« As recentes premiações concedidas ao francês “O Artista” (Globo de Ouro e o prêmio do Sindicato dos Produtores de Hollywood, entre outros) e seu pleno favoritismo no Oscar, são sintomáticas de um bem vindo desejo de mudança no panorama artístico cinematográfico. O diretor Michel Hazanavicius realiza uma homenagem aos anos iniciais da Sétima Arte, com uma ousada obra muda e em preto e branco! Radicalmente diferente dos poucos pastiches satíricos feitos no passado, este belo projeto leva bastante a sério sua fonte de inspiração, contando inclusive com uma das mais belas trilhas sonoras dos últimos tempos (composta por Ludovic Bource).
A razão do fascínio não está no roteiro, que apesar de esperto e com um bom humor elegante, não se destaca entre vários outros projetos de qualidade. Os ousados artifícios já citados são o grande mérito da produção, que conta também com um elenco entrosado. Assim como no clássico “Cantando na Chuva”, o público interessado pode aprender bastante sobre este período de ouro do cinema, enquanto se divertem com a química em cena entre Jean Dujardin (George Valentin), Bérénice Bejo (Peppy Miller) e um adorável cão, sempre disposto a amparar seu dono, dentro e fora das telas. Impossível não se encantar com estes aspectos simples, que propositalmente nos levam de volta a um passado de sábio silêncio e sonhos, onde a magia ainda não havia sido abafada pela balbúrdia sonora perpetrada hoje em dia neste business.»
Crítica de Octávio Caruso
Os cinéfilos dedicados irão apreciar as várias referências. Percebam a similaridade entre a jornada do protagonista e a do astro da era muda John Gilbert, assim como o uso da trilha de “Um Corpo que Cai” de Bernard Herrmann em uma cena, ou a semelhança entre o mordomo vivido por Malcom McDowell e W.C. Fields. Chega a ser divertido captar todas as homenagens realizadas pelo diretor. Ele nos propõe com sua delicadeza, uma total “reconfiguração” sensitiva.
“O Artista” não é o melhor filme do ano, mas sim uma honesta e tocante declaração de amor ao cinema e aos cinéfilos, que emocionados ao final da sessão, irão constatar os motivos que os fazem se importar tanto com esta eterna indústria de sonhos.
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