AS AVENTURAS DE CATRAPUZ E ALCATRUZ
I – EPISÓDIO
Era uma vez dois príncipes irmãos, chamados Alcatruz e Catrapuz.
Os príncipes eram muito belos de dia, mas à noite, sofriam uma maldição e transformavam-se em caracóis que vagueavam pelas folhas de uma nespereira que havia num pátio esconso do principesco castelo.
A maldição tinha-lhes sido imposta pelo pai, o Rei Furibundo IV, que era bruxo, e que pensava com isso conseguir que os príncipes nunca casassem.
Os belos príncipes de dia lamentavam o seu destino:
- Ai, deuses! O que faremos da nossa vida? Eternamente condenados a vaguear por uma nespereira, num pátio vigiado pelo nosso velho criado… o que faremos quando ele morrer? Quem nos protegerá de sermos pisados miseravelmente e assim acabarmos a nossa existência? Oh, deuses, ajudai-nos!
Os deuses ficavam normalmente surdos às preces de Alcatruz e Catrapuz. Mas, um dia passou uma bela fada que os ouviu chorar. Sendo um ser bondoso e compassivo, procurou, curiosa a origem desse choro e encontrou os belos Alcatruz e Catrapuz, sentados numa coluna tombada do pátio recuado, à espera de serem transformados em vis caracóis.
A bela fada condoeu-se com a tamanha tristeza daqueles pobres rapazes e resolveu ajudá-los, mas a tarefa era assaz difícil. Pensou, pensou e tornou a pensar e de repente disse-lhes:
- Tereis que ir à Montanha dos Sete Elementos e aí, à noite, encontrareis uma velha mulher cujas orelhas lhe crescem de tal maneira que levantam voo. Se conseguirem pendurar-se nessas orelhas gigantes, sem que ela dê por isso, podereis conhecer o caminho da Gruta das Mariposas. Aí, vereis como ela retira das plantas carnívoras, que lá existem, uma poção mágica que desfaz qualquer bruxaria. Mas, cuidado com essas plantas, pois podem engolir-vos de uma só vez se não disserem correctamente a palavra secreta, que só essa velha mulher sabe. Vós tendes de estar muito atentos para ouvi-la, pois quando voltarem sozinhos a esse lugar, nada poderá correr mal.
Depois deste extraordinário acontecimento, os príncipes ficaram perplexos e foram assaltados por dúvidas tremendas. Lembraram-se então de contar tudo às primas Bimbinela e Pimpinela, que viviam com eles na corte. Elas poderiam dar uma opinião e assim lá foram a correr para o palácio, porque já entardecia e dentro de pouco tempo transformar-se-iam em caracóis.
Encontraram-nas na sala do primeiro andar do palácio e, como o dia estava a chegar ao fim, apressaram-se a falar com elas, pedindo-lhe ajuda para tão delicado problema.
Começa tu, Alcatruz, diz o Catrapuz com voz nervosa. Conta tu, Catrapuz que eu tenho a memória mais fraca daquela queda que dei do cavalo quando era pequeno, alega o Alcatruz.
Catrapus e Alcatruz mostravam-se felizes por poderem encontrar a solução para deixar de ser caracóis durante a noite, mas achavam-na arriscada pela falta de prática de voar em orelhas, sobretudo sem a velha dar por isso.
Mas o problema maior ainda era a falta de ouvido que ambos tinham quando se transformavam em caracóis, pois o facto de passarem grande parte da noite dentro da concha, não lhes deixara desenvolver a acuidade auditiva que seria necessária para perceber a palavra secreta que a velha iria pronunciar junto das plantas carnívoras.
As primas ouviram atentamente a descrição do caminho e os riscos que esperavam os príncipes e deram a sua opinião : - que ficassem tranquilos, que elas iam ajudar a resolver o problema e muito brevemente.
Bimbinela e Pimpinela retiraram-se para os seus aposentos, mas já no trajecto, cada uma, ia analisando a situação. O palácio era imenso, salas e salas, corredores e corredores, pátios e jardins, pelo que quando chegaram aos seus aposentos o plano estava idealizado. Agora, era só confrontar as ideias individuais, mas estavam convencidas, porque faziam sempre idêntica interpretação das situações, que tinham analisado bem a situação trágica dos primos, a urgência de lhes por fim e pensado até na pessoa a quem iriam pedir ajuda.
Divertidas, verificaram que mais uma vez tinham pensado igual e com pequenas gargalhadas e bater leve dos pezinhos no chão, não fossem ser repreendidas por qualquer aia que as ouvisse, pelo comportamento pouco próprio de princesas, manifestavam assim o seu regozijo.
E, imediatamente, mandaram bilhetinhos, por dois pombos reais, às suas duas madrinhas as fadas Miriam e Ísis, que viviam na Montanha da Água Azul.
Como devem saber, os pombos reais são pombos-correios, muito treinados em alcançar metas e obter classificações pelo melhor desempenho, não só na velocidade como nos caminhos escolhidos para chegarem aos seus destinos.
O Pintado e o Jeitoso, os pombos reais, estavam em primeiro lugar para cumprir esta missão. Partiram ao cair do dia, com os papelinhos atados às respectivas patinhas com o mesmo pedido, não fosse algum deles perder- se pelo caminho ou ter um acidente.
Era uma longa distância a percorrer até chegar ao destino no cimo de um monte, cerca do grande lago, quase no país dos deuses, já muito perto do sol e onde as fadas habitavam
Orientados pela luz da lua que se refletia sobre os telhados das casas das vilas e das aldeias e nos rios que serpenteavam entre os campos, sobrevoaram durante alguns dias a distância que os separava do sopé da Montanha da Água Azul. O reflexo da lua sobre as águas permitia ver a grande distância, como num espelho. Entretanto, iam descansando durante o dia nas quintas e nos campos, alimentando-se de sementes e de pequenos grãos e bebendo na frescura dos regatos.
Quando lá chegaram resolveram separar-se, cada um partiu vertiginosamente e percorreu as vertentes distanciadas umas das outras, que levavam aos palácios das duas fadas madrinhas Miriam e Ísis.
O Pintado, com a sua mancha de penugem escura ao longo do peito, o que lhe dava uma certa imponência, poisou numa das torres do Palácio de Cristal, perto duma sacada virada sobre os quintais. Vendo uma janela entreaberta, aí se refugiou a descansar, a piar e a procurar alguém, com os olhos muito atentos
Foi acertar, por pouca sorte, na janela da cozinha do palácio e a cozinheira vendo tão belo petisco correu logo de faca em riste, disposta a cortar-lhe o pescoço. Fugiu precipitadamente e em baixo refugiou-se no jardim das rosas mirando o Palácio, em frente dos seus olhos. A sua formosura e o resplandecente aspecto dos portais, janelas e torres, incandescentes com miríades de cores irisadas que irradiavam uma luz deslumbrante, quase o entonteciam. Encolheu-se e descansou o olhar na beleza do roseiral, colorido mas repousante, de formas e cores matizadas, de verdes e púrpuras e também de brancos e amarelos.
