Gabriela não era loira, mas era loira. De nascença o seu cabelo era negro de azeviche e farto muito farto. Como tinha nascido muito franzina e com uma grande cabeleira, as tias solteironas, irmãs do pai cochichavam uma com a outra: parece uma macaquinha, não acha mana?
Talvez o seu cabelo negro e farto a tivesse traumatizado, as histórias que a mãe amorosamente lhe contava todas as noites eram de princesas, loiras, muito loiras de olhos azuis e quando aparecia uma morena ela era sempre escrava ou pagã. Gabriela sonhava ser loira, mas só conseguiu que o seu desejo se concretizasse quando se tornou independente e foi morar sozinha, para os lados da Alta de Lisboa, devido ao êxito que estava a ter como relações públicas de uma empresa internacional. Nessa empresa todas as funcionárias eram loiras e Gabriela meteu as mãos à obra. Um dia à hora do almoço foi a um salão na Avenida da Liberdade e disse ao cabeleireiro, também ele loiro de cara afiada - olhe Maurice, eu quero ser loira muito loira e com caracóis para durar mais. Quando saiu de lá passadas quatro horas, era uma mulher diferente, igual ás colegas da firma e este pensamento fê-la sorrir entusiasmada enquanto bebia um café numa das pastelarias da Alexandre Herculano.
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