terça-feira, 29 de abril de 2008

O BOATO - 1ª Cena cómica/trágica da sociedade em geral

Armando Dominguez Gargarito era um homem dito 'porreiro'. Uma espécie que, habitualmente, é vista pelos vizinhos e colegas de trabalho como uma boa pessoa. Naquele dia, Gargarito estava constipado, mas sem febre. Tinha uma tosse seca que o irritava, porque as securas que lhe assaltavam a garganta faziam com que, ao sair do prédio, os vizinhos assomassem à janela e dissessem: Senhor Gargarito, está doente?Gargarito detestava que lhe falassem pela janela. Obrigado, Dona Alzira. Vou indo bem, isto não é nada. Mal sabia a dona Alzira do olhar nauseado dos olhos através dos óculos de Gargarito. Estupor de mulher, não terá meias para coser? E esta faceta de Mr Hide só ele a conhecia. Parou à porta da leitaria da esquina, mas nesse dia não entrou. Estava farto de dar explicações sobre a sua tosse, e foi tomar, pela primeira vez, o pequeno-almoço à Suíça, para depois descer a pé até ao escritório na Praça da Figueira. O Rossio estava cheio de pombos que mergulhavam o bico na água das duas fontes e Gargarito pensou com os seus botões: Se eu fosse Presidente da Câmara, mandava exterminar estes bichos. Que praga! Já me cagaram o carro todo. Entrou no escritório e prepara o largo sorriso no elevador. Ao entrar encontra o Matos que lhe dá uma grande palmada nas costas, o que lhe provoca um grande ataque de tosse. Eh pá, desculpa! Não sabia que estavas assim tão desequilibrado!Gargarito sorri, espetando as unhas na palma da mão, e diz: Oh meu amigo, não é nada, isto está quase a passar. Foi uma corrente de ar quando estava na casa-de-banho. Precisas é de arranjar gaja - disse rindo alarvemente o Matos com grandes baforadas de cigarro, provocando novo ataque de tosse em Gargarito, levando-o quase ao engasgão sufocante.

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