Nesta hora de sol matinal a fada Miriam passeava entre as flores e admirada avistou-o. Chamou-o, ele voou para o seu ombro e ela viu e retirou o papel da sua patinha. E leu: - somos as primas Bimbinela e Pimpinela e o Catrapuz e o Alcatruz correm grandes perigos. Venha com a fada Ísis, depressa, ao nosso encontro.
Miriam levou num braço o Pintado e recolheu-o até à noite. Entretanto comunicou com Ísis.
O Jeitoso também tinha alcançado o outro palácio, o Palácio de Mármore com as suas torres e paredes cobertas de flores e folhas incrustadas, feitas em pedras semipreciosas e mármores coloridos, em volutas que o tornavam majestoso em grandeza e leve no esplendor da arte aplicada nas suas paredes e formas.
Como era muito amigo de ajudar, o Jeitoso refugiou-se no jardim das macieiras onde os pássaros, seus amigos de tradição, os tentilhões, os melros, as rolas e as toutinegras cantavam, chilreavam e piavam. Mas lá no alto, lá em cima no céu azul, voavam as águias e os abutres que lhe chamariam um figo e o papariam num instante se o apanhassem. Também no chão, nos campos abertos, os gatos e as raposas e outros que tais, saltar-lhe-iam em cima e era uma vez um Jeitoso…
Assim, instalou-se entre os ramos duma macieira onde aspirava repousadamente o seu perfume e regalava-se com a visão das suas flores brancas e rosadas.
A fada Ísis, naquela hora, também desfrutava do pomar apanhando frutos para dentro dum cesto colocado no chão. Não tardou a enxergar o pombo real, aproximou-se para o afagar e logo viu o bilhetinho na patinha. Leu: - venha com a fada Miriam ao encontro das afilhadas Bimbinela e Pimpinela. A vida dos primos Catrapuz e Alcatruz depende das madrinhas.
Decidiu recolher o pombo até ao anoitecer e contactou de imediato a fada Miriam que também já tinha recolhido o outro pombo mensageiro e combinaram o que fazer e que resposta enviar às afilhadas. Ambas colocaram os bilhetinhos de resposta nas patinhas dos respectivos pombos correio. A resposta era a seguinte: - sim, lá estaremos, antes do anoitecer daqui a cinco dias, à entrada da Gruta das Mariposas, aguardando a chegada do Catrapuz e do Alcatruz.
O Jeitoso, recolhido até ao pôr do sol, logo que a lua apareceu, foi lançado ao ar com voos e pios e logo ouviu os pios do seu grande amigo o Pintado, que iniciava também o voo de regresso.
Passou o tempo e na data e hora combinada, antes de anoitecer, as fadas Miriam e Ìsis viram aproximar-se, escondidos nas asas/orelhas da bruxa, os medrosos Alcatruz e Catrapuz.
À entrada da gruta as asas da bruxa encolheram, transformando-se em naturais orelhas e os rapazes caíram desamparados aos pés das fadas.
-Ai, ai, dói-me as costas, dizia o Alcatruz, ai, ai dói-me o joelho, dizia o Catrapuz.
Levantem-se imediatamente suas avantesmas, sejam príncipes de verdade, disse a fada Ísis que também era madrinha de um dos rapazes, não perceberam que tinham de saltar antes que as orelhas da bruxa encolhessem?
- Não, não, a querida madrinha sabe que nós não ouvimos bem, disse Alcatruz com voz baixinha.
- Calem-se e vamos ao assunto, interrompeu a fada Miriam, entrem, entrem depressa que eu vou tornar-vos invisíveis.
Muito a medo os príncipes entraram e as fadas enfiaram-lhes nas orelhas um liquido pastoso, vermelho e com a varinha mágica disseram ao mesmo tempo: - Plimplão avestruz, catrapim, almoster, perlimpimpim venha quem vier, que não ides ficar visíveis mas sim transparentes, tráscatrapás, já está.
- Ah já oiço bem, e tu Catrapuz? Oiço maravilhosamente disse o irmão, encantado.
- Atenção, disseram as fadas, neste momento estais transparentes, mas não conseguimos tirar os quatro pontos vermelhos correspondentes ao líquido dos vossos ouvidos, por isso esses quatro pontinhos vermelhos, mais um pontinho laranja do cristal que nós espetámos na cabeça do Alcatruz, para ele recuperar a memória, vão estar visíveis. A bruxa não vos vai ver mas vai reparar nos quatro pontos vermelhos e no ponto laranja.
Entrai e ouvi a palavra secreta, ordenaram as fadas.
Os príncipes, mais confiantes, entraram e aproximaram-se da bruxa que estava a regar as plantas carnívoras. Esconderam-se atrás dela, tentando perceber o que ela dizia. Mas de repente a mulher voltou-se e, atraída pelas luzes vermelhas e laranja gritou : - o que é isto?
Os príncipes aterrorizados não se mexiam do lugar, só tremiam e as luzes também tremiam…
- Vou dar-vos com este varapau pássaros intrometidos, disse a bruxa, pois pensava que algumas aves tinham entrado na gruta - e é para já. Os príncipes apressaram-se a rastejar para debaixo de uma vegetação muito densa, enquanto a velha esbaforida dava safanões com o pau para todo o lado. Contudo, ela não conseguiu acertar nos pobres príncipes amedrontados, porque como já era noite estavam transformados em caracóis.
- Já dei cabo deles - disse a bruxa satisfeita, já posso ir fazer o meu trabalho sossegada. Aproximou-se então das plantas carnívoras e disse a palavra mágica.- limpoescalifroso. Logo que esta palavra se ouviu as plantas carnívoras ficaram mansas e deixaram a velha retirar do seu interior a poção mágica, que logo colocou num pote de barro.
Mas, infelicidade das infelicidades, o pote foi colocado precisamente em cima da folhagem onde estavam escondidos os príncipes em forma de caracóis, do que resultou algumas feridas nas suas cascas e corninhos pois eles, para ouvirem bem a frase, tinham os ditos bem saídos e espetados…
A bruxa mal terminou o seu trabalho, agarrou o pote e saiu. As orelhas voltaram a crescer e lá foi ela a voar.
As fadas Isis e Miriam aproximaram-se então, pois também elas estavam escondidas a assistir á cena, e disseram a frase mágica:- limpoescalifrosooooooo tão alto, tão alto, que se ouviu em todo o reino e retiraram das plantas carnívoras, a poção mágica.
Os príncipes gemiam debaixo da folhagem.
As fadas madrinhas trataram de os retirar com muito cuidado e esfregaram a poção Mágica, uniforme e delicadamente em toda a casca dos caracóis, sem esquecer os corninhos…
Então, imediatamente se quebrou o feitiço, os caracóis desapareceram e repentinamente apareceram os belos e esbeltos príncipes.
Mas as fadas ficaram espantadas e assustadas com os ferimentos que apresentavam.
Alcatruz tinha as duas orelhas presas por um fio e Catrapuz o nariz esborrachado…
- Como é que vamos casar, assim com este aspecto? disse Catrapuz
- Como é que nos vamos tratar se as minhas orelhas vão cair, disse choramingando Alcatruz.
- Sim, isto é um problema, pois nós não sabemos tratar deste assunto, somos ainda fadas do segundo grau, responderam as fadas Íris e Miriam. Mas regressemos à corte e logo pensaremos o que vamos fazer, disseram ainda, muito contristadas.
Chamaram então as águias reais e nas suas asas, os quatro, voaram para o castelo.
Voaram sobre montes, vales, rios e ribeiros, ribeirões e riachos, até chegarem ao belo castelo do Rei Furibundo IV, cujos bicudos telhados de ardósia rebrilhavam à luz da lua. A noite estava muito bela, não se via uma única nuvem no céu.
Ao aterrarem no pátio do castelo as fadas despediram-se de Alcatruz e Catrapus, a quem entretanto tinham colocado uns emplastros mágicos, nas várias maleitas.
- Meus queridos príncipes, vamos estudar a melhor forma de vos curarmos. Até lá, mantei-vos afastados do vosso pai, que ainda não sabe que vos livrastes da maldição e seria capaz de tentar alguma manobra menos conducente ao vosso bem-estar e satisfação.
- Mas deixais-nos assim, de nariz esmagado e de orelhas mal sustidas por estes dois emplastros?
- Sim, porque são emplastros mágicos e aguentarão os vossos apêndices no sítio até encontrarmos os filtros de cura específicos para os vossos casos.
- E como explicaremos estas nossas maleitas? - perguntou Alcatruz, sempre o mais atento no que diz respeito aos aspectos de condução da história.
- Dizei que vos magoastes na aula de esgrima.
- E o meu nariz? - perguntou Catrapuz.
- No boxe.
- Ah, tendes resposta para tudo, felizmente - Catrapuz respirou aliviado, e os dois príncipes despediram-se das belas fadas, que subiram para as suas montadas aladas e se ergueram nos ares, cheias de elegância e donaire, como só as fadas e algumas princesas sabem ter.
Aos poucos, começaram a ter a mesma ideia:
- Alcatruz!
- Catrapuz!
- Esta é a primeira noite que passamos enquanto homens!
- Estava a pensar no mesmo!
- Que felicidade!
- Que alegria!
Os dois quase se puseram a dançar, mas lembrando-se das recomendações das fadas, seguiram pé ante pé para os seus quartos e trancaram-se por dentro muito bem aferrolhados até ao raiar do dia.
Contudo, o que eles não podiam saber é que o Rei Furibundo IV, seu pai, por virtude da sua bola mágica de cristal, tinha acompanhado toda a acção em directo e, com uma profunda gargalhada, afastou-se da janela por onde tinha espreitado e visto os príncipes chegar..O que ele não sabia é que o feitiço fora totalmente eliminado.
II - EPISÓDIO
O Rei Furibundo IV tinha um grande problema.
No dia em que os filhos foram à Gruta das Mariposas, sem o seu conhecimento, para desfazer o bruxedo, na higiene da manhã, ao coçar o céu da boca com a escova de dentes, engoliu-a e ela ficou alojada entre as cordas vocais, por isso não podia falar e passava os dias no seu quarto e salão, sem querer ver ninguém.
Devido ao trágico acontecimento da escova enfiada nas goelas reais, ele teria resolvido entregar a regência do reino aos seus filhos, mas o bruxedo da bruxa Ziripela, a mando seu, sendo assim o culpado daquela maldição, já se tinha concretizado. E como poderiam os filhos governar o reino se à noite não eram gente ?
Se os filhos não o substituíssem no governo do reino, teria de o entregar a seu primo Frenesim e isso enfurecia-o.
Assim, mandou procurar a bruxa para desfazer o feitiço, mas não a encontraram.
Para além disso, ele também temia que ela não entendesse a escrita do escriba que traduzira dos seus urros os pedidos de ajuda, que lhe enviara pelo mensageiro.
Desesperado, agarrou-se de novo à sua bola de cristal e depois de uma grande concentração acabou por descobrir que afinal o feitiço tinha sido desfeito.
Agora, como sabia que os filhos tinham conseguido quebrar o feitiço, ficou muito contente, dando gargalhadas, que diga-se a verdade mais pareciam urros de um urso.
Os problemas, no entanto, não tinham acabado, suas altezas reais estavam muito feios e pouco apresentáveis para o reino os ver, cheios de ligaduras, cremes e tintura de iodo.
Numa manhã chamou os príncipes, ao salão real. O Rei apareceu com um escriba que escrevia numa grande ardósia, o que entendia que o Rei tinha dito com os seus urros..
- Príncipes, sei o que vos aconteceu…disse o Rei circunspecto, urrando.
- Mas como, Majestade? perguntaram os jovens príncipes, depois de terem lido o que o criado escreveu no grande quadro negro..
- Não importa como, tendes é que resolver o assunto das vossas feridas, não podeis aparecer ao povo dessa maneira, urrava ainda mais o pai.
- Mas como, Majestade?
-Calai-vos, só dizeis, mas como, mas como, não sabeis dizer mais nada?
Mandei chamar a mestra das fadas de todo o reino, que por seu lado recebeu lições da fada do Universo, ela terá alguma ideia para vos curar.
Arauto mandai entrar a fada Josebela.
Num instante a sala encheu-se de uma luz muito intensa e a fada Josebela apareceu com todo o seu esplendor.
- Dizei senhor, disse a fada muito respeitosa.
- Como é que podereis curar as feridas feitas pela bruxa Ziripela aos meus dois filhos?
- Senhor eu sei toda a história, nada me passa despercebido neste reino, mas estas feridas foram feitas no momento em que os príncipes estavam transformados em caracóis, com o tal pote de barro.
- E depois? disse o Rei muito impaciente.
-São feridas também com bruxedo, por isso eles necessitam de efectuar “Três Proezas Impressionantes” para reunirem “Três Objectos”, que juntos, transformarão os príncipes em belos mancebos como eram então.
-E quais são essas proezas? Perguntou o Rei.
-Perdoai senhor, mas tenho de consultar os meus ancestrais livros e voltarei daqui a dois dias.
A fada saiu, o Rei retirou-se para os aposentos e os príncipes foram ter com as primas Pimpinela e Bimbinela que estavam a conversar com as suas namoradas, as princesas Bindoleca e Bindolica, que eram irmãs gémeas..
Quando as namoradas viram os príncipes naquele estado, ambas gritaram: - Ai que horror, assim não casamos convosco e desataram a fugir.
Os rapazes olharam pela janela e viram as suas noivas entrar na carruagem e partir a toda a velocidade e começaram a chorar. Pimpinela e Bimbinela faziam-lhes festas e consolavam os infelizes rapazes, que com tantas lágrimas, ainda aumentavam mais as suas feridas.
Por fim os príncipes muito chorosos e tristes retiraram-se para os aposentos. O tempo passava, a noite já ia alta, mas a tristeza não os abandonava.
Que triste sorte a nossa, Catrapuz! - disse Alcatruz com voz muito apagada. São desgraças atrás de desgraças. Agora que eu já estava a pensar na nossa lua de mel no palácio dos nossos primos, no reino do Sião, é que nos acontecem estes contratempos todos.
Como vamos convencer as gémeas Bindoleca e Bindolica a continuar o noivado?
Já sei o que vamos fazer - disse Catrapuz cheio de entusiasmo. Vamos falar com o barbeiro do reino para ele nos colar um pouco de pele de tripa de borrego, para disfarçar as feridas. Mas mesmo que o barbeiro tenha sucesso, como vamos evitar que o nosso pai fale aos urros, apesar de eles serem reais…
Ó Alcatruz só vês coisas negativas na nossa vida!
