não, não, a querida madrinha sabe que nós não ouvimos bem, disse Alcatruz com voz baixinha.

- Calem-se e vamos ao assunto, interrompeu a fada Miriam, entrem, entrem depressa que eu vou tornar-vos invisíveis.

- Muito a medo os príncipes entraram e as fadas enfiaram-lhes nas orelhas um liquido pastoso, vermelho e com a varinha mágica disseram ao mesmo tempo – Plimplão avestruz, catrapim, almoster, perlimpimpim venha quem vier, que não ides ficar visíveis mas sim transparentes, tráscatrapás, já está.

- Ah já oiço bem, e tu Catrapuz? Oiço maravilhosamente disse o outro príncipe encantado.

- Atenção, disseram as fadas, neste momento estais transparentes, mas não conseguimos tirar os quatro pontos vermelhos correspondentes ao líquido dos vossos ouvidos, por isso esses quatro pontinhos vermelhos, mais um pontinho laranja do cristal que nós espetámos na cabeça do Alcatruz para ele recuperar a memória vão estar visíveis. Ela, a bruxa, não vos vai ver mas vai reparar nos quatro pontos vermelhos e no ponto laranja, tende cuidado. Entrai, entrai e ouvi a palavra secreta.

Os príncipes entraram mais confiantes e aproximaram-se da bruxa que estava a regar as plantas carnívoras, esconderam-se atrás e tentaram perceber o que ela dizia, mas de repente a mulher voltou-se e inebriada pelas luzes vermelhas e laranja gritou – o que é isto?

Os príncipes aterrorizados não se mexiam do lugar, só tremiam e as luzes também.

- Vou dar-vos com este varapau pássaros intrometidos, disse a bruxa, pois pensava que algumas aves tinham entrado na gruta - e é para já. Os príncipes então correram para debaixo de uma vegetação muito densa, enquanto a velha esbaforida dava safanões com o pau para todo o lado, mas ela não conseguiu acertar nos pobres príncipes amedrontados que como já era noite estavam transformados em caracóis.

- Já dei cabo deles - disse a bruxa satisfeita, já posso ir fazer o meu trabalho sossegada. Aproximou-se então das plantas carnívoras e disse a palavra mágica «limpoescalifroso». Logo que esta palavra se ouviu as plantas carnívoras ficaram mansas e deixaram a velha retirar do seu interior a poção mágica que logo colocou num pote de barro, mas infelicidade das infelicidades, o pote foi colocado em cima da folhagem onde estavam escondidos os príncipes em forma de lesmas e fez algumas feridas nas cascas e corninhos dos caracóis pois eles para ouvirem bem a frase tinham os ditos bem atentos e não escondidos.

A bruxa mal terminou o seu trabalho saiu, as orelhas cresceram e lá foi ela a voar. As fadas Isis e Miriam aproximaram-se, pois também elas estavam escondidas a assistir á cena e disseram a frase mágica bem alto «limpoescalifrosoooooooooooooo» que se ouviu no reino. Retiraram a poção mágica das plantas e esfregaram as lesmas com ela.

Os príncipes gemiam debaixo da folhagem e as fadas madrinhas trataram de os retirar, mas ficaram espantadas com o estado deles. Alcatruz tinha as duas orelhas por um fio e Catrapuz o nariz esborrachado.

- Como é que vamos casar, assim com este aspecto? Disse Catrapuz

- Como é que nos vamos tratar, as minhas orelhas vão cair, disse choramingando Alcatruz.

- Sim, isto é um problema, não sabemos tratar deste assunto, somos ainda fadas do 2º grau. Mas vamos para a corte, logo pensaremos o que vamos fazer, disseram as fadas muito contristadas.

Chamaram então as águias reais e nas suas asas voaram para o castelo.

Voaram sobre montes, vales, rios e ribeiros, ribeirões e riachos, até chegarem ao belo castelo cujos bicudos telhados de ardósia rebrilhavam à luz da lua. A noite estava muito bela, não se via uma única nuvem no céu. Ao aterrarem no pátio do castelo as fadas despediram-se de Alcatruz e Catrapus, a quem entretanto tinham colocado uns emplastros mágicos.

- Meus queridos príncipes, vamos estudar a melhor forma de vos curarmos. Até lá, mantei-vos afastados do vosso pai, que ainda não sabe que vos livrastes da maldição e seria capaz de tentar alguma manobra menos conducente ao vosso bem-estar e satisfação.

- Mas deixais-nos assim, de nariz esmagado e de orelhas mal sustidas por estes dois emplastros?!

- Sim, porque são emplastros mágicos e aguentarão os vossos apêndices no sítio até encontrarmos os filtros de cura específicos para os vossos casos.

- E como explicaremos estas nossas maleitas? – perguntou Alcatruz, sempre o mais atento no que diz respeito aos aspetos de condução da história.

- Dizei que vos magoastes na aula de esgrima. –

- E o meu nariz? – perguntou Catrapus.

- No boxe. –

- Ah, tendes resposta para tudo, felizmente – Catrapus respirou aliviado, e os dois príncipes despediram-se das belas fadas, que subiram para as suas montadas aladas e se ergueram nos ares, cheias de elegância e donaire, como só as fadas e algumas princesas sabem ter.

Aos poucos, começaram a ter a mesma ideia:

-Alcatruz!

- Catrapus!

- Esta é a primeira noite que passamos enquanto homens!

- Estava a pensar no mesmo!

- Que felicidade!

- Que alegria!

Os dois quase se puseram a dançar, mas lembrando-se das recomendações das fadas, seguiram pé ante pé para os seus quartos e trancaram-se por dentro muito bem aferrolhados até ao raiar do dia.

Contudo, o que eles não podiam saber é que o Rei, por virtude da sua bola mágica de cristal, tinha acompanhado toda a ação em direto e, com uma profunda gargalhada, afastou-se da janela por onde tinha espreitado e visto os príncipes chegar…

FIM

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