domingo, 4 de abril de 2010

Viagem à República Checa - 1ª. parte - Chegada e 2º. dia

























Temos de estar no aeroporto às 04 da madrugada, o avião está cheio, dizia-me com voz aflita o João António, grande organizador destas viagens com nota 100. Lá me levantei às três e lá fomos. No aeroporto os vinte participantes estavam todos com um ar de sono, mas felizes por mais esta viagem que se revelou excepcional. O leste europeu tem sido uma surpresa em termos de património.
Chegámos a Munique e apanhámos o voo para Praga onde chegámos ao aeroporto Ruzyne. A nossa guia uma checa de uns sessenta e tal anos, alta que nem uma torre, falava um espanhol com sotaque checo, mas revelou-se durante a viagem uma mulher de grande cultura e eficácia, organizada, conhecedora de tudo do seu país, que nos levou a sítios excepcionais. Comigo foi incansável, arranjou-me em todos os restaurantes do primeiro ao último dia, dieta sem sal, peixe cozido ou grelhado acompanhado de legumes cozidos ou crus. Ivana foi uma simpatia, apesar de ser uma mulher contida à maneira eslava.
Chegados a Praga fomos almoçar a um restaurante local e depois para o hotel Coríntia, um hotel de cinco estrelas, supinpa. Depois de alojados realizámos uma vista panorâmica pela cidade, passando pela praça Wenscelau até à margem do rio Vlatva onde apanhámos um barco que andou por este rio, onde jantámos e vimos os monumentos iluminados. Reparámos logo que era uma cidade grandiosa. No barco um checo tocava música variada para turistas e eu pedi à empregada que tocasse música checa, ele praguejou um bocado, mas lá tocou. Nessa altura telefonei à Mané e disse-lhe que um dos pianos de Mozart também cá estava em Praga, porque ele viveu uns tempos numa casa a compor o D. Giovanni, porque tinha saído entristecido de Viena com o fracasso das Bodas de Figaro, pois a nobreza não gostou das críticas que estavam implícitas na obra. Como a Mané é uma Mozartiana ao mais alto nível quis dar-lhe esta notícia em primeira mão.
Quero dizer que nesta viagem fiquei careca de tanto rir , pois encontrei umas compinchas fundamentais para a gargalhada: Paula e Mina.
No segundo dia partimos de Praga onde voltaríamos no final da viagem e fomos para Kutná Hora.
Fiquei especada com tanto esplendor a Igreja de Santa Bárbara e a catedral de Nossa senhora de Sedlec, na aldeia de Sedlec: foram construídas à custa da exploração das minas de prata e no século XIV tornou-se uma cidade real. Enquanto a primeira igreja foi construída ao gosto do gótico tardio, a segunda foi restaurada toda em decoração barroca e esta decoração de alguma maneira influenciou as igrejas da Europa Central. Kutná Hora é a cidade medieval da prata com as suas maravilhosas residências e esta cidade foi a segunda mais importante do reino da Boémia e isso vê-se nos edifícios- Nós olhamos a cidade e vemos as várias residências que foram sendo construídas através dos séculos, góticas, renascentistas, barrocas e todas elas chegaram aos nossos dias.
A catedral de Sedlec cisterciense é enorme em largura, altura e comprimento, uma das maiores construções da Boémia, despojada de decoração devido ao rigor da ordem de Cister. Fundado em 1142, cultivaram as terras envolventes, tal como os nossos monges cistercienses de Alcobaça. Depois vimos uma excelente capela dos ossos, que a Nossa de S. Francisco em Évora é um bébé de berço ao pé das decorações que esta tinha. Assim como o candelabro de tampões da Joana de Vasconcelos comparado com este. Esta capela foi construída para armazenar os ossos, pois tinha havido uma grande mortandade e o cemitério já não comportava tantos ossos e um frade lembrou-se de decorar a pequena capela com ossinhos e crânios, tíbias e outros que tal. No século XIX terminaram as decorações. E a catedral com os frescos dos mineiros é um mimo.
Depois de almoçarmos fomos visitar Zdar nad Sázavou ao santuário de S. João Nepomuceno, na Morávia dos princípios do século XVIII. Uma igreja com planta em forma de estrela é uma obra invulgar situada entre o Neo gótico e o barroco. Esta localidade onde se situa o santuário (com imensas dependências para peregrinos) está situada na fronteira entre a Boémia e a Morávia. Este pobre santo foi mandado matar pelo Wenceslau IV (filho de carlos IV) que queria que ele lhe contasse os segredos da confissão da rainha, pois S. João Nepomuceno era o confessor dela. Como ele não contou, foi-lhe cortada a língua que simbólicamente aparece representada na cúpula e mandou que o atirassem da Ponte de Carlos em Praga, para o rio Vlatva. Após três séculos, o túmulo foi aberto e a língua lá estava, mas os cientistas demonstraram que afinal não era a língua, mas uma parte do cérebro com sangue coagulado. Língua ou cérebro o que e certo é que durou muito tempo, mas a lenda da língua continua.
A guia disse-nos que a república checa era a mais ateia do mundo devido à recatolização que foi muito dura que depois vos contarei. Durante o período comunista as igrejas serviram como armazéns e celeiros, mas hoje depois da queda do muro estão recuperadas e lindas e servem para o turismo e para os poucos fiéis que existem na república, cerca de 10% de católicos, 7% de protestantes e 3% de judeus.
Esta igreja que visitámos é uma estrela de cinco pontas e o nº. 5 é místico e esotérico, devo dizer-lhes que é o meu número preferido. A igreja tem 5 altares, 5 portas, 25 capelas, 5 estrelas e cinco anjos no altar mor, o 5 não só representa as 5 chagas de Cristo, mas também as 5 letras da palavra Talui que em Latim significa «fico calado». Terminadas as visitas fomos para Brno situada a 60 Km. Fomos para outro excelente hotel e jantámos descansadamente.
O reino da Boémia que hoje faz parte deste país, atravessou graves crises religiosas, como as guerras Hussitas no século XV, por causa de Huss, crítico da igreja católica que foi considerado herege e foi queimado na fogueira, ele disse antes de morrer que passado um século viria um outro que faria o mesmo que ele e assim foi, na Alemanha apareceu Martinho Lutero, esta morte de Huss descontentou muito a nobreza da Boémia e da Morávia e deu origem às guerras husssitas, mais tarde no século XVII deu-se a guerra dos trinta anos, entre católicos e protestantes.



1 comentário:

Anónimo disse...

Retive no ouvido aquele acordeão entoando música checa, durante a travessia contemplavas do rio um
panorama fabuloso e, ainda a noticia que o meu Wolfgang tinha por lá deixado um piano em que deixara como em tudo marcas da sua genialidade.
Mais uma deliciosa reportagem a que já nos habituaste.

Que fôlego, que pernas !


Jinhos
Mané