Enquanto animava o irmão, Catrapuz teve uma ideia brilhante para recuperar o amor das noivas:- pedir ao mordomo do palácio para organizar um “chá-das-cinco”, com aqueles bolinhos de sementes que são oferecidos às prometidas para que elas vejam os noivos mais bonitos…
Alcatruz recuperou o ânimo e acreditou que seria possível ter de novo o amor da noiva com os bolinhos milagrosos, tal como tinha acontecido com o tio Feiorolas, que acabou por casar com a tia Dengozina.
Mas Alcatruz continuava a ver nuvens a pairar sobre eles e não resistiu a acinzentar o dia. Está bem Catrapuz vamos acreditar que o chá e os bolinhos dão resultado, mas ainda não deste solução para o nosso pai poder participar: -como vão as nossas noivas aguentar os seus urros?
Claro que o Rei Furibundo IV, que sempre tinha sido um déspota e governado o reino com mão de ferro, nem lhe passando pela cabeça que um dia os filhos seriam adultos, constituiriam família e iriam substituí-lo no governo do reino, estava consciente que não podia continuar aos berros e aos urros.
E não andava nada bem, não só por ter a escova de dentes entalada nas reais goelas, o que para além de constantemente lhe fazer cócegas, também o impedia de falar claramente.
Também andava preocupado pela triste figura com que os seus filhos se apresentavam com os rostos desfigurados e cheios de pensos e ligaduras. E que histórias tinham que ser contadas na Corte, para justificar as mazelas…
Mas o que mais preocupava o Rei era a dificuldades do seu escriba em entender os seus urros. E começava a ficar seriamente preocupado com o que ele escrevia e anunciava depois no palácio e ao reino, pois poderia não ser nada do que ele, o Rei, tinha dito, mas a interpretação que o escriba tinha feito dos seus urros. E isso poderia ter resultados muito funestos, pois até a independência do reino poderia estar em perigo, e o primo Frenesim aparecer a exigir a sua resignação, por estar incapaz de governar, já que da boca só lhe saíam urros e não falas.
É verdade que os filhos tinham voltado a ser homens a tempo inteiro, tinham conseguido, pelos seus meios livrar-se do feitiço que ele próprio lhes tinha arranjado, o que mostrava que não eram totalmente tontos, mas estavam ainda tão feridos e feios aguardando a cura prometida pela fada mestra do reino, a fada Josebela, e tão angustiados pela perda das noivas, que pouco o poderiam ajudar, tanto mais que também não entendiam os seus urros e berros.
Alcratruz com as orelhas apenas presas à cabeça por finíssimas membranas estava horrível. Ele que até era um bonito rapaz estava ridículo com aquelas coisas penduradas de cada lado da cabeça. Valia-lhe os emplastros que lhe tinham colocado para manter as orelhas no sítio próprio, mas para segurá-los tiveram que passar-lhe uma ligadura pela cabeça e pelo queixo, o que lhe dava o aspecto de ter os "queixos apertados" por estar com dores nos dentes… Também a audição era quase nula. Os sons para entrar nos ouvidos tinham que trepar pelas finíssimas membranas e chegavam, ou melhor não chegavam, ao ouvido apenas ruídos grosseiros. Por um lado isso era bom pois deixara de ouvir os urros do pai…
Catrapuz também não estava nada bonito, o nariz esborrachado, parecia uma bolacha que tivesse errado o percurso e em vez de entrar na boca tinha ficado ali presa. Toda a cara não tinha a cor rosada habitual, mas era roxa e negra, com altos e baixos. Claro que aí não fora possível colocar emplastros mas apenas cremes que ainda por cima faziam com que tudo na sua cara brilhasse.
Na verdade não é de espantar que as suas noivas Bindoleca e Bindolica se tivessem assustado e fugido a sete pés, provando mais uma vez que nem sempre o amor resiste a tudo…e procurando noivos mais perfeitos e saudáveis.
O rei acordou um dia ainda mais incomodado e com uma angústia que não conhecia. Chegou a pensar que estava doente e que a culpa era da escova entalada nas goelas e achou que era urgente chamar o médico de serviço ao palácio para tratar do seu caso.
Mas o que ele sentia, sem saber, eram "remorsos" pelo que tinha feito aos filhos e estava "arrependido". Ora naquele reino em que fadas e bruxas vivem em quase sã camaradagem, quando uma faz mal, a outra faz bem e vice versa, não havia espaço para remorsos ou arrependimento, sentimentos esses de quem ninguém ainda tinha ouvido falar. Assim o Rei decidiu, naquele momento, que iria também chamar o grupo de sábios pois queria saber mais do que se passava consigo e se seria bom que o reino passasse a usufruir desses sentimentos.
Entretanto a fada Josebela convocara todas as fadas do reino e em muitas horas de debate tinham chegado a conclusões brilhantes para curar os príncipes.
Os príncipes retiravam-se muitas vezes para os seus aposentos e passavam horas e horas a conversar sobre as suas infelicidades, reviam todas as suas tristezas, e preocupações e choravam por terem um pai tão cruel que os fazia sofrer tanto!..
E concluíam que as noivas Bindoleca e Bendolica não mereciam o seu amor, pois quando os viram desfigurados, fugiram, sem nada fazer para os confortar ou animar
Para quê sofrer mais?
Tinham sido bons estudantes. O Catrapuz era muito bom em humanidades, medicinas, línguas e diplomacias. O Alcatruz dedicara-se mais às economias, ao cultivo das terras, à construção de caminhos, casas, escolas e hospitais.
Queriam os dois tornar as pessoas do reino mais felizes e fazer prosperar as riquezas naturais e o modo de alcançar o conhecimento para atingir maior progresso.
Mas e o pai, o Rei, o senhor absoluto do reino, deixá-los-ia tomar qualquer iniciativa? E sabiam que estavam tão feios que assustavam as pessoas, que se afastavam deles como as próprias noivas tinham feito.
E se fugíssemos, dizia o Alcatruz ? E se fossemos para fora ao encontro de outras pessoas? Já vi nas feiras e nos mercados, gente feia, aleijada mas com ar feliz. E eu já vi muitas famílias com filhos e velhinhos à volta a trabalharem.
Embora Alcatruz, embora Catrapuz, disseram ambos ao mesmo tempo.
Vamos arranjar uma carroça e ala que se faz tarde. Quanto mais depressa melhor. Experimentar não custa e podemos regressar quando nos apetecer.
Assim fizeram, desceram aos pátios interiores e falaram com o rapaz que guiava as carroças que saiam logo pela manhã, ao nascer do sol, para se abastecerem de alimentos para os habitantes do castelo. Eram amigos de brincadeiras desde crianças e pediram-lhe que não contasse nada a ninguém. Queriam dar uma volta para conhecer o reino, disseram-lhe.
Prepararam um saco com roupas simples, botas e sapatos para andar no campo, dois chapéus e dois bonés para resguardo e também para esconder as mazelas do nariz e das orelhas, uns lenços para atar ao pescoço e tapar o nariz, lápis para escrever, folhas de papel, caneta de aparo e frasco com tinta e ainda um farnel para o caminho e dias seguintes.
