quinta-feira, 22 de abril de 2010

GABRIELA - Romance curto em capítulos - 3ª. parte

No dia seguinte, Gabriela levantou-se jovial, tomou um banho demorado, maquilhou-se com cuidado e penteou a cabeleira loira, que com os caracóis ficava com um volume considerável. No comboio mirou-se no vidro da janela e gostou do que viu. Percebeu que à sua volta alguns olhares masculinos recaíam sobre ela. Ouro sobre azul. Nunca se tinha sentido assim. Agora era necessário ter o cabelo sempre em ordem e tratar das roupas. Tinha de estar na moda. Mais casual em certas ocasiões como agora se dizia e mais sofisticada noutras. Precisava de um aconselhamento. Logo que saiu no Cais do Sodré colocou uma carta no marco do correio para tentar a sua sorte no programa televisivo, Charme e Estilo. Ela ainda iria longe, talvez enveredasse pelo mundo da moda, quem sabe, estava farta de ser relações públicas apesar de ter êxito no trabalho e um bom ordenado, mas aquelas colegas não lhe agradavam, ela queria outra coisa mais chic. Ser relações públicas de uma empresa de pneus mesmo a nível internacional era diferente do que ser relações públicas de uma firma de alta costura. Dos Manéis, por exemplo, ai como era bom estar no meio do glamour e do bom gosto. E ela que tinha tirado um curso de línguas ainda por cima, tinha todas as condições.
Parou no café do costume e pediu uma meia torrada em vez de uma e adoçante para o galão. Também tinha de ter em conta a elegância. Queria chegar ao nº 38. Tinha que ter força de vontade. O 42 que vestia era demais. «Está muito bonita menina Gabriela, parece uma artista de cinema», disseram com ar trocista as pequenas que serviam ao balcão. Obrigada, respondeu secamente, parvas, ainda vão ficar mais espantadas quando me virem daqui a uns tempos, pensou baixinho enquanto acabava de beber o galão escuro. Gostava do galão escuro para arrebitar de manhã.
Ao entrar encontrou o chefe, o Dr. Alberto Martins, desculpe mas você é a Gabriela, não é verdade? Sou sim Sr. Dr., não me diga que estou assim tão diferente? Claro que está, nem parece a mesma, você está uma Marilyn Monroe, Gabriela, sim senhor, que grande mudança. Tenho até medo que as pessoas olhem mais para si do que para o catálogo dos pneus, disse sorrindo. -Ora Sr. Dr. está a fazer pouco de mim. «olhe que não, Gabriela, olhe que não» disse ainda sorridente o seu chefe, fechando a porta.
Gabriela sentou-se na secretária e o telefone tocou, era a mãe a queixar-se de que ela nunca mais lá tinha aparecido em casa e pressionou-a para ir lá almoçar nesse dia , os pais faziam anos de casados e ela nem se tinha lembrado. «Tenho cozido à portuguesa, tu gostas muito desta comida, filha» - Nem pense mãe, eu comecei a fazer dieta, - então eu faço um peixe grelhado, mas vem filha, o pai ia ficar contente.
Ia, ia, assim que me vir loira dá-lhe um baque e a minha mãe, idem. Necessito coragem para esta visita, hoje não devia ter saído de casa, já me estragaram o dia.
E a loira Gabriela ficou nostálgica.

1 comentário:

Anónimo disse...

E é melhor não sair porque hoje há greve dos comboios :)

Continua, que estou a gostar!!

Cereja