sábado, 3 de março de 2012

Fui ver um filme espectacular, que penso ter ganho o oscar do melhor filme estrangeiro: A Separação. Aqui deixo uma critica brasileira muito interessante também. Não percam o filme.
A SEPARAÇÃO (A SEPARATION) (JODAEIYE NADER AZ SIMIN)
Equipe Cinema Detalhado - Critica de Tiago Brito

A Separação é um filme Iraniano que está surpreendendo o mundo todo e arrebatando prêmios em diversos países. Asghar Farhadi é o diretor responsável pela produção e esse ano conquistou o Urso de Ouro por esse belíssimo trabalho. Na semana passada foi confirmada a candidatura do longa ao Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro e sua presença na cerimônia do Oscar é praticamente certa. Todo esse alvoroço ao redor da película é bastante justa e poucas vezes vi um filme com a qualidade que este me apresentou.

A história começa com uma mulher, que deseja se divorciar, para viver fora do Irã. O problema na situação toda é que ela deseja levar a sua filha de 11 anos consigo, mas esta não pode deixar o país sem permissão e consentimento do pai, que fez questão de ser contra a situação. A decisão de Nader, pai da criança, faz com que Simin, mão da menina, deixe a casa e se estabeleça uma separação informal. A filha do casal fica com o pai, mas este se encontra em uma situação muito complicada com todos os acontecimentos recentes. Além de cuidar dela, ele tem consigo a missão de cuidar de seu pai, que sofre do mal de Alzheimer. Ciente da dificuldade que irá enfrentar, Nader decide que é melhor contratar alguém para ajudá-lo em casa. Assim sendo é contratada uma jovem, grávida, que trabalha escondido do marido para ajudar nos custos da casa. As coisas ficam realmente complicadas quando ela sofre um aborto espontâneo no trabalho e sua família decide acusar Nader pelo ocorrido.

O roteiro do filme é simplesmente sensacional. Não existem culpados e nem mesmo inocentes. Todos sofrem e ninguém sabe ao certo a sua porcentagem de culpa na crise em que as famílias vivem. Todos os personagens vivem um conflito moral com a situação, seja por ter saído de casa, por ter empurrado a funcionária, por ter sido descuidada ao sair de casa ou por mentir para as autoridades. Todo esse pensamento se revela capaz de ser analisado através de princípios éticos e religiosos. Mais complexo do que isso, a trama mostra indiretamente quem mais sofre em casos de separação, os filhos do casal. A jovem Termeh vê sua família cada vez mais no fundo do poço e não consegue fazer nada para concertar a situação. Seu sofrimento nem sempre é externalizado mas está presente em seus pensamentos, falas e questionamentos.

A opção do diretor por uma câmera mais inquieta e presente faz com que tudo seja desmontrado de forma tão realista que chega a dar a impressão de que estamos diante de um documentário. As imagens percorrem nas mínimas expressões dos personagens e enriquecem ainda mais o trabalho do grande elenco que compõe a obra. O desenvolvimento circunda um meio sentimentalista e ao mesmo tempo severo e cru. É possível se sentir raiva, pena, ódio e compaixão por qualquer personagem do filme. Temos pena da mulher que perde o filho, mas temos raiva dela por ter deixado um velho doente amarrado em uma cama. Temos pena de um pai que não agiu com más intenções e que assim sendo pode ter matado um feto, mas temos raiva dele por mentir no depoimento e fazer questão de acusar a mulher sem provas do que realmente aconteceu.

Volto a clamar por mais espaço para essas produções em solo brasileiro. Estou falando de um dos filmes mais marcantes que já vi e desejo que todos tenham a oportunidade de admirá-lo da forma que este merece. Ganhar o Globo de Ouro ou o Oscar é pouco coisa, apesar do grande favoritismo, diante daquilo que esse filme merece. Ele merece ser visto por aqueles que, antes mesmo de sentar numa sala ou numa poltrona, já o crucifica por ser de uma país como o Irã. Acreditem que um trabalho sensível, incrível e moderno como esse deve ser apreciado por todos.

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