Procuraram algum dinheiro que tinham amealhado, partiram na carroça com o rapaz que lhes deu algumas instruções na forma de conduzir um cavalo e de o alimentar e mandaram-no de volta depois de substituírem o carro e o cavalo, com parte do dinheiro que levavam.
Resolveram mudar de nome para não serem reconhecidos. Assim, o Catrapuz passou a chamar-se Sabichão e o Alcatruz de Primoroso.
Olhavam com curiosidade os terrenos por onde passavam, analisavam o tipo das pessoas, nem bonitas nem feias, normais e todas andavam nas suas vidas e ocupações . Pela tarde chegaram a uma quinta agrícola, dirigiram-se a homens que lhes pareceram serem feitores, apresentaram-se e ofereceram o seu trabalho.
Iam vestidos com simplicidade e levavam nas cabeças, o Catrapuz um chapéu de grandes abas que lhe encobria o rosto e o Alcatruz, um grande boné que lhe escondia as orelhas.
Trabalharam no campo e aprenderam muito. Tiveram direito a refeições, nunca passaram fome e à noite dormiam num celeiro, em camas feitas de palha.
No fim de um mês de trabalho pagaram-lhes um salário, o que aumentou bastante as suas poucas economias.
O tempo foi-se encarregando de cicatrizar e curar as mazelas do nariz e das orelhas.
Os príncipes não estavam tão lindos como eram quando jovens imberbes e inconscientes, mas tinham muito bom aspecto. Tinham perdido a cor anémico de quando viviam no palácio, agora estavam morenos, queimados do sol e bastante mais robustos e fortes. As dores tinham acabado e não passava de um pesadelo a recordação de à noite virar caracol…
Com os ganhos e como se mostraram pessoas capazes e de confiança conseguiram deixar de dormir no celeiro e como iam dando provas de competência e de mérito no trabalho, foi-lhes concedida uma habitação com cozinha, quartos para dormir com armário para roupas e mais pertences e uma saleta com mesa de refeições e cadeiras que lhes servia também para escrever e ler.
Então resolveram escrever os seus conhecimentos e reflexões num livro, a que deram um nome duplo, pois destinava-se a ser desenvolvido e consultado em dois tomos distintos : -
1 - O Livro da Boa Conduta, que tratava das pessoas, das humanidades, do ler, da música e do gosto pelo saber;
2 - O Livro do Bem Fazer que tratava das pessoas e das coisas e dos meios para alcançar os fins concebidos.
Enquanto o Sabichão (Catrapuz) visitava pessoas doentes e ensinava nas escolas, o Primoroso (Alcatruz) fazia contas, fazia cálculos, ensinava a construir casas e armazéns para guardar e recolher cereais, frutos, e alimentos para os animais. Criou galinheiros ensinou a utilizar cavalos e bois e tudo prosperava com os seus ensinamentos.
Plantaram florestas, desenvolveram as pescas nos rios e toda a gente ia melhorando o seu nível de vida e aprendendo a ensinar e a ajudar outras pessoas.
Não faziam mais que imitar aqueles dois homens bons, cheios de amor e de qualidades e que por isso eram amados e respeitados, sem suspeitarem que esses homens que admiravam eram príncipes, que tinha abandonado o seu reino por terem um pai que era mau e que tinha por aliados bruxas más e os seus feitiços…
Finalmente o Sabichão (Catrapuz) conheceu uma linda e educada jovem de muito boas famílias, filha de um professor de novas medicinas e que o ajudou muito em todos os seus trabalhos e projectos de leis, escolaridade, artes e saúde. Resolveram casar, com muita alegria dos seus familiares e amigos.
O Primoroso (Alcatruz) também tinha encontrado uma companheira ideal em qualidades e beleza, que era filha de um grande e generoso empresário. Como era muito inteligente ajudava-o nas contas e nos cálculos, no escritório onde agora desenvolvia a sua actividade. Resolveram também casar.
Os dois irmãos tinham contado às noivas a história das suas vidas.
Elas compreenderam e aceitaram o seu afastamento da família e prometeram ajudá-los no reencontro e na obtenção do perdão do pai, relativo à sua fuga de casa, mas queriam também ajudá-los a desculpar todo o mal que lhes tinha feito o pai, o Rei Furibundo IV, que continuava no seu reino distante.
Casaram os irmãos no mesmo dia, numa festa que juntou as famílias das noivas e os amigos. Chamavam-se as jovens Graciosa e Preciosa
O pai da Graciosa, o professor de novas medicinas tinha reparado no nariz e nas orelhas dos dois irmãos. Chamou-os e ofereceu-se para lhes corrigir os defeitos, o que eles aceitaram de imediato e muito contentes.
Já nessa altura estavam para nascer os primeiros bebés, dos dois jovens casais. Assim foi quase simultâneo o nascimento duma menina da Graciosa, que teve o nome de Doçura e de um menino de Preciosa, que se chamou Venturoso.
Catrapuz e Alcatruz choraram de alegria por terem sido pais e tiveram saudades do seu próprio pai, o Rei Furibundo IV, de quem nada sabiam.
E não sabiam eles que com a paternidade tinham acabado de realizar a “Terceira Proeza Impressionante” e estavam reunidos os requisitos previstos pela fada Josebela, para que as feridas feitas por acções de bruxa Ziripela, ficassem para sempre curadas e os príncipes voltassem a ser os bonitos e saudáveis.
A “Primeira Proeza” tinha sido a coragem manifestada quando resolveram abandonar o palácio e ir à aventura para fora do reino, onde ninguém os conhecia e com muito trabalho terem adquirido tantos conhecimentos e amigos.
A “Segunda Proeza” tinha sido a escrita dos livros, onde divulgavam e ensinavam tudo o que sabiam e tinham aprendido ao longo dos anos de trabalho e estudo e que muito útil seria para todos os que os lessem.
À noite, os papais, cansados pela emoção dos nascimentos foram descansar e de manhã, quando se viram ao espelho, ficaram muito surpreendidos porque se acharam-se belos e perfeitos, sem sombra de cicatrizes, como eram os príncipes Alcatruz e Catrapuz.
Acontece que, pelo mesmo tempo, quando o Rei Furibundo IV, desesperado com dores na garganta e muitas saudades dos filhos, chorava a bom chorar, de tanto soluçar sentiu que a escova, que tanto o tinha atormentado, se desprendia das suas cordas vocais e com um forte puxão retirou-a finalmente.
Poderão, um dia, reencontrar-se e perdoar-se pai e filhos?
É preciso esperar para ver como procederá este Rei?
Que se teria passado na corte durante a ausência dos filhos?
III - EPISÓDIO E CONCLUSÃO
O Rei Furibundo IV viu-se finalmente livre da escova de dentes entalada na garganta e também de sentimentos maus, porque a ausência dos filhos fizera-o sentir um grande peso na consciência.
Onde estariam eles? Estariam bem?
O Rei desconhecia que a fada Josebela, durante o debate que tinha tido com as outras fadas, chegara à conclusão que o melhor era os príncipes se afastarem do reino, por uns tempos.
Por isso, mandara pensamentos fadescos para dentro dos pontos vermelhos que, a outra fada tinha colocado nas cabeças dos jovens Catrapuz e Alcatruz, na Gruta das Mariposas.
