quinta-feira, 1 de março de 2012

Vi o filme cavalo de guerra que adorei mas que me fartei de chorar, desde criança que choro com filmes sobre crianças ou animais.
Ontem vi o Albert Nobbs, não é um filme para o grande público mas para mim é uma história que obriga a reflectir sobre a condição humana, é um filme que ultrapassa as personagens e nos obriga a pensar o que é verdadeiramente a vida de cada um. Gleen Close está estupenda. Não é sensacional, mas faz pensar e dá pano para mangas em discussões de grupo.
Deixo aqui uma crítica que me parece interessante do Marcelo Forlani

Direção:
Rodrigo García

Roteiro:
Glenn Close, John Banville, George Moore

Elenco:
Glenn Close, Mia Wasikowska, Aaron Johnson, Jonathan Rhys Meyers

Albert Nobbs (Glenn Close) era o garçom perfeito: pontual e preciso nas suas entregas, silencioso e praticamente invisível aos olhos dos patrões. Seu tamanho diminuto ajudava na discrição, o resto vinha de sua postura. Em uma cena do filme, a jovem Helen Dawes (Mia Wasikowska) diz apenas "Sr. Nobbs, você é muito estranho". Ele realmente é e tem um motivo para isso. Albert Nobbs é na verdade uma mulher que se veste e vive como um homem há mais de 30 anos. O único momento em que se solta e é ela mesma é quando se tranca no quarto, olha para a foto de sua falecida mãe, e começa a contar as moedas que poupa com seu trabalho. Centavo por centavo, ela vai juntando dinheiro para um dia abrir sua tabacaria.

Seu segredo é maculado quando a dona do hotel onde trabalha contrata um pintor para dar um jeito em algumas paredes e o coloca para dormir no mesmo quarto (e cama) de Nobbs. O estranho se chama Hubert Page (Janet McTeer) e ao descobrir que Nobbs é uma mulher promete não contar para ninguém. Neste ponto de mudança para o rumo da história, descobrimos que Page também é uma mulher que se traveste para conseguir trabalhar e sobreviver na difícil Irlanda do século 19, é casada com uma costureira e muito feliz. Os sonhos de Nobbs passam a parecer mais próximos de se concretizar do que ela própria imaginava antes.

O diretor colombiano Rodrigo García (Nove vidas, Destinos Ligados), que despontou com o belo Coisas que Dizemos Só de Olhar para Ela, não carrega para o cinema vícios que poderia ter adquirido fazendo séries de TV - talvez por ter trabalhado basicamente na HBO, onde comandou episódios de Família Soprano, Carnivale, A Sete Palmos e Em Terapia. Albert Nobbs (2011), inspirado no conto "The Singular Life of Albert Nobbs", de George Moore, e com roteiro da própria Glenn Close em parceria com John Banville, tem o ritmo de um filme europeu de época, com poucos (mas importantes para a trama) acontecimentos e muitos silêncios.

Passadas estas características - que podem ser um bloqueio para muita gente - é preciso dizer que as atuações de Glenn Close e Janet McTeer são excelentes. É quando estão conversando que finalmente vamos conhecendo melhor Albert Nobbs e sabendo como ele/ela chegou até ali. São nestes momentos raros de guarda baixa que Nobbs se engasga com uma piada e quase demonstra um pouco de sentimento. Na melhor cena das duas juntas, quando caminham na praia, é possível ver na dureza de seus passos, o sofrimento de todos os anos que passaram se escondendo atrás das calças.

As atuações das duas eclipsam o restante do elenco. O romance vivido por Mia Wasikowska (Alice no País das Maravilhas) e Aaron Johnson (Kick Ass) só serve para tentar dar algum sentido ao desfecho da história. E Jonathan Rhys-Meyers aparece de forma descartável como um bon-vivant, em papel que nada acrescenta à trama.

A mudança de sexo é uma dessas transformações a que um ator se submete e sempre foi cara à Academia de Cinema de Hollywood, que já premiou Dustin Hoffman em Tootsie e Hilary Swank em Meninos Não Choram. Pena que Close e McTeer não tenham um filme à altura dos papéis que criaram.

Sem comentários: