Ontem eu e a minha amiga Mané marcámos encontro na Bertrand do Chiado. Chovia a potes e lá dentro da livraria o cheiro a livros era tentador, apetecia passar uma tarde a passear por aquelas salas mas tinhamos planos e por isso saímos a correr. A mim valeu-me uma bela capa da Timberland que é muito prática principalmente nas viagens, pois além de ser bonita é impermeavel, dobra-se toda e encerra-se num saquinho que faz parte da mesma gabardine, enfim progresso.
Fomos comer a um restaurante que recomendo «O Oriente», na Rua Ivens, comida variada e vegetariana, come-se as vezes que se quiser e o buffet é muito bem confeccionado. Conversámos imenso sobre as nossas vidas e em seguida fui ver finalmente o Museu do Design, no antigo BNU.
A primeira exposição proveniente da colecção Francisco Capelo, tem peças de design muito boas, o espaço é grande e aguentam estar em cima de paletes, que são os suportes que eles arranjaram, pintados de branco, mas os trajes de moda não me parecem nada adequados estarem misturados com objectos e mobiliário de design, porquê??? Um objecto de design é para ser repetido industrialmente e servir o quotidiano e por isso ser mais barato, mas um vestido de alta costura é uma peça única, porquê juntá-los, mas mesmo assim foi a exposição de que eu gostei mais, apesar das cortinas de casa de banho onde os filmes eram projectados.
No segundo andar eu chamaria, não uma exposição de design, mas sim uma exposição de suportes, os suportes são enormes, a sala está atravancada dos mesmos e as peças perdem-se naquelas imensas tábuas de madeira forradas de pelo branco e alguns dos móveis estavam metidos dentro de umas também enormes «barracas de praia de acrílico às riscas foscas e brancas», absorvendo o espaço expositivo de uma forma que eu diria de «armazém das encomendas que chegam por barco», e as peças perdem-se lá dentro e eu não gostei nada, nem mesmo dos manequins nús em várias posições, nem percebo a mensagem. É uma exposição pretenciosa e má tecnicamente e esteticamente.
O 3º andar foi para mim uma revelação, nós que vemos na TV ou no corpo dos manequins os fatos ou mesmo nas lojas, ali com luzes e expostos com respiração pois eram observados um a um, a produção dos Manéis Alves/Gonçalves aclamados e exaltados, para mim revelaram uma má execução de bradar aos céus: bainhas pingonas, ombros e golas descaidas, cotas de malha com arrebiques em lata, e a luz revelava a fraqueza da execução e do próprio traje, não sei porquê perderam a graça, em seguida como fui à aula de desenho, falei com várias pessoas sobre isto e a minha admiração é que todas elas repararam no mesmo que eu: tecidos que de maneira nenhuma eram nobres, alguma má execução e uma beleza que só é evidente quando tem excessos de produção, o corpo, os adereços, as luzes semi - ocultas, a passarela, o estar longe das pessoas, etc. Mesmo o fato do Galiano que se vê no 1º andar e do Dior, um fato de saia e casaco pied de poule, têm que se lhe diga.
Fiquei mesmo com a ideia de que a moda é uma grande encenação e com ela ganha-se balúrdios e custa balúrdios. Que injustiça para outras profissões que salvam vidas humanas. Raros são os que têm palácios e castelos como o Valentino e outros da mesma arte??
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