Assim, obrigou-os a partir e correr o mundo, aprendendo o verdadeiro viver em comunidade, com os mesmos problemas e alegrias da gente simples. Eles assim fizeram e até casaram, tiveram filhos e ficaram fortes e belos.
Mas, atenção caros leitores, ficaram belos fora do circulo mágico do palácio, onde o Rei tinha combinado com a bruxa Ziripela, o feitiço.
Claro que caracóis já não voltariam a ser, mas as feridas estavam saradas fora da cerca do palácio. O que aconteceria ao nariz e às orelhas dos pobres rapazes quando voltassem para o real paço?
Essa é que era a questão e eles não tinham pensado nisso quando resolveram regressar ao reino e ao lar paterno. Por isso quando estavam com a carruagem cheia de malas, maletas, malinhas e malões, as mulheres e os filhos, apareceu-lhes a fada Josebela em cima do tetravô do aspirador, a vassoura, e pousando junto deles disse-lhes:
- Meus queridos rapazes, ainda bem que estão bem, recebi uma mensagem dos duendes da floresta que me contaram tudo, mas há um problema.
Qual? Perguntaram os dois príncipes, ao mesmo tempo.
É que vocês ainda não estão verdadeiramente curados e logo que entrarem na cerca do palácio, podem voltar a ficar muito feios. Por isso aqui têm estes bacios de vidro, trazido da Galáxia XP1, que vos resolverá o problema até nós, fadas, quebrarmos totalmente o feitiço.
Mas como falamos? Replicaram eles já muito chorosos.
A fada Josebela, com voz pausada disse:- tendes aqui uma corneta que deveis encostar ao bacio sideral e apitar as vezes que forem precisas, todas as vezes que precisarem de mim. Aqui tendes o livro com o abecedário e os respectivos toques.
Pimpinela e Bimbinela já estão avisadas e vão ajudar-vos. Adeus, adeus e com este aceno de mão de fada, toda a família de Alcatruz e Catrapuz partiu para o palácio, mas agora muito apreensivos.
Os príncipes combinaram então, que seria melhor enviar primeiro para o palácio as mulheres e as crianças, para irem à presença do Rei, a fim de o sensibilizar para desfazer toda a bruxaria que sobre eles estava ainda a recair.
Enquanto aguardavam que a família fosse recebida pelo Rei tornava-se necessário treinar os bacios de vidro sideral, trazidos da Galáxia XP1, bem como ajustar a corneta a esses bacios para poderem comunicar. Porém, a esperança que o Rei se emocionasse com os netos e com a beleza das noras desconcentrou-os bastante e os ensaios não corriam nada bem.
O tempo passava e não recebiam qualquer notícia vinda do palácio que lhes permitisse saber o humor do progenitor e o seu próprio próximo futuro. Entenderam que o melhor seria continuar a tentar aplicar na cara os objetos de recurso não fosse tudo correr mal com o pai, por as fadas estarem a demorar a quebrar o feitiço.
A ansiedade já era muita, os instrumentos galácticos dificilmente utilizáveis, o calor e a fome a tornar a espera insuportável.
O que fazemos Alcatruz? Pergunta o Catrapuz com uma voz de receio e fadiga.
Não vamos desanimar Catrapuz. Somos fortes, temos razões para confiar em nós próprios como o nosso passado recente pode confirmar.
E ganharam um pouco mais de energia para continuar na expectativa. Tinham acabado de se recostar à sombra das paredes da estufa de inverno, no meio do jardim, quando ouviram uns gritinhos de crianças que avançavam em correria, na sua direcção.
Levantaram-se rapidamente e observaram que os filhos, acompanhados pelas respetivas mães e as primas Pimpinela e Bimbinela que os vinham buscar a pedido do Rei.
Então manifestaram ruidosamente tal entusiasmo e alegria que até quase assustaram os filhos que nunca os tinham visto vibrar tão efusivamente. Atiraram para longe os bacios de vidro sideral e as cornetas, abraçaram-se e saltaram de alegria, esquecendo a fome e a fadiga da espera.
As esposas não pareciam comungar de todo aquele entusiasmo o que levou o Catrapuz, o mais pessimista, a indagar o ar receoso que elas apresentavam.
A Graciosa timidamente proferiu poucas mas temíveis palavras:- o Rei disse que fossem à presença dele mas não sabemos se todos os feitiços já vos foram retirados. Enquanto a Graciosa desferia quase uma sentença de morte sobre a cabeça dos príncipes, a Preciosa apanhava os bacios de vidro e as cornetas pois poderiam ainda ser necessários.
Os dois príncipes, agora já homens, não eram mais os imberbes e belos rapazes que tinham abandonado o palácio, anos atrás. Mantinham-se esbeltos e belos, mas eram homens bem musculados, queimados pelo sol e ambos usavam uma barbinha que os tornava ainda mais charmosos. Vestiam e calçavam como todos os homens do reino, os veludos e as sedas dos fatos que usaram no palácio há muito tinham sido substituídos por tecidos de lã e algodão, compatíveis com as suas vidas de trabalho.
Entraram, a medo, no salão onde o pai os aguardava e viram um homem envelhecido, curvado, de barbas e cabelo branco, sem o ar majestoso e austero que eles recordavam.
O Rei também não os teria reconhecido, tanto mais que a sua visão era péssima, mas o seu coração de pai começou a bater mais depressa mal eles entraram e abrindo os braços recebeu-os num único abraço.
Estavam os três tão emocionados que só os risos e os gritinhos das crianças, que tinham entrado atrás deles e que se abraçavam às suas pernas, querendo participar naquele abraço de reconciliação, os despertou. E vieram as esposas e a corte inteira interrompeu os seus afazeres e todos queriam partilhar a alegria do regresso dos príncipes e o ambiente era de festa e felicidade.
E o Rei, chamando o seu fiel mordomo, deu ordens para que fosse feito um jantar de festa e que preparassem os melhores aposentos do palácio para os filhos e respectivas famílias. E queria flores em todas as salas, queria que todos os lustres fossem acesos, que chamassem os músicos e os mágicos para distraírem as crianças.
O Rei estava tão feliz com o regresso dos filhos e famílias, os netinhos e as noras já tinham entrado no seu velho coração e ele queria fazer coisas que nem sabia quais, mas o que ele queria era manter aquele ambiente de alegria e felicidade com a família reunida.
Tendo-se retirado para os seus aposentos para descansar, pois as emoções de alegria e afecto muito o tinham perturbado, já que a elas não estava habituado, o Rei sentou-se e pensou:
- Era urgente, no dia seguinte, mandar buscar a bruxa Ziripela pois não queria mais que qualquer bruxedo assombrasse a vida dos filhos ou de qualquer pessoa do reino. Ziripela teria que reunir todas as bruxas do reino, para discutir e pôr em prática as novas funções que iriam assumir, de acordo com as novas leis que os seus ministros já tinham começado a redigir:
- A fada Josebela, a mestra das fadas de todo o reino, iria ser a coordenadora de toda a fantasia do reino e teria a seu cargo os cursos e as aulas de transformação das bruxas más em fadas boazinhas, cujos únicos objectivos era proteger e ajudar tudo e todos.
- Todos os bruxedos que ainda estivessem em manutenção terminariam compulsivamente, no dia seguinte. O reino teria que ficar limpo e livre para que todos mostrassem sem ajudas ou desajudas o quanto valiam ou não valiam.
E até que o fossem buscar para mudar de roupa para o jantar de festa, o Rei ainda teve tempo para rever parte sua vida passada e arrepender-se de ter sido um soberbo e extravagante governador do reino e sobretudo um pai egoísta. Relembrou o feitiço que pedira à bruxa Ziripela, para impedir que os filhos um dia casassem e o abandonassem e que consistia naquela grande maldade de todas as noites se transformarem em caracóis. E o sofrimento que isso lhes causou ainda hoje lhe pesava na sua cabeça velha e cansada de tanto arrependimento. E lembrou com satisfação como os seus rapazes tinham sabido livrar-se do feitiço. E depois sentiu uma onda de orgulho pela vida de estudo e trabalho que eles tinham tido desde que fugiram do palácio porque, a partir de um certo tempo a sua preocupação com eles era tanta, que mandou que alguns espiões os seguissem e periodicamente lhe enviassem mensagens, dizendo como eles estavam e o que faziam
Agora vivia a grande felicidade de voltar a ter os dois filhos em casa e ainda as suas adoráveis mulheres e os seus encantadores filhotes. O Rei rejubilava, antevia um futuro risonho com os filhos a governar o reino, a aplicar todos os conhecimentos adquiridos enquanto estiveram fora e tudo a crescer, a desenvolver-se e a prosperar.
Enfim, o Rei sonhava um reino grande, desenvolvido, rico, moderno onde todos os habitantes seriam felizes.
Claro que era um sonho fantasioso, em nenhum lugar do mundo isso tinha acontecido e não seria naquele reino de fantasia com bruxas más e fadas boas que isso iria acontecer…
Os nossos Catrapuz e Alcatruz tinham chegado a casa e depois do tempo de alegrias familiares, encontro com o pai e as primas Bimbinela e Pimpinela que tanto estimavam e que também já casadas lhes apresentaram os maridos e os filhotes, pela idade dos seus próprios filhos, sentiam-se felizes e tranquilizados com tanto amor partilhado. Os criados antigos da família que os tinham acompanhado tantos anos, sorriam de prazer e alguns até tinham lágrimas nos olhos.
Descansaram toda a tarde nos seus quartos com as mulheres e os filhos e deram algumas voltas pelas salas e corredores para rever o ambiente que os tinha acompanhado durante a infância e a adolescência. Assistiram ao entusiasmo com que todos trabalhavam na preparação do jantar de família e convidados mais próximos, que seria alegre e íntimo.
O Rei que se retirara para descansar de tantas emoções, dera ordem para comparecerem malabaristas e palhaços para a alegria das crianças. Para os adultos chamaram grupos de dança como a pavana e o saltarelo, mais alegre e bem disposto, para todos os presentes poderem participar.
Contudo o Rei, neste aguardar e reflectir sobre os acontecimentos que se estavam a passar, sentia-se preocupado pelo encontro que iria acontecer, dentro de pouco tempo, no salão real, com a fada Josebela e a bruxa Ziripela.
Entretanto a fada Josebela,`a cautela, fora com algumas fadas voadoras até à Gruta das Mariposas e conhecedora do segredo limpoescalifroso, tornaram mansas as plantas carnívoras e obtiveram do seu interior a poção mágica para esfregar as orelhas dos dois príncipes, antes da reunião no palácio.
No próprio dia do seu regresso, antes de eles entrarem no palácio, esfregaram-lhes bem as orelhas e principalmente naqueles pontos que tinham ficado sob o feitiço, pois a partir deles podiam tornar-se novamente caracóis
Na noite, o salão real apresentava um aspecto majestoso, com o estrado elevado e encimado por um cortinado de veludo escarlate, bem volumoso. As paredes estavam decoradas com tapetes de lã de cores matizadas e o chão forrado com passadeiras de veludo ocre dourado. Os lustres tinham todas as velas acesas e nas lareiras crepitava um fogo moderado e saltitante que aquecia o ambiente.
Sobre o estrado, ao centro, destacava-se o trono real forrado de veludo ocre dourado, com braços de apoio e espaldar alto colocado sobre um grande tapete, onde lateralmente, e um pouco recuadas e afastadas do centro dum lado e do outro, estão poltronas que se destinam aos príncipes e suas mulheres. Perto das extremas sentavam-se, virados para o centro, dum lado os ministros e do outro os sábios e os conselheiros do Rei
Em frente, a seguir a um corredor largo, ficam as filas de cadeiras para as bruxas, do lado esquerdo e para as fadas do lado direito do Rei, com um corredor central bastante largo onde, na parte superior do corredor se instalam a bruxa Ziripela e a fada Josebela para poderem ser ouvidas pela assembleia da corte e por todos os assistentes.
A partir do meio da sala estavam as cadeiras onde se sentariam os responsáveis das várias regiões do reino.
As primeiras personagens a entrar no salão foram as fadas e as bruxas que ocuparam os seus lugares. Em seguida sentaram-se os funcionários regionais.
Todos se vestiam com rigor e os trajos primavam pela qualidade das sedas, dos cetins e dos brocados, das rendas e dos veludos.
Quando a corte entrou simultaneamente, todos se levantaram com respeito para saudar e honrar a família real que agradeceu a cortesia com uma ligeira menção de vénia e ocupou os seus lugares.
O Rei levantou-se e fez sinal que ia falar.
Estava imponente nos trajos brilhantes de muito bom gosto e bom corte e atendendo à solenidade do acto pigarreou um pouco para aclarar a voz. Começou por anunciar a razão deste encontro, da qual já todos tinham sido informados e esclarecidos e convidados a participar.
Afirmou com veemência o desejo de que as novas leis baseadas nas experiências realizadas e os resultados obtidos com uma nova forma de gestão e de procedimentos proporcionada pela actuação dos príncipes durante alguns anos, o levara a decidir, juntamente com os sábios e os seus conselheiros e ministros, a criar modificações que levassem a uma nova ordem de governo.
Anunciou que dava lugar ao seu ministro que iria explicitar e ditar as transformações pretendidas. Haveria uma nova constituição, que seria explicada com pormenores na mudança das leis com o objectivo de atingir harmonia e desenvolvimento para todos.
Quando a bruxa Ziripela ouviu que seria a fada Josebela a dar os cursos e a dirigir os meios para alcançarem a vontade do Rei, ficou brava e furiosa
Sentiu que perderia o primeiro lugar entre os mágicos e as bruxas. Não concordava com trabalhos e cursos.
A missão das bruxas era pesquisar, inventar, transformar, castigar, vingar, como deusas malignas e «às vezes» benignas e nunca trabalhar como os humanos.
.Ameaçava o Rei de não poder continuar a reinar sem ela pois só ela poderia restituir a dignidade aos seus descendentes. Todas as bruxas traziam já decisões e objectivos de vingança.
A fada Josebela tentou convencê-la com serenidade e bom senso. Era necessário que ela reunisse as bruxas e todas se convencessem da bondade da mudança, mas não estavam de acordo
As fadas também tinham tomado as suas disposições e precauções.
Por detrás dos príncipes e do rei estavam fadas junto ao cortinado, no centro e dos lados que zelavam pela segurança do Rei. Todas estavam em posse dos seus poderes de intervenção rápida. Tinham relembrado as palavras dos feitiços mágicos e os meios para os pôr em prática.
Assim, havia algum alarido na sala. As bruxas gesticulavam, perdiam algum controlo e discutiam entre si com esgares e torcidelas de nariz.
Havia grande atenção e silêncio nos convidados e nos outros participantes que olhavam e ouviam com inquietação a discussão que se levantara. Todos, ou quase todos, concordavam com o Rei e com o progresso que se iria sentir no reino. As pessoas valeriam por si próprias com trabalho, inteligência e decisão para o bem saber e o bem fazer.
De repente a bruxa Ziripela levantou-se e todas as bruxas a imitaram.
Do lado das fadas ouviu-se um grito em uníssono e já todas estavam de pé e em acção com as varinhas apontadas. Foi uma fração de segundos de antecipação.
Quando a bruxa Ziripela pronuncia a palavra mágica Limpoescalifroso juntamente com o grito, em sequência, das outras bruxas, o grito mais alto das fadas, com as varinhas erguidas estava no ar com Plimplão, avestruz, catrapim ,almoster, venha quem vier e o feitiço das bruxas não encontrou alvos pois estava a frente toda transparente, não se via ninguém e o cortinado aberto pelas fadas em serviço, mostrava um espelho enorme na grande parede superior da sala.
Os príncipes não tiveram tempo para agarrar os bacios siderais, mas como a fada Josebela lhes tinha esfregado bem as orelhas, o feitiço ao passar por eles apenas tinha atingido os pontos coloridos que não voltariam mais, depois como ficaram transparentes não sofreram dano.
Os raios de luz com a força do feitiço e o embate no espelho retornaram como um “boomerang” na sua direcção inicial provocando estrondo, fumo e transformando-se em raios de luzes fulgurantes quando tocavam na bruxa .Ziripela e nas bruxas más que estavam com ela e, à medida que tocam no espelho iam sempre regressando e rodopiando como faíscas em todas as direcções enchendo o espaço entre a plataforma do corredor e as filas das bruxas más como inúmeros pontos luminosos que ao caírem no chão se transformam em bolinhas brancas longilíneas que saltam pelo chão e rebolam para todo o lado.
Que grande susto e que belo espectáculo!
Depois de se recomporem de alguns fanicos das senhoras e dores no peito nos homens, a curiosidade foi ainda mais forte e com grande perplexidade vieram a perceber que as bolinhas brancas eram casulos de bichos de seda.
Desse acontecimento resultou numa enorme riqueza para o reino, tornando-o, anos mais tarde, o maior produtor de seda natural, daquela região, razão pela qual, pelos anais da história passou a ser conhecido este território como o «Reino da Seda».
Entretanto, as fadas trataram de fechar o cortinado depois de reporem o brilho do espelho e com o feitiço do Plimplão,avestruz,catrapim,almoster,perlimpimpim, venha quem vier, em surdina para não ser ouvido pelos presentes, tornaram visíveis os personagens da corte, que com grande alegria falavam de como a maldade se tornara bondade e de como as bruxas se tinham transformado em bichos de seda, bons e úteis por muitos anos e até Deus querer.
Todos os ovinhos foram recolhidos com muito cuidado e foram criados canteiros à volta do jardim do palácio para plantação de amoreiras e as suas folhas foram alimento para esses bichos que são queridos pelas crianças do mundo inteiro, porque se transformam em borboletas que tecem o casulo da seda e que depois põem muitos ovinhos dos quais nascerão os chamados bichos da seda.
Um ano depois do regresso dos príncipes, ia haver no Palácio uma grande festa.
Os convites foram feitos com muita arte e gosto e enviados a todos os habitantes do reino, quer vivessem longe ou na proximidade do palácio.
Também artistas de todas as qualidades e dedicados a todas as artes foram chamados para abrilhantar a festa.
Não iam faltar malabaristas, palhaços, fantoches, circo com cães, pássaros e outros
animais, jograis, conjuntos musicais para animarem os bailes desde as danças de salão às danças de camponeses
Até havia um teatro para montar no jardim e os seus interpretes para ajudar o povo a sonhar, a chorar ou mesmo a rir. Também iam aparecer personagens para a Pavana e bailarinos para o saltareco. E não iam faltar tocadores de tambores, violas, flautas e gaitas de beiços.
Nos jardins havia danças de roda, que animaram os largos. Todos os convidados dançaram fora e dentro dos salões
As crianças adoraram. Os mais velhos alegraram-se cheios de recordações.
O jantar foi um sucesso, tanto o servido nos salões como o popular servido nos jardins. com vitelos assados em espetos, veados, coelhos e muitos galináceos. Houve pão com fartura e vinhos diversos. Os doces foram confecionados por muitas famílias e oferecidos como partilha e amor pelas óptimas cozinheiras de serviço.
Nas salas de refeições e nos salões de festa do castelo os festejos foram opíparos, com travessas de manjares passando por todos os lados, vinhos primorosos e generosos, doçaria requintada. As danças no salão foram soberbas e de grande beleza. O saltareco levou muitos convidados a levantarem-se das mesas para participar com muito entusiasmo e alegria para todos
Fora e dentro do castelo os festejos foram grandes. As fadas boas e as bruxas agora também boas, os mágicos inteligentes e criativos e até os alquimistas que se empenhavam em descobrir plantas e medicamentos para melhorar a saúde de todos, estavam alegres e divertidos e mostravam as suas habilidades em actuações bondosas e úteis ao povo.
Todos repartiam o que tinham ou sabiam e a alegria espelhava-se em todos os rostos.
Naquele reino não havia mais medo nem maldade.
O velho Rei Furibundo IV, tinha aprendido à custa de muito sofrimento o valor da verdade, da sinceridade, do respeito pelas qualidades ou defeitos dos homens e procurava que agora no seu reino a todos os homens fosse reconhecido o seu valor. Todos trabalhavam, muitos na produção da seda, e os príncipes eram sempre os primeiros em todas as tarefas, trabalhos e iniciativas.
E sendo tão feliz na companhia dos filhos e das suas famílias o velho Rei arrependia-se de ter sido tão mau e egoísta não querendo que os filhos constituíssem família para não o abandonarem.
Falavam muitas vezes nisso e os príncipes há muito o tranquilizaram, pois não guardavam qualquer rancor desse tempo. Até achavam que se não tivessem abandonado o reino e as comodidades do palácio não teriam conhecido o mundo, não teriam sido tão felizes e não estariam tão empenhados em fazer o seu povo próspero, saudável e feliz.
Sobre os jardins e o castelo, no auge da festa, passaram bandos de aves migratórias que foram avistados por muita gente..Então todos acenaram e gritaram, para que os pássaros levassem para os países que iriam sobrevoar, a mensagem de um povo feliz:
Viva o rei Furibundo IV
Vivam os príncipes Catrapuz e Alcatruz
Vivam as princesas Preciosa e Graciosa .
Viva o Povo.
Viva o reino da seda
FIM
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